CAPÍTULO 12: HISTÓRIA DA CIDADE DE NUVIA

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— Eu já disse...

Ela estava com uma expressão atordoada, eu sabia que ela sabia, que eu não tinha simplesmente caído e provocado um machucado daquele, era praticamente impossível.

Ela não disse mais nada, com certeza a primeira coisa que passaria na cabeça dela não seria uma gárgula, ou um tipo de animal assim, mas ela não estava tão convencida, ela se virou meio alienada e saiu do quarto. Eu me arrumei colocando uma blusa segunda pele preta, para tampar aqueles arranhões e depois coloquei uma jaqueta por cima. Ainda doía, e a blusa ficava grudando no machucado e incomodando, mas era o único jeito de esconder aquilo.

Depois da higiene matinal, desci para a cozinha e comi um pouco de serial, meus pais já tinham saído para trabalhar.

Depois de tomar o café-da-manhã, fui limpar a casa, comecei lavando louça para tentar distrair meus pensamentos, mas não tive muito êxito, minha mente vagou voltando novamente ao lugar do incidente na noite anterior. Uma gárgula? Elas deviam ser coisas que constavam na lista do que não existiam, do que, segundo a humanidade era só ficção. Como era possível uma gárgula ter me atacado e segundo o meu vizinho estranho, alguém ter tentado me matar? Como uma pessoa poderia dar ordens a uma criatura? Aquilo não poderia ser real, mas a prova de que era, era que, meu vizinho tinha me salvado dela.

O problema não era nem a gárgula, havia alguém tentando me matar e eu nem se quer sabia por que, não tinha feito nada de ruim a ninguém. Aquela discussão boba com a Ambre sobre quem esbarrou em quem provavelmente não tinha nada a ver... Ou tinha? Só se ela fosse o tipo de pessoa que não deixava nada passar sem um tipo de vingança pessoal. Meu vizinho eu tinha quase cem por cento de certeza que não era. Ele tinha me salvado, por que colocaria ou tentaria colocar uma gárgula para me matar? Isso não tinha sentido. Ele, eu não sabia, tinha sido estranho àquela situação e ele reagiu de uma forma mais estranha ainda, mas isso não era motivo para tentar me matar. Só se o orgulho fosse maior que ele, e ele não suportasse levar um não de uma garota.

Afastei o assunto da minha cabeça e terminei de arrumar a casa. Ainda não era nem meio-dia. Decidi ler alguma coisa, era a forma mais eficaz de distrair meus pensamentos e não enlouquecer, além do mais, eu adorava ler.

Peguei um livro no meu quarto e fiquei lendo, ao meio-dia preparei o almoço para os meus pais — que sempre vinham para almoçar — e depois voltavam. Depois voltei novamente minha atenção para o livro. Quando minha mente se recusava a ficar concentrada no livro, peguei meu notebook e fui tentar escrever alguma coisa; era algo que sempre fazia e que me ajudava há passar o tempo.

Mais a tarde peguei o celular e liguei para a Alycia, para pegar o endereço da casa dela, precisava ir lá para fazer o trabalho que a professora tinha passado, combinei de encontrar com ela e as outras garotas lá. Peguei meu celular a chave de casa extra que tinha e outras coisas: como uma blusa de frio, caso precisasse e algumas coisas da escola. Como ainda não podia dirigir, pois só tinha dezessete anos, chamei um táxi para o endereço que ela tinha me passado, não precisava me preocupar com meus pais, pois disseram que chegariam tarde.

Uma hora depois já estávamos na casa da Alycia terminando o trabalho, o tempo estava totalmente fechado e estava ficando frio, iria chover muito, então tinha que terminar logo as coisas ali ou acabaria pegando uma tempestade quando fosse pra casa.

Ficamos conversando, pesquisando as coisas e escrevendo, depois que terminamos tudo ficamos sentadas em roda conversando coisas do tipo historias de terror, casas assombradas reencarnação. Decidi que seria o momento perfeito para perguntar sobre a história da cidade.

— E... A história daqui? Da cidade? — perguntei e elas se entreolharam com um olhar de "devo contar ou não".

Alycia deu de ombros como se não se importasse.

— É uma historia boba, eu não acredito. — disse Maya

— Por que nada aconteceu com você, agora tente sair dessa cidade pra você ver. — disse Alycia

— Aquelas pessoas morrem por azar. Eu diria que foi coincidência — disse Maya arrumando o cabelo

— Eu não acredito em coincidências — retrucou Alycia

Eu fiquei meio confusa com a conversa delas, não sabiam o que estavam querendo dizer com tudo aquilo.

