88. A corrida - ForthBeam (2Moons2)

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{Um agradecimento especial para @BrunaCarol2601 por pedir por mais ForthBeam}

     Já era tarde da noite, e Beam estava terminando um trabalho para a faculdade quando recebeu uma ligação de seu melhor amigo.

     - Beam, vem buscar seu namorado maluco por favor?! - Kit disse no telefone.
     - O quê? Por quê?
     - Um cara meio estranho propôs uma aposta pra ele, e agora os dois tão querendo fazer uma corrida de moto - Kit explicou, parecendo um tanto impaciente.
     - COMO É QUE É?!
     - Exatamente isso que você ouviu. Estou tentando convencê-lo a desistir da ideia, mas ele não me escuta. O Ming também não ajudou muito. Melhor você falar com ele.
      - Passa o celular pra ele... por favor.
      - Certo... só um minuto - Kit parou de falar por alguns instantes, e o barulho de fundo pareceu mais nítido. Logo, a voz de seu namorado ecoou na ligação.
     - Oi amor...
     - Forth! Que história é essa de corrida de moto?
     - Ah, eu acabei encontrando um conhecido dos velhos tempos... e acabei apostando com ele. É uma corrida simples, só nós dois. Pode ficar tranquilo, porque nenhum de nós bebeu.
      - Ficar tranquilo?! Você tá ma...

      O beep emitido pela chamada fez Beam perceber que a ligação fora encerrada. Ele não desligou na minha cara, desligou?! Ele pensou, mas quando tentou ligar de novo ou mandar mensagem percebeu que o celular de Kit estava fora de área. Provavelmente tinha acabado a bateria. O celular de Forth também não dava resposta, o que já não era surpresa, já que seu namorado costumava drenar sua bateria com jogos quando ficava entediado.
      - Merda Forth... - ele resmungou sozinho, levantando-se para ir pegar o carro e encontrá-los pessoalmente. O que ele esperava era que chegasse a tempo de impedir a tal corrida.
     
     Durante o percurso, um milhão de paranóias turbilhonavam em sua cabeça. E se eles arranjassem problemas com a polícia? E se Forth sofresse um acidente? E se os tais caras sabotassem a corrida? E se o pior acontecesse?
     Estudar medicina não ajudava muito naqueles momentos, já que uma lista de dezenas de possibilidades de fraturas e ferimentos perturbavam sua preocupação ainda mais.
      Ele sabia que Forth era experiente pilotando motos, mas ainda sim era preocupante. Por um momento Beam pensou que talvez estivesse se preocupando demais, mas seu lado mais racional não conseguia entender como alguém em sã consciência poderia simplesmente ter a ideia maluca de apostar uma corrida daquelas em plena madrugada, no meio da rua, sabendo de todos os riscos.
    
