2. Bros? - TharaFrong (My Engineer)

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"Bros"

     Aquela palavra doeu muito mais do que Frong esperava.
     Por que ele insistia em gostar de pessoas que não sentiam o mesmo?
     E dessa vez era ainda pior... O que Frong sentia por Thara havia passado dos limites de uma simples admiração ou atração, e agora suas esperanças pareceram se estilhaçar como uma taça de vidro fino.
     Era difícil sequer imaginar encarar Thara novamente.
     Ele sabia que teria que vê-lo de qualquer forma, porque ele estava cuidando de sua mãe, mas fora isso teria que fazer de tudo pra evitá-lo.
     Teria que fazer de tudo pra curar o coração partido mais uma vez, mesmo que estivesse mais machucado do que nunca.

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     No início, Thara pensou que não era nada demais, Frong deveria estar ocupado com a faculdade, preocupado com seus próprios problemas ou coisa do tipo. Mas o tempo passou e nada voltou a ser como antes.
     A intimidade que os dois haviam compartilhado no acampamento parecia nunca ter existido.
     Frong parecia fugir quando ele se aproximava, e sempre desviava suas tentativas de iniciar uma conversa. O estudante só lhe dirigia a palavra quando se tratava de sua mãe, que felizmente se recuperava bem, mas fora isso nada além de formalidades médicas.

      Quando sua mãe enfim se recuperou e foi liberada para voltar para casa, já não haviam mais desculpas para ligar para Frong. Eles nem sequer se viam mais. Por algum motivo isso fazia o peito de Thara doer de um jeito estranho.
     Eles estavam tão próximos no acampamento... como isso poderia ter mudado da noite para o dia?
     Ele pensava em Frong todos os dias, e sentia falta dele como nunca havia sentido de qualquer amigo. Seria porque tudo foi assim tão abrupto, inesperado e inexplicável? Ele queria apenas poderia entender o que ele fez de errado.
     Por isso, assim que se viu livre do turno da manhã, Thara decidiu ir até a floricultura no dia em que sabia exatamente quem estaria trabalhando lá, como já havia feito como tentativa de se reaproximar de Frong, sempre sem sucesso.
     Mas dessa vez seria diferente. Ele seria direto, e não sairia de lá sem respostas nem que fosse arrastado até a porta.

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     Quando Thara entrou na loja, Frong sentiu mais uma martelada violenta no coração, e uma raiva que vinha crescendo com o tempo.
     Por que ele tinha que fazer ser mais difícil? Por que ele não conseguia entender o recado e deixar ele em paz? Por que ele continuava aparecendo e impedindo a dor de passar?
    Era estressante. Ainda mais depois de meses.

     - Bom dia - o "cliente" cumprimentou, e Frong não ousou sequer levantar o olhar do buquê que preparava.
     - Bom dia - respondeu, seco.
     - Frong... - Thara continuou.
     - Hm...
     - A gente precisa conversar.
     - Minha mãe está bem. Não há mais o que dizer.
     - Fico feliz que ela esteja bem, mas não é sobre isso que eu quero falar...

     Frong respirou fundo e tomou coragem para levantar o olhar. Ele sabia que todas as marcas da tristeza e das noites mal dormidas estariam estampadas na sua cara, mas não havia muito o que fazer.

     - O que você quer? - seu tom continuou seco, e a frustração ao menos impediu que ele se sentisse culpado por isso.
     - Eu... eu quero... eu preciso saber o que aconteceu - Thara parecia chateado, o que tornava tudo mais difícil - Não finja que não sabe do que estou falando, porque eu sei que sabe. Por que você passou a me tratar assim de repente? O que eu fiz de errado? Estava tudo tão bem... pensei que éramos bons amigos.
     - Amigos... - Frong repetiu, sentindo a dor no peito vir com tudo mais uma vez - Você não faz ideia, faz? - ele fez de tudo pra se segurar, mas as lágrimas vieram de qualquer jeito - Pensei que eu tivesse sido óbvio.
     - Não faço ideia do quê?
     - EU GOSTO DE VOCÊ, SEU IDIOTA - ele explodiu, e agradeceu aos céus por estarem sozinhos na floricultura - EU GOSTO DE VOCÊ E SEI QUE VOCÊ NÃO ME ENXERGA DESSA FORMA. EU ENTENDO, VOCÊ NÃO SENTE O MESMO, MAS SERÁ QUE PODE POR FAVOR ME DEIXAR EM PAZ?!
     O coração de Thara pareceu parar por um segundo, em choque, e o resto de seu corpo paralisou.
     - VOCÊ PODE PELO MENOS SE AFASTAR E ME DEIXAR SUPERAR DE VEZ?! PORQUE MACHUCA, THARA. ENTÃO SE VOCÊ AINDA TEM UM POUCO DE CONSIDERAÇÃO POR MIM, SÓ VAI EMBORA, OKAY? EU NÃO CONSIGO OLHAR PRA VOCÊ SEM ME QUEBRAR INTEIRO DE NOVO.

