Ela ficou na porta nos observando enquanto eu observei o Alam. Era bom saber que ele realmente estava bem, ou quase, devido ao lugar em que estávamos.
— Que bom que está bem — Falei, tendo vontade de abraçá-lo e não soltar nunca mais.
— E acha que não ficaria? Quer dizer, acabei me assuntando de primeira quando perdi uma entrevista e o desfile. Em fim, estou bem.
— O que eles queriam com você?
— Não disseram muita coisa. Mas me surpreendi com muitas delas, temos muita coisa para conversar. Sou seu melhor amigo e escondeu as coisas de mim assim? — disse ele em um tom baixo para que só eu escutasse.
Olhei na porta e vi que Marcela estava conversando com o Lionel que saiu e ela entrou fechando a porta. Não sabia dizer se confiava nela ou não.
— Não pode ter feito isso...
— Eu não fiz. Pode não acreditar, mas fiz isso para ajudar vocês. Ou no caso o Alam. —– Disse ela, olhando para ele.
— O quê?
— Eu fingi que estava do lado deles, me deixaram ficar.
— Achei que não quisesse que descobrissem você. — Falei, meio desconfiada.
Ela deu de ombros
— É verdade. Mas me dei conta que ficar se escondendo não é bem o certo quando posso ajudar alguém. Sei que se eles descobrirem, a história complica um pouco, mas viver uma vida normal e sem graça não é pra mim. Literalmente, e sabe o motivo.
— Por que pegaram o Alam?
Ela parou a pouca distância de mim a todo tempo mantendo o olhar na porta.
— Para te trazer até aqui. Demoraram, pois estavam procurando alguma coisa.
— Por que eu? O que eles querem? E quem?
— Eu não sei explicar... — Ela começou a falar até que alguém abriu a porta
Lionel.
— O que está fazendo?
— Estava dizendo... Para ela não fazer nenhuma burrada. Se colaborar vai ser mais fácil — Disse a Marcela voltando para a porta.
— Espera! Leve o garoto — Disse o Lionel
— O que? Achei que fosse o deixar ir embora. Não pode fazer isso.
— Não te prometi nada. Tem uma pessoa que ira precisar dele caso não queira colaborar.
— Não vai machucar o Alam.
— Não vou mesmo. Não tenho nada a ver com essa história. E, além disso, a pessoa já está vindo. Eu preciso ir para uma corrida agora.
Os dois saíram e levaram o Alam. Não estava acreditando nisso, estava me sentindo perdida e não sabia por que precisavam de mim para seja lá o que. Sem contar sobre os meus pais. E minha situação só piorava cada vez mais.
Fiquei esperando horas e horas, sentada naquela cadeira, sinceramente não sabia descrever o que estava realmente sentindo naquele momento. Não sabia se devia ficar com medo, tinha conhecido varias pessoas daquele tipo, mas não sabia quem estava por trás de tudo.
—Abrem a porta — escutei alguém dizer e levantei-me rapidamente.
Não era nenhuma voz conhecida, era uma voz de homem e era meio rouca. Entraram dois homens ali, o primeiro era aquele da moto que apareceu com o Lionel a primeira vez que o tinha visto, e o outro não conhecia. Eles entraram e ficaram na porta conversando um com o outro até que outro cara entrou.
Ele era alto, usava uma calça preta e terno branco, tinha a barba por fazer, e os olhos cinza, e estava com um charuto na mão. Ele devia ter trinta e poucos anos, devido à aparência. Ele veio até onde eu estava e parou me observando.
— Então realmente é você. Eu não acreditei quando me disseram, achei que levaria mais tempo para voltar à vida. É bom vê-la de novo, Melissa.
— O que? Como assim de novo? Eu não sou a Melissa. — Disse eu e ele sorriu, fumando o charuto e soltando aquela fumaça no ar.
— Eu sei quem é você. Não precisa fingir agora.
— Não estou fingindo, não sou a Melissa.
— Vem dizer que não se lembra da sua vida passada? Por favor, vamos agir como adultos. Eu tenho certeza que você sabe que todo mundo que fez parte daquela história se lembra de tudo. E você... Por acaso não?
— Não estou mentindo, não sou a Melissa.
— É a reencarnação dela. — Ele falou como se estivesse pensando consigo mesmo.
Ele tocou meu rosto e ficou me observando como uma pessoa que vê alguma coisa e fica admirado.
— Não me toca.
— Você está mais bonita nessa vida. Pena que como Melissa não tive a chance de chegar perto de você. Seu namorado era muito protetor... Possessivo, sabe? Então não tive a chance de descobrir o que queria. Mas agora é mais fácil já que não está com ele.
— Não sei do que está falando.
— Claro que sabe. A Melissa sabia.
— Já disse que não sou a Melissa, por que insiste nisso?
— Por que você tem informações que eu quero. A Melissa sabia disso muito bem. E tenho certeza que já ouviu falar de mim.
Ele manteve o olhar no meu e eu me afastei.
— Não. Não sei quem é você.
Eu o encarei. Ele não me lembrava ninguém, nem mesmo um pequeno flash, mas alguma coisa no rosto dele era bem pouco familiar...
— Me deixe refrescar sua memória, dou da linhagem da Loira.
— A... A Ambre? — Perguntei surpresa
Ele consentiu
— Exato. Sou praticamente um familiar.
— Eu sei o que você quer. — Disse por fim
O Alexander tinha falado sobre ele e o Neythan achava que também. Lembrava que quando fui ao castelo, o Alexander contou que tinha feito tudo aquilo para me ajudar para que eles não me pegassem e tentassem fazer alguma coisa para que eu contasse sobre o poder. Eles eram capazes de torturar, ou seja o que for que tinham em mente.
— Pode esquecer. Eu não me lembro da minha vida como Melissa. Não tenho as informações que você quer.
—Você tem sim. E acho melhor fazer um esforço para se lembrar. Eu não me importo em machucar quem quer que seja para ter o que eu preciso.
— Não estou mentindo. E mesmo que soubesse o que você quer, como iria poder ficar com esse poder? Todos sabem que parte dele não é bom...
— Machuca as pessoas e blábláblá. Eu não me importo. Faça a sua parte e se preocupe só com isso. Depois que nos der o que precisamos poderei dizer se deixarei você e o garoto irem.
— Mas eu já disse que... — comecei, mas ele virou indo até a porta.
— Volto daqui a pouco. É melhor ter alguma informação descente. Ou já sabe o que vai acontecer.
— Por que eu? Tem varias outras pessoas perto de você que sabe sobre esse poder ou tem. Assim como a Ambre.
— Por que você estava com uma pessoa de uma linhagem original. O Alexander. Sabe muito mais do que qualquer pessoa neste mundo.
Eles saíram trancando a porta de novo. Eu não estava mentindo.
Não sabia praticamente quase nada sobre o poder que o Alexander e o Neythan carregavam em suas veias. Eu não perguntava muito sobre isso. A única coisa que sabia, era que em parte esse poder machucava e mudava o jeito das pessoas de pensar. Podiam ter controle sobre isso e que se ficasse muito descontrolado era como um demônio que tomava conta, a pessoa não teria controle sobre isso. E também que ele tinha surgido supostamente porque alguém tinha feito um pacto mal feito e resultou naquilo.
Não achava que essas informações poderiam ajudá-lo em alguma coisa e, além disso... Ele já não tinha esse poder?