      Quando chegou no bar, Beam não encontrou Forth ou nenhum de seus amigos por lá. Ele acabou perguntando para o barman se tinha ouvido algo sobre uma corrida de motos, e a resposta foi quase imediata.
     - Ah sim, claro! Uma galera foi para a rua aqui de trás, que não tem movimentação nesse horário nem controle de velocidade, e aparentemente vai rolar corrida.
     - Certo, obrigado - Beam agradeceu com pressa pela informação, correndo para fora do bar e tomando a calçada para a tal rua de trás.
     A rua estava deserta, tirando o grande grupo de pessoas aguardando na calçada com expectativa. Havia bem mais pessoas ali para assistir do que Beam imaginava que teria. Ele demorou alguns segundos para localizar Ming e Kit no meio da multidão, e não viu sinal de Forth.
     - Cadê ele? Por que tem tanta gente aqui? - Ele perguntou imediatamente a Kit, antes mesmo de cumprimentá-lo.
     - Você veio! Meu celular acabou a bateria. Eu fiz de tudo para segurar o Forth, mas não deu certo, e eles acabaram de largar a corrida. Estão dando a volta no quarteirão. Pelo que eu entendi, a corrida termina em três voltas. Uma galera do bar ouviu eles falando e vieram assistir - Kit explicou, e logo que terminou de falar, duas motos em alta velocidade passaram pela rua, completando a primeira volta.
     Beam teve apenas alguns segundos para identificar Forth antes que as duas motos virassem a esquina, e sem saber se era por medo, preocupação, adrenalina ou ansiedade,  seu coração batia acelerado no peito.
     - Ele estava na frente! Ele é mesmo muito bom nisso - Ming observou.
     - É bom que seja mesmo. Não quero ter que levar ninguém pro hospital - Kit complementou, e pouco tempo depois, as motos apareciam no campo de visão dos três mais uma vez. Desta vez, o competidor de Forth estava em sua cola, prestes a ultrapassá-lo, mas foi impossível ver se teve êxito ou não, pois logo viraram a rua novamente.
     - É a última volta! - Alguém gritou, e era possível sentir o clima de expectativa entre as pessoas ouvindo os motores no percurso.
     Beam só queria que aquilo acabasse logo, independente de quem ganhasse. Cada segundo era um segundo a menos com a possibilidade de Forth se machucar.
     Enquanto ouvia atentamente os barulhos, ele temia ouvir algum impacto repentino, mas por sorte isso não aconteceu. Os sons ficavam mais altos, indicando que se aproximavam, e na esquina que os trazia para a rua principal Beam viu uma cena que jamais esqueceria. A moto de Forth fazendo uma curva fechada para ganhar tempo, inclinando-se a milímetros de derrapar.
     O coração de Beam pareceu parar, e por aquele eterno segundo ele tinha certeza que a moto viraria e Forth cairia com tudo no asfalto... mas por algum milagre, ele conseguiu se equilibrar no último segundo, e quando Beam voltou aos seus sentidos, seu namorado já havia passado da linha de chegada, em primeiro lugar.
      Ele nunca tomara um susto tão grande, com exceção do dia em que um martelo caiu na cabeça de Forth e o deixara inconsciente por um bom tempo. Beam mal podia ouvir os gritos de comemoração da plateia. Assim que Forth parou e desceu da moto, ele correu desesperado e se tacou nos seus braços, aliviado. Ele não sabia se ria, se chorava, se gritava com ele ou se o beijava.
      - Amor! Você veio! - Forth exclamou, e seu sorriso vitorioso cresceu ainda mais ao sentir o abraço apertado de Beam.
      - É claro que eu vim, seu idiota! Vim pra tentar te impedir de entrar nessa loucura! - Beam o soltou e começou a gritar com ele, sentindo uma ou duas lágrimas de alívio escorrendo por suas bochechas. - O que te deu na cabeça?! Vocês quase me fez morrer do coração!
      - Uh... eu... - antes que Forth pudesse se explicar, confuso com as múltiplas reações de Beam, seu competidor se aproximou com uma cara emburrada e o interrompeu.
     - Aqui... feliz agora? - O cara deu-lhe um bolo de dinheiro, com repulsa. - Vou te deixar em paz. Só vê se não esbarra comigo de novo.
     - Será um prazer - Forth respondeu, com um sorriso cômico, enquanto ele ia embora com passos pesados.
     - Que merda foi essa? Quem era aquele cara e por que você entrou nessa corrida insana? - Beam questionou assim que viu o cara partindo.
      - Calma... eu juro que vou te explicar tudo. Mas é melhor sairmos da rua agora. A galera já está indo embora, e é perigoso ficarmos sozinhos aqui nesse horário.
     - Perigoso? Jura, Forth? PERIGOSO? - Disse Beam, indignado.
     - Eu sei, desculpa. Desculpa mesmo - Forth segurou sua mão, tentando convencê-lo a se acalmar. - Vamos pelo menos entrar no bar e eu explico tudo.
      - Certo... - ele cedeu. Forth subiu na moto mais uma vez e ofereceu-lhe o capacete reserva e sinalizou para Ming e Kit, que aguardavam por eles na calçada, que encontrassem-os no bar. Beam olhou-o com relutância, sem nem querer mais saber da moto por um bom tempo, e ele teve que insistir um pouco.
      - Vamos, eu não posso deixar a moto no meio da rua... - Forth justificou, e Beam revirou os olhos, aceitando o capacete e subindo na moto com muita angústia, agarrando-se ao namorado pelo curto percurso até a frente do bar.