     Uma lágrima desceu pela bochecha de Thara, que não sabia o que dizer ou como reagir.
     Ele estava mesmo machucando Frong tanto assim durante tanto tempo? Que direito ele tinha de estar ali exigindo algo dele? O que ele menos queria no mundo era machucá-lo, e era tudo que ele fazia apenas em estar ali.
     Com o coração doendo como nunca, o doutor apenas foi embora, de cabeça baixa, ainda tentando processar tudo que tinha ouvido.

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    Ele teve que voltar ao trabalho, mas a dor permanecia, e era difícil se concentrar com tantos pensamentos intrigantes na cabeça.
     Então Frong gostava dele?... Isso explicava seu comportamento estranho, mas também revelava a dor que Thara gostaria de nunca ter causado. Mas como ele havia assumido que o sentimento não era recíproco com tanta certeza?
     Foi então que ele se lembrou da última conversa que tiveram no acampamento. Aquela conversa fora repassada em sua cabeça diversas vezes ao longo dos últimos meses, enquanto ele tentava entender o que havia acontecido, mas apenas agora a resposta viera.

     "Somos bros, não somos?"

     Thara sempre se referira a Frong como um amigo ou um irmão, mesmo quando... Quando já não tinha certeza sobre como se sentia sobre ele. O tempo que passaram distantes havia sido muito mais doloroso do que deveria. Ele não conseguira parar de pensar nele nem quando realmente tentara. Seu desejo de proximidade era de matar.
     Foi aí que veio o tão demorado "clique". Ele... gostava de Frong. Mas... como podia ter sido tão cego? Seria esse apenas um pensamento impulsivo por estar se sentindo culpado?

     - Nong' Thara, o que você tem hoje? - um de seus seniors perguntou, percebendo que estava no mundo da lua enquanto deveria estar se concentrando nos relatórios do dia - Vá tomar um ar, beber uma água e colocar a cabeça no lugar... esses relatórios precisam ser feitos com cuidado, e você sabe disso.

    O jovem apenas assentiu e foi até o terraço, onde se lembrava de ter conversado com Frong. Sua cabeça parecia girar, e não dava nem para descrever a sensação no coração. Talvez ele devesse apenas dar um tempo... deixar Frong em paz e tentar assimilar tudo.
     Mas... e se Frong esquecesse dele durante esse tempo? E se ele encontrasse outra pessoa? Pensar nisso trouxe lágrimas aos seus olhos, e foi aí que ele teve certeza. Era de fato insuportável pensar em Frong com outra pessoa. ELE queria ser essa pessoa.

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     No dia seguinte, Frong estava um pouco menos pior. Ele passara a noite chorando, mas pelo menos pôde liberar um pouco da mágoa e do estresse.
     Tudo que ele podia fazer no momento era se distrair com o trabalho e com os estudos, além de rezar para que Thara não o procurasse mais apenas para lembrá-lo que seu sentimento não era recíproco.
     Por sorte, havia uma encomenda grande na floricultura para ocupar seus pensamentos, e por coincidência o buquê do pedido incluía alguma de suas flores favoritas. O resultado ficara tão bonito que trouxe até orgulho, e uma leve vontade de roubar o arranjo para si.
     Mas não havia tempo para preparar outro. O cliente chegaria a qualquer momento e...
     A sineta da porta tocou quase imediatamente, indicando a entrada de alguém.
     Frong não soube nem como reagir quando viu Thara se aproximando, encarando-o sem parar.
     - O QUE VOCÊ...
     - DESCULPA - o doutor falou antes que ele pudesse terminar a frase - Eu sei que eu fui um idiota e que te machuquei. Sei que fui lerdo e inconsequente. Eu não fazia ideia do quanto estava te machucando, assim como também machuquei a mim mesmo por muito tempo. Eu vou entender se você realmente não quiser mais olhar na minha cara, e que eu não tenho direito de te impedir, mas... será que você poderia me dar mais uma chance?
     - Mas...
     - Eu gosto de você, Frong. Eu posso ter demorado muito pra admitir, mas isso não significa que gosto pouco. Eu posso, por favor, tentar me redimir?

     Frong parecia surpreso, completamente sem reação. Suas mãos fraquejaram quando Thara as tocou ao pegar o buquê, apenas para se ajoelhar e oferecê-lo de volta.
     - Por favor. Eu prometo que vou fazer tudo certo dessa vez.
     - Isso... é seu? - Frong perguntou, confuso.
     - Na verdade, é seu. Quer dizer... é pra você - Thara respondeu, envergonhado - Queria poder ter feito eu mesmo, mas queria que fosse perfeito, e não há ninguém mais habilidoso na cidade com buquês que você mesmo. Espero que não se importe. Já paguei hoje mais cedo.
     - É... eu... - Frong corou, sem saber o que dizer - Obrigado.
     - Então... o que me diz? Posso te... levar pra sair? - o doutor sorriu, esperançoso.
     - É... - desistindo de tentar se expressar com palavras, Frong apenas aceitou o buquê, com o coração na mão, e o deixou de lado com cuidado, apenas para se atirar nos braços de Thara assim que ele se levantou - Tudo bem.

Fine Line - One Shots BLWhere stories live. Discover now