CAPÍTULO 73: TUDO EM CHAMAS

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Fui correndo direto para a porta de entrada do internato, felizmente essa porta não estava trancada, assim que entrei já percebi a fumaça que se alastrava no ar e o calor do fogo que vinha da cozinha dali. O fogo ainda não tinha chegado aos dormitórios que era bem ali na frente.

Ela tinha que estar bem, não podia deixar que nada acontecesse com ela. Se ela não estivesse nos quartos, deveria estar na cozinha.

— Mary? Cadê você? — gritei tentando ver se conseguiu ouvir a voz dela.

Houve silêncio e de repente escutei uma voz distinta e fraca.

Não conseguia entender de que lado vinha, a fumaça fazia meus olhos arderem e eu tive dificuldade em entender de que lado vinha a voz.

— Mary?

— Mhy... Mhylla me ajuda. Eu... Eu fiquei presa.

Consegui perceber que a voz dela vinha da cozinha. Corri até lá desesperada, mas quando cheguei perto vi que havia madeira impossibilitando a entrada, ele tinha caído do teto e a entrada estava toda tomada pelo fogo.

— Mary... A... A entrada está...

— Mhylla me ajuda... Estou com medo.

Eu não sabia se ela estava chorando ou se era por causa da fumaça, mas ela parecia hesitante. Ela precisava aguentar.

— Eu... Eu não sei o que fazer.

— A porta não abre, está trancada, me ajuda. — Ela gritou

Eu olhei em volta procurando por algo enquanto tampava o meu rosto para não inalar a fumaça.

— Você sabe onde tem um extintor?

Não ajudaria com todo o fogo, mas poderia ajudar pelo menos na porta para que eu a abrisse e tirasse a Mary dali.

— Na... Na sala ao lado da diretora. Vai precisar da chave. — Ela parou — Tem as da diretora que também fica na sala dela.

Olhei em volta tentando achar a sala, o fogo estava tomando conta dali e precisava andar rápido, pois já não estava conseguindo respirar direito por causa da fumaça. Vi uma porta, logo ao lado que estava quebrada, por causa da madeira. Entrei e procurei o extintor, ali também estava todo consumido pelo fogo, assim que achei já vi que as chaves estavam em um quadro na parede, era um molho de chaves devia ter de todos os lugares do internato. Usei o extintor para apagar o fogo que estava na porta e tentei destrancar com uma das chaves. Obviamente não abriu.

— Mary?! Qual dessas é a chave certa?

— Eu não... Não sei, deve ser a maior. — Ela falou e em seguida escutei um grito.

— Mary? — chamei mais não houve resposta. — Não... — peguei a chave maior que tinha e abri a porta.

Não dava para ver nada na cozinha, eu já tinha começado a tossir porque já tinha inalado fumaça demais e a dali era bem pior e já estava em toda parte, assim como o fogo que tinha destruído a cozinha. Pisquei tentando achar a Mary.

— Mary, cadê você?

— Estou... Aqui — Disse ela com a voz já fraca.

Tinha caído outra madeira e dessa vez atingiu a perna dela, corri e tentei ajuda-la a tirar dali, ao mesmo tempo em que mais parte do teto começava a cair.

— Temos que sair daqui. — Eu falei.

— Não quero morrer aqui. — Disse ela desesperada, quase chorando.

— Não vamos. — Eu tentei a confortar. Se dependesse de mim, ela iria ficar bem.

Tirei a madeira dali, estava impossível respirar e o calor estava insuportável. A ajudei-a a se levantar e ela correu até a porta, acabei ficando para trás, pois não conseguia respirar, tinha começado a tossir e não conseguia encontrar mais força. Outra parte do teto desabou e uma madeira caiu atingindo a minha perna. Eu gritei.

— Mhylla vem. — Disse ela

Eu não iria conseguir, não conseguiria tirar aquilo dali a tempo. O fogo já tinha tomado conta praticamente de quase toda a cozinha e ela poderia explodir a qualquer momento.

—Não chega pra cá, Mary. Vo... Você tem que ir. — Falei

Ela me olhou indignada.

— Não vou te deixar aqui, acabou de salvar a minha vida. — Ele fechou a cara mantendo o olhar no meu.

Ela deu um passo a frente, mas eu fui mais rápida.

—Não! —disse — Não vai dar tempo de me ajudar, você tem que ir.

— Não, eu me recuso. — Ela bateu o pé no chão.

Se não fosse pela situação, poderia jurar que ela até cruzaria o braço. Seu olhar se alternava entre mim, minha perna, e a porta. Sabia que se dependesse dela, ela não sairia dali sem mim.

— Eu não salvei sua vida pra morrer aqui. Agora sai daqui. — Eu disse tentando ignorar a dor que me consumia.

O pedaço de madeira que tinha caído não estava pegando fogo, então não deixaria hematomas ou marcas, mas mesmo assim, ainda era pesado e meu braço fraturado não me ajudaria em nada.

— Mas...

— Vai. — Gritei e ela hesitou na porta antes de ir.

— Vou buscar ajuda. — Disse ela saindo correndo.

Eu tentei tirar aquilo de cima da minha perna, mas estava muito pesado e a respiração já não estava mais como antes. E com isso não consegui pensar em outra coisa senão naquela maldita maldição daquela cidade. Então era isso? Eu iria realmente morrer por ter saído de lá? Então era assim que aconteceria com as pessoas que tentassem? Sempre morriam no final? E a minha família? O Alam? E... O Neythan? Não... Não podia ser assim. Eu empurrei com toda a força que ainda tinha e consegui tirar, mas com isso já não conseguia mais respirar e toda a minha visão ficou embaralhada, a ultima coisa que vi foi alguma coisa branca e alguém chamar meu nome.


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