Capítulo 14

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Vanessa Aguiar

O Elfo já me olha impaciente e eu respiro fundo, estou alguns minutos presa no meu dilema. Ele muda a expressão do nada, colocando um sorriso sacana nos lábios e eu definitivamente não gosto disso, prefiro ele me olhando sério. É tudo pior, porque ele é muito bonito, e eu facilmente beijaria essa boca bem desenhada dele.

— Sabe o que eu acho? — Ele faz uma pergunta retórica e eu continuo encarando ele — Você quer entrar aqui, e talvez você queira muito mais que uma carona, mas está aí presa no seu orgulho.
 
— Você está completamente enganado — Respondo séria e ele ri.

— Se você tivesse tanta certeza do que você quer, ou melhor, do que você não quer, teria virado as costas e ido embora, mas está aqui na minha frente presa em um dilema tosco — Ele fala e eu semicerro os olhos — Vamos facilitar isso, patricinha, entra no meu carro e vamos escolher um bom destino para nos divertirmos.

— Não, eu vou entrar no carro e você vai me deixar em casa — Falo e ele sorri mais abertamente.

— Como você preferir, gatinha — Ele diz levantando as mãos como se estivesse se rendendo.

Eu sei que é uma burrice completa fazer isso, mas eu vou fazer. Dou a volta no carro e entro no banco do passageiro e coloco o cinto, não deveria estar aqui, mas já que estou, vou apenas ignorar a voz dentro da minha cabeça que me diz que vou me arrepender muito de estar aqui.

— O que você está fazendo aqui? — Pergunto me dando conta de que eu não imaginava encontrar ele nesse cenário. — Como conseguiu entrar no condomínio?

— Gota me disse que viria buscar a gata dele, resolvi tentar a sorte para te ver — Ele responde começando a dirigir. — E é muito fácil entrar quando se tem... tem uma festa acontecendo.

— Isso tudo para me ver? Quase me sinto lisonjeada — Falo irônica.

— Eu gosto dessa banca toda que você tem — Ele fala sorrindo — Quer mesmo ir para casa? A gente pode arrumar outra coisa para fazer. Uma forma mais divertida para passar o tempo.

— É? E qual seria a sua sugestão? — Pergunto com a sobrancelha arqueada.

— Não sei, que tal beber ouvindo uma música, quem sabe fumar um — Ele sugere e então seu tom de voz fica malicioso — Quem sabe foder até as pernas ficarem fracas.

— Não tenho certeza se essa é uma boa programação — Falo dando de ombros.

— Você escolhe para onde a gente vai — Ele diz e eu olho para ele.

Eu já enlouqueci de vez, estou dentro do carro de um traficante no meio da noite enquanto cogito ir beber com ele. Tá tudo errado! Eu não deveria estar aqui, sou hipócrita porque eu critiquei muito a Laura para cinco minutos depois fazer exatamente a mesma coisa e mais, está escrito na testa dele que ele é problema para mim.

— Ainda estou esperando — Ele diz e eu suspiro.
— Que tal a praia? — Pergunto e ele concorda no mesmo instante.

— Vou passar antes em um lugar para comprar as bebidas — Ele avisa e eu aceno.

Eu sempre estive no meio termo, nem responsável de mais e nem irresponsável de mais. Meus pais que sempre exageraram em tudo, cada pequena coisa que eles consideravam errado eu era punida da pior forma possível. Sem contar as dietas loucas da minha mãe para que eu esteja sempre bonita e apresentável e dentro do padrão. O fato é que eles me enlouqueceram e me traumatizaram ao ponto de eu preferir ir beber no meio da noite com um bandido do que ir para casa.

Respiro fundo, vai ser só hoje e depois nunca mais. Eu não vou ser hipócrita de novo, não vou ver ele de novo, não e não. Eu consigo fazer isso, eu não sinto nada por ele mesmo, então eu só preciso me afastar depois dessa noite. Não é como se eu fosse encontrar com ele em cada esquina que eu passar.

Anatomia do Caos - MorroWhere stories live. Discover now