CAPÍTULO 10: GÁRGULA

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Depois de duas vezes quase ser morta eu já estava sem vontade nenhuma de ir à casa das garotas para poder fazer o trabalho. Qual era o problema do Veni? Por que ele sempre agia daquele jeito? E por que tinha alguém tentando me matar? Eu não havia feito nada para que alguém pudesse fazer isso. Eram tantas perguntas e tantas coisas estranhas acontecendo ultimamente tudo de uma vez só que já estava me considerando louca, aquilo não poderia ser real.

Se eu tivesse que desconfiar de alguém poderia ser ele que sempre ficava aparecendo na porta da escola, ele tinha entrado, mas como poderia mexer nos registros da escola? Que eu soubesse ninguém poderia mexer nos documentos dos alunos exceto quem trabalhava lá, mas ele não tinha cara que trabalhava lá e muito menos tinha motivo para me matar, ele só havia me conhecido dois dias porque faria isso? E o Veni? Por que ele teria motivo para fazer isso? Só para me manter longe dele? Não tinha como. Eu ainda não acreditava, eu tinha visto aquelas laminas na porta e quando ele vai olhar desaparece? Tinha alguma coisa muito estranha nessa historia e eu iria descobrir.

— Vocês sabem se recentemente alguém foi contratado para trabalhar aqui na escola? — perguntei para Maya no dia seguinte na escola

Se ELE trabalhasse ali, com certeza alguém iria saber, eu tinha colocado na cabeça que ir à casa das meninas seria uma boa idéia, eu queria saber a historia daquela cidade, queria saber por que as pessoas não saiam de suas casas e quase não havia ninguém nas ruas. Eu queria saber muitas coisas, o que me levou a pensar que eu tinha esquecido o diário da Melissa em baixo da cama, fiquei tão atordoada com a história das laminas que acabei esquecendo.

— Que eu saiba não! — respondeu ela — Por quê?

— Não, nada. — respondi

Estávamos sentadas esperando a aula começar quando a Ambre passou jogando o cabelo e sorrindo como se tivesse tirado a sorte grande em alguma coisa. Eu a ignorei e peguei o numero de celular das garotas passando o meu caso precisasse ligar já que no dia seguinte seria sábado e eu teria que ir a casa delas.

Como a minha mãe não poderia ir me buscar aquele dia, eu e as meninas fomos à lanchonete dali comer alguma coisa e conversar um pouco.

— Vocês sabiam que na próxima semana vai ter uma exposição aqui na cidade? É de um novo artista que está dando o que falar. Que tal irmos juntas? — perguntou Alycia

— Eu não sei...

— Vamos, vai ser legal. — disse Maya

— Se os meus pais deixarem eu vou.

— O que aconteceu ontem com você? Descobri que quase foi atingida por um painel. —perguntou Maya me encarando

— Não foi nada. Quer dizer, é só um painel.

— É a maldição. — disse Alycia como se estivesse contanto uma história de terror

— O que? — perguntei meio perdida

— Nada. — disse ela — Esquece isso!

Ficamos ali conversando um tempo e Maya me deu uma carona até em casa, quando cheguei meus pais estavam lá conversando alguma coisa animadamente. Entrei fechando a porta e deixando minha mochila no sofá. Eles sorriram quando me aproximei.

— Oi — disse meu pai

— Desculpe não ter ido buscar você querida. — disse minha mãe, ela parecia realmente incomodada.

— Não foi nada mãe. Uma amiga me deu carona.

— Viemos para pegar alguns documentos. Vamos voltar para o trabalho e como já sabe...

— Tomar cuidado — completei — Eu posso ir a uma exposição na semana que vem? Com as garotas da escola?

— Garotas? — perguntou meu pai sério em um tom desconfiado.

— É. Garotas.

— Mas e o meu aniversario? — perguntou minha mãe e meu pai a encarou — Quis dizer...

— Seu aniversario? — disse eu surpresa

Eu havia esquecido totalmente do aniversario dela, ela iria fazer tipo um baile de comemoração e chamaria o pessoal da empresa onde eles trabalhavam, pelo que parecia já eram todos conhecidos, vai ver eles mantinham contato com o pessoal dali antes de nos mudarmos para lá.

— É filha. Vamos fazer uma festa daqui a um mês e queria muito que você fosse. —disse mamãe.

— É no dia da exposição?

— Não! Só que queria que você ajudasse.

— Mãe, não gosto disso! Eu prometo ir, agora ajudar não. Sou péssima em decoração.

— Tá, mas tome cuidado.

Eu pensei em contar para eles que tinha alguém tentando me matar, só que decidi não comentar nada, minha mãe era muito preocupada e eu ainda não tinha certeza de nada. Assim que eles saíram, fui para o meu quarto, escrevi algumas coisas no meu diário, e decidi ir dar uma volta ali na rua, já não me sentia tão segura em casa. Não que na rua fosse melhor.

Coloquei uma jaqueta, peguei meu celular e sai. Dei uma olhada na casa do vizinho para confirmar que ele não estava lá na janela e após fazer isso caminhei ao sentido contrario do que ia para a cidade, na direção esquerda — que eu não sabia para onde ia — andando por ali descobri que havia uma enorme floresta no final da estrada. Senti uma vontade enorme de saber o que havia do outro lado, mas não ousei a entrar naquela floresta, não sabia o que poderia encontrar nela, então seria melhor não arriscar.

Na volta parei frente à porta e encaixei a chave tentando abrir, mas a porta nem se moveu. Tentei empurrar com força, mas de nada adiantou, a chave nem girava, eu não estava conseguindo abrir aquela porta.

— Você que sabe sua coisa velha. — disse irritada

Fui dar outra volta ao redor das casas, mesmo sem realmente querer. Já estava ficando com medo e estava ficando tarde e mesmo ainda sendo tarde ali, já ficava escuro e com uma neblina intensa. A porta de casa não abria e eu não sabia mais o que fazer.

Olhei em volta por ali e percebei uma coisa que nunca tinha notado antes, ao lado de uma casa velha abandona tinha uma gárgula, coisa estranha para uma cidade daquela, se bem que combinava, já que a cidade e aquilo eram estranhas. Mas, eu podia jurar que, aquela gárgula não estava ali quando chegamos. Ela tinha mais que dois metros de altura, as asas estavam erguidas como se ela estivesse prestes a alçar voo, as garras afiadas dela estavam fincadas no altar onde ela estava, os olhos eram enormes e penetrantes, ela era toda de pedra e a enorme lua atrás dela iluminava fazendo ela parecer... Real. Dava até para perceber as camadas escamosas da pele dela...

Eu devia estar pirando porque podia jurar que a gárgula mexeu o olho, eu automaticamente entrei em pânico, todos os meus sentidos me diziam para correr, mas eu não conseguia. Estava com o olhar fixado naquela criatura até que escutei um ruído vindo dela.

Afastei um passo até que percebi que a criatura se mexeu, ela levantou o braço, abrindo as enormes garras e tentou me atacar, eu apavorei e acabei caindo no chão prendendo a barra da calça em um ferro de uma coluna caída no chão. A gárgula alçou voo e parou bem perto de mim, mantendo seu olhar fixo no meu, um olhar predador e amedrontador, eu acabei gritando e tentei me soltar, tinha o dom de sempre cair na hora errada.

Eu precisava correr ou iria morrer ali, eu tinha que fugir.

Aquele bicho se aproximou mais, ele soltou um tipo de ruivo estranho e levantou novamente as garras... Eu já começava a ver meu fim... Não podia tudo terminar assim, eu não poderia morrer ali...


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