— Sua mãe não vai achar ruim? — eu pergunto e o Renan abre a gaveta da escrivaninha ao lado da porta.

Ela tá cheia de pacotinhos brilhantes que eu reconheço imediatamente do dia que passamos no motel. Com certeza meu rosto tá ainda mais ardente agora.

— É a única coisa que ela tem me "dito" no último ano inteirinho. — ele faz as aspas no ar e ri. — Sério, acho que ela tá feliz que não há a possibilidade de eu engravidar ninguém e não ter que se preocupar com isso.

Então eu deixo a vergonha um pouco de lado e tento aproveitar o momento.

Como disse, as primeiras horas são ótimas. Renan coloca uma música de fundo, baixinha, e deixa tocando enquanto a gente... aproveita o momento. O conforto do som ambiente nos deixa livres pra nos preocuparmos menos com os barulhos que fazemos, por assim dizer, e o tempo passa sem perceber.

Acho que a convivência tem feito as coisas serem muito mais naturais entre a gente. Eu tenho passado muito tempo com o Renan — desde sempre, mas ultimamente mais ainda, com essa coisa toda de fugir da minha casa. Desde antes das aulas acabarem, aliás. Então a intimidade foi crescendo com rapidez. Não sei dizer quando os toques passaram a ser tão mais fáceis e tão certeiros, mas aquela timidez e o receio presentes na nossa "primeira vez" juntos não existe mais.

O que é ótimo. Mas que faz a gente cansar muito também, porque parece que queremos tudo ao mesmo tempo.

E daí que chega um momento que eu sei que o Renan quer dormir, porque estamos deitados um ao lado do outro na sua cama de solteiro, espremidos, e ele se apoia no meu ombro e suspira de olhos fechados. A janela está com uma fresta aberta, a luz da lua entra e faz os objetos criarem sombra no chão e nas paredes, e eu consigo ver que ele está quietinho, satisfeito, sorrindo.

Ele desliga a música e ficamos num silêncio, numa paz muito boa.

Sei que ele dormiu assim, as pernas sobre a minha e a cabeça no meu ombro, só lençol jogado sobre a gente de qualquer jeito porque o calor permite que isso seja possível... Mas é aí que minha cabeça se torna um inferno.

Não consigo dormir pensando na tal festa surpresa.

Fico criando situações mirabolantes para o reencontro com o João Vitor, e aí percebo que eu me importo, porque estou ansioso não só pela convivência, mas pra saber qual vai ser sua reação quando me ver com o Renan. Afinal, todo mundo que estará lá sabe da gente. Nós somos o casal agora.

Além disso, Joel, que também foi adicionado ao grupo, confirmou presença dizendo que iria só se nós dois, eu e o Renan, fôssemos. E o comentário que ele deixou depois fez todo mundo ficar cogitando essa reação também.

Joel Carvalho: cara, imagina a cara do JV quando ver vcs dois!!! Kkkk

(sexta-feira, 20:41)

Rafael Menezes: velho, vamo fazer um bolão!!

(sexta-feira, 20:41)

Gabriel Menezes: topo! Dois reais pra entrar! Cada um fala um palpite pra reação do JV sobre o Renan e o Daniel kkk quem acertar leva tudo!

(sexta-feira, 20:41)

Caíque Oliveira: to dentro tb! Meu palpite é que ele vai brigar com td mundo kkk

(sexta-feira, 20:42)


E eles passaram horas discutindo as possibilidades, fazendo o tal do bolão.

Como se fosse engraçado.

Quase cogitei desistir, falar pro Renan que estava passando mal, inventar que tinha que voltar pra casa, sei lá! Mas, quando acordamos — quando ele acordou, porque eu não preguei o olho de verdade —, Renan leu as mensagens no grupo e se virou pra mim, suspirando:

— Nós não vamos fazer isso.

— Vamos sim — pra minha surpresa, eu me vi falando, a voz firme e decidida.

— Dani, a gente não precisa provar nada pra ele...

— Eu sei, e é justamente por isso que nós vamos. E se ele não gostar e se isso "estragar" a festinha, ótimo também, porque ele vai merecer por continuar sendo um babaca. Certo?

Eu não sei exatamente de onde aquela argumentação toda estava vindo, mas era a mais pura verdade do meu ponto de vista.

Renan ainda suspirou mais algumas vezes, pensando, e depois virou o telefone pra mim.

— Pelo menos parece que teremos defensores...

Na tela, uma mensagem do grupo piscava, cheia de coraçõezinhos e outros emojis bonitinhos.

Natália Guimarães: ai, gente, não tem como o JV ter qlqr outra reação que não apoiar! O Dani e o Renan são o melhor casal que a escola criou!

(sábado, 10:42)

-----------------------------------------------------------------------------------------------


As coisas mudam, né?

Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora