CAPÍTULO 54: CORRIDA [PARTE I]

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— Está chorando.

Eu realmente queria conversar com ele, queria abraçá-lo e dizer tudo o que tinha acontecido, queria o apoio dele, mas eu tinha provocado tudo aquilo, eu tinha terminado com ele.

— É... O Alam, ele... ele... — Eu não conseguia fazer isso, ou no caso dizer — Eu tenho que ir, desculpa.

— Mhylla?! — Ele chamou, ainda me olhando. Ele parecia estar confuso.

— Desculpa Neythan. Tenho que ir.

Sai dali logo, ver o Neythan não facilitava nada. Eu estava fazendo tudo errado, eu não devia estar com o Alexander, não que eu estivesse realmente com ele.

Tentei concertar a situação mais tinha piorado e agora precisava reorganizar. De certo modo gostava do Alexander, tinha certa atração por ele, e ele fez tudo aquilo para me ajudar, mas quem eu realmente amo é o Neythan. Não adiantava negar isso. Cada beijo, cada toque cada momento junto a ele, me fazia sentir bem.

Precisava me desculpar e parar de tentar fingir que estava tudo bem, só que faria isso depois.

Na escola, fiquei as aulas todas, distraída, não estava com cabeça para ficar naquele ambiente, minha mente só vagava entre o Alam e a expressão de terror no rosto da minha mãe, mesmo que eu tentasse, — o que fiz varias vezes e em todas falhou — não conseguiria concentrar a atenção para as aulas e o que os professores estavam ensinando.

Voltei para casa só à tarde, eu estava inconscientemente tentando evitar aquela conversa com a minha mãe, eu sabia o que ela iria dizer e também sabia que não gostaria de nada daquilo.

Parei bruscamente encarando a pessoa que estava parada na porta de casa.

— Bom ver você de novo.

— Sinto muito não poder dizer o mesmo.

O Lionel observou-me de cima a baixo, ele estava encostado na moto dele. Quando se falava em bad-boy ou alguma coisa do tipo com toda certeza ele se encaixava em todos eles. Seu olhar era firme, e o sorriso irônico dificilmente saia do rosto dele.

— Quer dar uma volta?

O que? Não!

— Não.

Ele cruzou um dos braços sem desviar o olhar.

— Tem certeza? Parece um pouco... Mal.

Cruzei os braços para demonstrar uma posição firme, mas estava estampado na minha cara que era mentira.

— Impressão sua.

— Só quero ajudar. Que tal aliviar a tensão um pouco? Posso distrair você em poucos segundos.

Eu não sabia se aquela frase tinha duplo sentido ou não, mas eu não era idiota de cair nessa. Não conhecia o Lionel tão bem, mas pelo pouco que conhecia dele, já ficava claro que não queria saber mais nada.

— Está perdendo seu tempo se acha que vou cair na sua.

— Não pense coisas sobre mim, hoje estou em missão de paz.

Ele abriu os braços levantando-os fazendo sinal de quem se rendia.

— Duvido.

Ele arqueou uma sobrancelha.

— Que tal uma volta de moto?

— Melhor não. — Disse eu na intenção de entrar em casa, só que... Não sabia se queria mesmo ficar em casa.

— Tem certeza? — Insistiu ele — Posso apostar o que quiser que vai se divertir.

— Me diz uma coisa, é assim que desencaminha as garotas com quem você sai? Com esse papo de se divertir?

Ele sorriu quando disse isso.

— Não pretendo desencaminhar você, outras coisas... Digamos assim.

Eu fiquei em silêncio, ele achava mesmo que eu iria cair naquela? Aquele papo não funcionava comigo, eu não estava interessada no teatrinho dele.

— Esquece. — Falei

— Ultima tentativa. Não quer sentir a adrenalina?

— Adrenalina? — Perguntei arqueando uma sobrancelha.

Não sabia o porquê, mas alguma coisa naquela conversa me chamou a atenção.

— Só vai poder saber se vier comigo.

Não resisti. Eu simplesmente era muito curiosa, deixei minha mochila em casa e voltei. Ele me ofereceu o capacete e fui com ele. Não podia dizer que estava confortável aquela situação, mas não estava nem ai. Sabia das intenções dele e não iria cair nessa, como ele disse, eu só queria sentir a adrenalina, eu só queria esquecer por um tempo de tudo aquilo.

Uma parte do meu coração doía, na verdade todo ele, a parte que achava que o Alam tinha morrido a parte que terminou com o Neythan, toda aquela parte que fazia meu cérebro explodir deixando-me extremamente confusa.

Tudo o que eu queria, era só me distrair, pelo menos por um minuto.

Subi na moto e ao contrário do que ele provavelmente deveria estar pensando, não me segurei nele.

Algum tempo depois vi o canário mudando drasticamente, de um lugar calmo e pouco movimentado para um lugar cheio de pessoas de todos os tipos e varias motos alinhadas. Havia muita gente ali e devia ter pessoas até da escola. A maioria estava de preto, com jaquetas e botas, tatuagens. Alguns estavam rindo e brincando enquanto outros pareceriam ser mais sérios e bravos.

— Ah, Lionel você veio? Achei que fosse perder a corrida. — Disse um cara estranho que estava abraçado com uma garota

— Como é que é? — perguntei encarando-o.

— Quando disse adrenalina, o que pensou que eu quis dizer? — perguntou ele sorrindo novamente.

— Não! Não... Não. Eu não vou fazer isso. — Eu disse descendo e tirando o capacete — Isso é perigoso, arriscado, isso pode acabar machucando alguém. Minha mãe vai me matar.

Eu estava assustada, mas no fundo eu já sabia que era isso. Só que quando pensei em adrenalina, não imaginaria que iria participar de uma corrida clandestina de motos.

— É filhinha da mamãe? — perguntou a garota beijando o cara e me olhando como se eu fosse a pior patricinha da face da terra.

Eu não era. Não mesmo

— Como é que é? — perguntei incrédula.

Ela sorriu, enquanto passava a língua pelos lábios e estourava uma bolha do chiclete que estava mascando.

— Isso mesmo que escutou. Está com medo de sair machucada? Só pode ser patricinha e filhinha da mamãe mesmo. — Ela voltou o olhar para o Lionel — Onde arrumou essa garota, Lionel?

Eu estava olhando-a, incrédula, eu não iria aceitar que ela me chamasse de patricinha e filhinha da mamãe, eu não era. Poderia até ser meio covarde e medrosa no quesito sobre as corridas, mas aquilo não.

— Não tenho medo de me machucar. — Disse eu encarando-a

Ela arqueou uma sobrancelha mantendo o olhar no meu, era um sinal de desafio. Eu sabia.

— Eu aposto que não tem coragem.

— Está apostando contra mim? — Não! Eu não iria me meter em confusão. Eu nunca tinha brigado com alguém e esse não seria o momento que faria isso. Quer dizer, no modo discussão já. Já que não dava para evitar a Ambre. E agora ela? Não! De jeito nenhum iria deixar ela me chamar de patricinha e filhinha da mamãe e me desafiar.

— Ah! Você acha? Então vai ver o contrário. — Eu coloquei o capacete de novo e voltei a sentar na moto.

Ela sorriu estourando novamente a bolha de chiclete.

— Eu não achava que tinha espírito competitivo. — Disse o Lionel — É melhor se segurar.


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