Novembro V

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É claro que a Natália não ia deixar aquilo passar.

Quando vejo todo mundo comentando o beijo, sei que foi obra sua a nova fofoca ter se espalhado tão rapidamente. Ela não disfarça; umas duas horas depois de termos voltado do almoço, quando estamos juntos perto do robô, ela chega pra mim e diz que perguntou para "algumas pessoas" se elas sabiam sobre eu e o Renan.

— Já que vocês fizeram aquilo no portão, não achei que fosse mais segredo, então...

— Não ligo, Natália — eu tiro sua falsa preocupação do caminho de uma vez. — Pode falar pra quem quiser, comentar com quem quiser. Não tenho nada a esconder.

E é verdade. Eu simplesmente não ligo mais.

Um pouco depois disso, os gêmeos são avistados no meio do público e, quando suas sobrancelhas se vincam no meio de uma conversa com a Isadora, já sei que vou ser questionado em algum momento se nos encontrarmos.

Não estou com paciência pra isso, então me isolo um pouco na quadra, debaixo das sombras do prédio principal da escola. Renan está em algum lugar com os parentes e me manda uma mensagem dizendo que a mãe também chegou, então ele tem que se dividir entre o pai e ela, que não conseguem ficar num mesmo ambiente juntos. Coitado.

Daniel Henrique: pelo menos eles vieram

(sábado, 15:48)

Eu digito a mensagem, mas detenho meu dedo de apertar o botão de enviar. Não quero soar dramático, nem que ele se preocupe comigo, então só mando uma carinha rindo e desejo boa sorte.

O ícone de um aplicativo pisca e vejo o nome do Sander na tela. Fico instantaneamente empolgado com sua mensagem de feliz aniversário. Está toda escrita em inglês e parece um pouco apressada, mas faz um tempo que não nos falamos, o que me deixa com saudades... Ele diz para responder assim que possível, para que possamos nos falar por vídeo, e estou prestes a fazer isso ali mesmo quando vejo um grupo se aproximando de mim na quadra.

Me sinto um pouco nervoso por motivo nenhum. Olho para os lados e percebo que estou sozinho ali. Minhas pernas tremem e noto que meu corpo reage da mesma maneira quando penso no meu primo, por exemplo.

Estou com medo. Mas por quê?

A trupe vem calada. Rafael, Gabriel, Caíque, Felipe, até o Gustavo! Os cinco se sentam ao meu redor na arquibancada, me cumprimentando brevemente. Ficamos todos em silêncio por alguns minutos que, confesso, me deixam tensos.

— Poxa, é teu aniversário, né, Dani? — Gabriel bate no meu ombro, me dando um susto enorme. Ele ri e me balança com o aperto. — Ficando velho igual a gente! Quantos são? Dezenove anos?

Balanço a cabeça em afirmativa. Os dois gêmeos assentem, comentando que somos do mesmo ano.

— Tu nem fala nada, né? Fica aí na surdinha! — Rafa brinca, os outros riem. — Nem pra contar que também tava namorando, hein?

Sabia.

Engulo seco e permaneço em silêncio.

Eles acham estranho a minha falta de reação e começam a brincar de me cutucar. Em algum momento entre as risadas e comentários sarcásticos, eu explodo e me levanto. Sei que devo estar vermelho como um pimentão bem maduro, inchado e visivelmente alterado, porque os olhos de todo mundo dobram de tamanho.

— Velho, foi só uma brincadeira, foi mal-

— Estou namorando mesmo, e daí? — eu corto o Rafael e a afirmação parece faze-los engolir as zoações seguintes.

Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora