— Sim. Mas você vai deixar de viajar pra-

— Te garanto que aqui vai tá mais interessante. — ele me interrompeu com um sorriso no canto da boca.

Às vezes eu queria ter essa desenvoltura toda pra falar exatamente o que estava pensando, então só mandei:

— Na minha casa ou na sua?

Sua mão veio pro meu cotovelo, depois meu antebraço, os dedos encostando na minha pele com o cuidado que alguém tem para não espantar um passarinho.

— Você decide a hora, o dia, o local... Qualquer coisa tá ótimo pra mim. Contando que você esteja lá, é claro.

Ele sorriu. Eu sorri de volta.

***

Na véspera do feriado, vem um recesso escolar muito bem-vindo. Renan está com a mãe, os tios e primos para "compensar que vai passar o dia seguinte todo fora de casa", ele justifica pra mim e pra eles, e com meus pais entretidos na TV, tenho um tempo livre para ficar de bobeira na internet sem que me pressionem a estudar. Minha mente está desacelerada então é uma segunda-feira tranquila, talvez a única até então naquele ano.

Sander me manda algumas fotos e vídeos da sua viagem para a Califórnia e eu me distraio no Facebook até o aplicativo de mensagens piscar na tela do meu notebook. Percebo que é um convite para um evento e minha curiosidade me faz clicar e abrir a mensagem imediatamente.

Leonardo Teixeira: Olá, está online?

(segunda-feira, 15:22)

Leonardo. O cara que conheci na feira de profissões da escola. Tenho seu contato desde então, mas raramente trocamos algumas palavras. Eu fico observando suas postagens sobre política e memes, mas nunca passamos disso. É a primeira vez que ele puxa assunto de verdade e eu demoro alguns minutos para responder que sim.

Leonardo Teixeira: Que ótimo! Belo timing.

Leonardo Teixeira: aproveitando o feriadão?

(segunda-feira, 15:27)

Daniel Henrique: não mto. Descansando. E vc?

(segunda-feira, 15:28)

Leonardo Teixeira: também. As coisas na escola estão indo bem?

(segunda-feira, 15:29)

Ele me surpreende um pouco com a vontade de conversar, mas talvez esteja só sendo educado, então respondo o de sempre. Achei que não tinha dado muita vazão para continuar o papo, mas Leonardo insiste. Pergunta sobre as matérias do ensino médio, diz que tem "saudades" e que eu devia aproveitar porque na faculdade as coisas ficariam bem menos divertidas...

Daniel Henrique: ué, pensei que gostasse do seu curso.

(segunda-feira, 15:40)

Leonardo Teixeira: haha não me leve a mal, eu amo o curso, mas ñ é moleza. Todo mundo acha que estudar "humanas" é fácil, mas nossa se eu soubesse...

(segunda-feira, 15:40)

Leonardo Teixeira: digo, ñ escolheria outra coisa, mas talvez ficaria um tempo fora, sei lá. Não iria direto pra faculdade como fiz.

(segunda-feira, 15:41)

Não entendo bem, então ele explica que passou no vestibular aos dezessete anos — dezessete! — e que, na época, quatro anos atrás, achou que era o maior feito da sua vida e que não poderia desperdiçar a oportunidade. É claro que eu pensei o mesmo, mas então Leonardo me cortou dizendo que experiência de vida conta muito mais lá dentro, principalmente no curso que ele escolheu fazer e que era o que eu estava escolhendo também.

Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Where stories live. Discover now