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     - Então... aquele era o Suchart, e eu estudei com ele último ano do ensino médio. Nunca fomos amigos nem nada. Na verdade, eu procurava não me envolver com ele. Ele é de uma família muito rica, mas é super preconceituoso, e uma pessoa desprezível. Estávamos numa boa até que a namorada dele na época cansou do caráter daquele babaca, terminou com ele e começou a dar em cima de mim. Foi aí que o Suchart me acusou de querer roubar a namorada dele, sendo que eu nem ligava pra ela, e como não estava acostumado com perdas ou a não conseguir o que queria, me atormentou por meses. A ganguezinha dele me perseguia e me bulinava com termos bem homofóbicos e bifóbicos, mas eu não ligava muito, até que um dia eles passaram dos limites. Tanto eu quanto Suchart começamos a andar de moto naquele ano, mas a minha era bem simplesinha, porque eu não tinha muito dinheiro, e a dele obviamente era de última geração... eles viviam chamando minha moto de lata velha, e um dia resolveram vandalizá-la. Furaram meus pneus e riscaram ela com todos aqueles termos horríveis que me chamavam.
      - O quê?! Que escrotos! - Ming interrompeu a explicação por um instante, indignado.
      - Pois é... eu até fui na polícia prestar queixa, mas como o pai dele tem muito dinheiro, ele se safou muito fácil, e eu tive que ralar pra conseguir dar um jeito na moto. Por sorte, eu nunca mais encontrei com ele depois que aquele ano acabou... até hoje. Acabei esbarrando com ele no caminho do banheiro, e ele me reconheceu. Começou a me provocar e me ofender, além de dizer que apostava que eu ainda tinha moto e espírito de lata velha... daí não me segurei e disse que essa latona velha superaria um cara podre que nem ele em qualquer coisa, e que não precisava do dinheiro do papai pra conquistar nada. Ele ficou puto e me desafiou a fazer a corrida... então apostamos. Se eu ganhasse, ele me daria o dinheiro equivalente aos danos que ele causou na minha moto naquele ano, e se eu perdesse, ele faria o que quisesse com a minha moto.
     - E você ainda foi maluco de correr esse risco?! -  Kit questionou.
     - Eu não podia amarelar... por questão de honra! E eu também tinha certeza que seria capaz de ganhar dele, mesmo que a moto dele seja mais moderna. Olhando pra cara dele eu sabia que nada tinha mudado. Ele tem a moto, mas só usa pra se exibir... mal tem experiência, porque na maioria das vezes é levado pros lugares pelo motorista dele num carro chique.
     - E você conseguiu! Você venceu dele! - Comemorou Ming.
     - Sim, eu consegui... - Forth deu um leve sorriso e olhou para Beam, que permanecia quieto. - Desculpa por ter te assustado, mas eu juro que sabia o que estava fazendo.
     - Sinceramente, eu não teria tanta certeza. Mas ficar bravo não vai mudar o que aconteceu. O que importa é que você está bem. Só que você precisa me prometer que nunca mais vai fazer uma coisas dessas! - Disse Beam. - Merda Forth, você poderia ter se machucado feio! Ou até morrido! Rua não é pista de corrida, e você não pode simplesmente achar que é um corredor profissional só porque anda bem no dia a dia.
     - Sim... - Kit concordou.
     - Nenhuma honra ou moto vale a sua vida! Naquela curva que você fez... por um momento eu pensei que algo terrível fosse acontecer! Você faz ideia de como eu me senti?! Faz ideia da sorte que você teve?!
      - Desculpa... desculpa mesmo! - Forth o abraçou apertado, arrependido. - Eu juro que nunca mais faço nada assim.
      - Bom mesmo... - Beam suspirou, retribuindo o abraço. - Eu amo você. Por favor, nunca mais se arrisque desse jeito.
     - Eu também te amo muito... e prometo que não vou me arriscar de novo. Por mim e por você.

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     Pouco tempo depois, cada casal seguiu seu caminho para casa. Forth e Beam tiveram que ir separados para o apartamento de Beam, por estarem com dois veículos, mas Forth fez questão de ir bem devagar com sua moto, sempre ao lado de Beam, para tranquilizá-lo no percurso.
     Chegando lá, Beam foi tomar um banho para desestressar, e terminou seu trabalho enquanto Forth tomava o dele. Seu namorado exibido saiu do banheiro sem camisa, e Beam não conseguiu esconder seu súbito interesse.
     - O que foi? Está apreciando seu namorado vencedor? - Forth sorriu, fazendo poses para exibir os músculos.
      - Você até teria me atraído... SE NÃO FOSSE UM COMPLETO MALUCO QUE QUASE ME MATOU DE PREOCUPAÇÃO - Beam lembrou, por mais que não estivesse mais bravo.
      - Poxa... eu já pedi desculpas... não sou atraente agora que estou são e salvo? - Ele fez bico para dar pena, mas continuou exibindo os músculos, fazendo Beam rir.
     - É sim... - Beam se levantou, indo até ele e entrelaçando os braços ao redor de seu pescoço - Eu prefiro assim.
     - Então assim ficarei - Forth sorriu, puxando-o para um beijo acalorado. Sentir o amor de Beam valia mais que qualquer coisa no mundo, e ele com certeza o compensaria pelo preocupação que lhe causou. O dinheiro que ganhou com a aposta seria bem guardado, e um dia o ajudaria a comprar anéis de noivado, para mostrar para Beam que valorizaria sim a sua vida... e que gostaria de passar o resto dela com ele.

Fine Line - One Shots BLWhere stories live. Discover now