27. Iniciativas - OatM (Manner of Death)

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      Era segunda-feira, e M ainda não conseguia parar de pensar em Oat.
     Ele gostava dele já havia um tempo, e ia levar comida para ele de vez em quando, se aproximando de pouco em pouco, dando a desculpa de que queria apenas agradecer pelas vezes que o doutor literalmente salvara sua vida. Mas algo na semana anterior havia definitivamente avançado esse estágio incerto de relacionamento, que o fazia questionar se teria uma chance algum dia.
     Na última sexta-feira, durante o desfile de Halloween, M seguira os conselhos dos amigos e arriscara alguns flertes com Oat. Ele pensou que o clima ficaria estranho, e temia perder a amizade do doutor mas, para a sua surpresa, ele foi correspondido.

     Oat o puxara para longe da multidão, levando-o para um canto mais escondido, e os dois trocaram mais alguns flertes antes que o médico enfim puxasse seu pescoço para um beijo.
     O inspetor se surpreendeu com a iniciativa de Oat, sentindo-se no paraíso por alguns minutos. Seu coração explodia de alegria enquanto ele sentia seus lábios macios e o leve gosto de... álcool?
     Estava explicado.
     Oat podia ser simpático e extrovertido, mas M jamais imaginara que ele seria audacioso dessa forma, a não ser que estivesse... bom, pelo menos um pouco bêbado.
     Mas isso de nenhuma forma o impedira de aproveitar cada segundo do beijo, ou de desejar mais mesmo quando os dois estavam ofegantes pela falta de ar. A sensação era ainda melhor do que ele imaginava...
     O problema foi que, durante a pausa para o ar, o telefone de Oat começara a tocar, interrompendo o clima. Ele parecia ter a intenção de desligar, mas assim que viu o nome do contato que ligava atendeu na hora. Parecia urgente.

     - Hm... - ele murmurou com uma expressão preocupada enquanto escutava a voz no telefone - Okay. Estou a caminho.
     Toda a alegria de M pareceu evaporar com a última frase. Ele já estava indo embora?
     - M... desculpa. A minha avó tá passando mal, e como eu sou médico minha mãe pediu que eu fosse cuidar dela - ele explicou.
     - T-tudo bem - o inspetor respondeu, tentando esconder a chateação - Eu posso te levar lá se quiser.
     - Não precisa se incomodar... você pode ficar e curtir o desfile - ele disse - Eu bebi um pouco antes de você chegar, então vou chamar um táxi.
     - Não se preocupe com isso - M insistiu - Eu te levo, sem problema nenhum.
     - Mas... você não quer aproveitar a noite?
     - Eu... - o inspetor voltou a olhar em seus olhos, um pouco mais confiante para ser honesto - Vim por sua causa. Pode deixar que eu te levo.

     - Desculpa mesmo - Oat repetiu no carro.
     - Não precisa se desculpar. Não é sua culpa - M respondeu.
     - Mas você veio por minha causa, e eu tive que ir embora assim de repente - ele justificou.
     - Não tem problema. O pouco tempo que tivemos já valeu pela noite inteira... - o inspetor sorriu, fazendo Oat desviar o olhar de timidez.
     Mas poderia ter durado de fato a noite inteira... Ele pensou.
     - Ah, não... - Oat exclamou pouco antes de chegarem - Droga, eu ainda tô vestido de princesa.
     - Por que isso é um problema? Está uma graça...
     - É que se minha avó me vir desse jeito ela vai passar o resto da noite me enchendo de perguntas e preocupações desnecessárias - ele explicou.
     - Ah, entendi... deve ser um saco mesmo - M disse, e olhou para trás para checar se sua mochila estava ali - Eu tenho uma troca de roupa limpa na mochila se quiser. De vez em quando eu levo pro trabalho caso eu acabe me sujando... sabe como é.
     - Eu só preciso de uma camiseta... você pode me emprestar? - Oat perguntou.
      Eles chegaram bem na hora, e M pegou a mochila no banco traseiro depois de estacionar, tirando uma de suas camisetas mais confortáveis para emprestar.
     - Obrigado... - o médico tirou o cinto e tirou o vestido de princesa ainda no carro. Ele usava uma bermuda por baixo, mas M desviou o olhar mesmo assim. Seria difícil se segurar se ficasse olhando.
     - Espero que sua avó melhore logo - ele disse antes de se despedir  - Qualquer coisa pode me ligar.
     - Obrigado mesmo. Você salvou minha pele - Oat soltou uma risadinha, já trocado, carregando o vestido dobrado nas mãos - Vou dar um jeito de esconder isso aqui. Te devolvo a camiseta assim que possível.
     - Sem problemas...
     - Ah, e... - ele continuou antes de sair do carro - Obrigado por hoje - Oat sorriu e surpreendeu M com um selinho - Boa noite.
     - B-boa noite... - o inspetor respondeu, enquanto o doutor saía do carro. Seu coração estava à mil de novo, e ele parecia incapaz de se mexer ou de desviar o olhar apaixonado até que Oat entrasse na casa.