— Tá. Não vamos entrar nesta conversa de novo. Eu conto. — disse Alycia — Mas você decide se é verdade ou não... ou... se os fatos são apenas coincidência ou não.

— Ok.

— Eu não sei dizer se a historia é verdade, ela vem vindo de séculos atrás, de geração pra geração. De acordo com a história, tinha um Lord muito poderoso, alguns diziam que ele tinha poderes que não eram nada bons e outros diziam que ele fez um terrível pacto com... Vocês sabem quem. Ele machucava as pessoas que ousavam a entrar na sua frente. Teve um dia que ele se apaixonou por uma garota da vila, que muitos diziam ser dessa cidade. A garota era bonita, mas ela não gostava dele, houve casos em que falaram que eles saiam juntos, e ela voltava um pouco estranha. As pessoas diziam que os poderes dele podiam mudar o que as pessoas pensavam ou sentiam entre outras coisas. Ele manipulava os sentimentos da garota fazendo ela se apaixonar por ele... Só que... Parecia que não tinha muito efeito nela. Ela fugiu dele quando descobriu o que ele realmente fazia, foi quando começou uma guerra na vila. Ele ficou furioso porque ela disse que não queria nada com ele, e que não o amava. Ele jogou uma maldição na cidade, dizendo que ninguém que morava ali poderia sair, e quem chegava também não. Se isso acontecesse — disse ela dando uma pausa e depois continuou — As pessoas iriam morrer. Uma garota que gostava do Lord entregou onde a menina se escondeu, ele a matou e foi atrás da garota. Chegando lá ele tentou manipular os sentimentos dela de novo, mas não conseguiu, chegou outro Lord para impedir, ele também tinha poderes só que parecia ser bem, neste dia ele matou todos que estavam naquele quarto, jogando uma maldição que voltaria para ficar com a sua amada. Desde aquele dia a cidade passou a ficar cheia de neblina e nunca se foi visto o sol desde aqueles tempos. Alguns dizem que ela tinha uma marca de nascença perto da clavícula, e tinha um colar que a protegia às vezes, e outros diziam que ela tinha um diário que escondeu em uma casa. Ninguém sabe se ele se matou no processo ou fez todos acreditarem que ele morreu.

Fiquei sem palavras quando ela contou aquilo, e começaram a aparecer alguns tipos de flashes na minha cabeça, exatamente como ela tinha contado, me lembrei do diário que havia encontrado com o nome Melissa, automaticamente coloquei a mão na marca de nascença, que não estava visível, claro. Meu coração começou a bater loucamente... Será que aquele diário dessa tal de Melissa, tinha alguma coisa a ver com aquela historia? Quer dizer que não era de uma garota qualquer e...

— Qual... Qual era o nome da garota? — perguntei e elas me encararam, devia ter notado o nervosismo na minha voz.

— Acho que era... — Começou Maya, mas Alycia a interrompeu.

— Melissa.

— Isso mesmo. Melissa, e o nome dos Lordes eram... Acho que Belmonte e Greenfield. Não dá para saber ao certo. Cada pessoa conta de uma forma diferente. Você deve saber que uma lenda quando é passada de geração pra geração sempre acaba sofrendo modificações. — explicou Maya

Os nomes me causaram outro déjà vu, soaram tão... Familiar. Vi alguns rostos passando pela minha memória e depois me lembrei dele...

"Inconscientemente você já sabe", tinha dito ele.

Será que... Será que... Será que Eles... Não. Não podia ser possível essa história, tinha possivelmente acontecido há décadas atrás. Não podia mesmo ser. Mas a garota, a Melissa, o... Diário.

Levantei rapidamente esbarrando no abajur da sala.

— D-desculpe, e-eu... Preciso ir.

— Nossa... Porque ficou assim? É só uma história — disse Maya

— Eu sei. E-Eu preciso ir... Está começando a chover... E... Minha mãe vai ficar preocupada.

— Mas, Mhylla...

— Eu ligo para vocês amanhã. — disse saindo

Peguei meu celular, minha mão estava tremendo, ignorei isso e liguei para um táxi. Se havia algum lugar que eu poderia encontrar respostas para as perguntas que rondavam minha cabeça... Era o diário da Melissa.


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