    Desde aquela noite, o inspetor não conseguia parar de lembrar dos beijos que recebera, e como poderia tê-los novamente.
     Oat passara o fim de semana inteiro cuidando da avó, então o curto intervalo de almoço naquela segunda-feira seria o primeiro contato que eles teriam pessoalmente depois do Halloween.
     M resolveu levar comida para ele, como fazia de vez em quando, e quem sabe aproveitar a chance para chamá-lo para sair.
     Por mais que os dois estivessem mais íntimos, ele ainda estava um pouco nervoso. Afinal, será que Oat de fato gostava dele da mesma forma? Ou teria sido apenas algo casual e sem compromisso?
     Querendo ou não, uma hora ele teria que descobrir.

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    Quando o relógio indicou o início do seu intervalo de almoço, dr. Oat sorriu ao ver M ao longe, chegando com uma sacolinha. O inspetor havia avisado que viria, então ele trouxera sua camiseta para poder devolvê-la.
     Na verdade... ele não queria devolver. Mas o cheiro de M já havia sumido depois da lavagem, então daria na mesma.
     Quando lembrava da última sexta-feira, Oat não sabia como tinha tido tanta coragem. O álcool costumava afetá-lo mesmo em poucas quantidades, mas ter beijado M daquele jeito ainda parecia apenas um sonho.
      Ele sempre se sentira atraído pelo charme do inspetor... e na época de início das investigações do caso de Jane havia sido frustrante vê-lo agindo daquela forma. Mas ele mudara muito desde que levou um tiro do próprio colega e percebeu estar seguindo ordens de um criminoso, e passara a agir diferente.
     Os dois se aproximaram durante esse tempo, e a atração de Oat acabou se tornando mais do que uma simples admiração. Os gestos e flertes do inspetor indicavam que ele sentia o mesmo, mas ainda era difícil saber como agir perto dele. Oat queria poder ter coragem de tomar iniciativas mais vezes, e quem sabe enfim esclarecer seus sentimentos...

     - Boa tarde, doutor - M cumprimentou, tirando Oat de seus pensamentos.
     - Boa tarde - ele sorriu, tentando disfarçar sua distração - Tudo bem?
     - Sim, tudo certo. E você? Passou bem na casa da sua avó? Ela está melhor?
     - Sim, por sorte foi apenas mais um mal estar. Obrigado por perguntar - ele aproveitou para pegar a camiseta dentre as suas coisas e  dar mais uma boa olhada nela antes de devolver - Aqui, sua camiseta. Eu já lavei ela, então pode usar hoje se precisar.
     - Obrigado... - M sorriu - Vamos almoçar? Eu trouxe o seu favorito.
   
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     Os dois foram comer em um cantinho tranquilo, um pouco mais isolado, e a timidez era maior que o comum. Talvez porque fosse impossível não pensar em quando seus corpos estavam colados, e em como fazer para que isso acontecesse mais vezes...
     Era difícil saber o que dizer... e se deveriam mencionar os acontecimentos da semana anterior.

     - Oat... - M chamou, quebrando o silêncio. Ele juntou toda a coragem que tinha e tentou enfim fazer o convite que queria - Eu estava pensando se... por acaso você não gostaria de...
     - De... - Oat sorriu, tentando encorajá-lo a continuar a frase, desejando que fosse o que ele esperava.
     - De sair comigo qualquer dia - ele terminou, falando um pouco mais baixo - Em um encontro...
     - S-sim! - Oat respondeu, radiante - Quer dizer... pode ser - ele tentou não parecer muito desesperado - Você... tá livre esse fim de semana?
     - Sim, sim, eu... posso te buscar se quiser - M voltou a sorrir, parecendo aliviado.
     - Okay... só me avisa o horário depois - Oat tentou conter sua empolgação, voltando a ficar na comida.
     - Combinado então - o peito do inspetor parecia estar cheio de fogos de artifício.

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     - Você vai sair com o M?! - Bun perguntou mais tarde.
     - Como você sabe?! - Oat questionou.
     - Então... você gosta dele?!
     - É... sim... mas você ainda não respondeu minha pergunta.
     - Por que não me disse antes?! As coisas teriam sido tão mais fáceis...
     - Como assim?! - ele questionou, confuso - Só me explica de uma vez. Eu tô confuso.
     - Claro que está - seu amigo riu - Eu sei porque o M me contou, e eu e o Tan estamos tentando ajudar ele com você há um tempão.
     - O quê?!
     - É! Por isso você deveria ter me contado. Aposto que vocês já estariam juntos se...
     - Eaí, qual é a fofoca? - Fah interrompeu.
     - Nada! - os dois responderam praticamente ao mesmo tempo, e voltaram ao trabalho como se nada tivesse acontecido.
    
     Então... ele gosta de mim a ponto de pedir ajuda pro Bun e pro Tan? Oat pensou, sorrindo como um bobo. Talvez eu realmente deva tomar outras iniciativas afinal de contas...

Fine Line - One Shots BLOnde as histórias ganham vida. Descobre agora