Ela não poderia ter pedido "tarefa" pior. Só de pensar no Carlos meu corpo inteiro se embrulhava como se pedisse para ser jogado no lixo... Até perdi a fome.

Renan estava sentado na mureta que separava o corredor do pátio principal, me esperando, como sempre. Usava um fone de ouvido enorme sobre as orelhas, os olhos atentos ao celular. Ele não me viu chegar e levou um susto engraçado quando o cutuquei.

— Chegou ontem, esqueci de te falar... — ele abriu um sorriso e tirou os fones da cabeça, me entregando o trambolho sem fio para examinar.

— Sander? — Renan assentiu. Levantei as sobrancelhas. — Parece muito bom.

— E é! Coloca aí pra ouvir!

Ele estava empolgado e não precisava fazer praticamente coisa alguma para me contagiar também. Só de sentar ao lado dele, de vê-lo rolar a playlist e comentar cada música e cada som reproduzido no meu ouvido... isso me injetava uma esperança esquisita, de que tudo ia ficar bem, sabe? Uma esperança de que se ele estivesse presente, eu conseguiria passar por cima de tudo. Conseguiria até tirar o Carlos da minha cabeça.

Esses pensamentos me deixavam meio envergonhado, não vou negar, então não colocava pra fora, mas fazia um esforço para acompanhar a empolgação que o Renan tinha com as coisas todas.

Tipo quando falou do feriado do dia sete de Setembro. Ele queria viajar. Parece que o Rogério ia para o interior com os amigos e havia nos chamado... nos chamado. Nós dois, incluído meu nome na conversa e tudo.

— Acho que é pro mesmo lugar que passamos o Ano Novo. É tipo no meio do nada, mas tem piscina e churrasco à vontade, então... — Renan subiu os ombros enquanto almoçávamos um hambúrguer da cantina no dia seguinte.

— Você... hm, disse alguma coisa sobre mim... pro seu irmão? — uma pulguinha atrás da orelha me incomodava um pouco.

Apesar da conversa toda esclarecedora que havíamos tido na semana anterior, Renan e eu não tocamos mais no assunto. Não nomeamos nem definimos nada, não contamos pra ninguém, então era como se nada tivesse realmente mudado, apesar de que no meu interior tudo era novidade.

Ele me olhou de soslaio e respirou fundo antes de responder.

— Não, Daniel, não falei nada, relaxa. — na verdade eu não estava preocupado com o fato do Rogério saber sobre mim, mas sim sobre nós... Se é que já existia um nós. — Enfim. Ele chamou nós dois, só temos que pagar uma parte da gasolina. E não fica caro, antes que você arrume uma desculpa. Minha mesada dá e sobra pra nós dois, certeza.

Suspirei.

— Você sabe que meus pais jamais me deixariam fazer uma viagem dessas, né? Ainda mais agora, em Setembro, nas vésperas dos vestibulares e do ENEM...

Renan fez uma careta derrotada, sabendo que meu rápido argumento era mais que convincente.

— Não dá pra você fugir? — ele subiu uma sobrancelha, irônico. Deixei escapar uma risada e senti suas mãos tocarem de leve uma parte exposta da minha barriga. Meu estômago congelou por um minuto quando Renan se aproximou.

Não sei se ele estava pensando em fazer alguma coisa, mas acabou só me observando de perto enquanto eu implorava em silêncio para que meu coração parasse de querer sair pela garganta.

— O que vai fazer no feriado então? Estudar não é uma resposta válida.

— Não sei. Fingir que estou estudando então.

— Posso fingir com você? — ele perguntou, ainda me olhando de perto.

Ponderei. A parte do meu cérebro que me dizia que seria a primeira vez que poderíamos realmente ficar a sós depois da "conversa esclarecedora" venceu muito facilmente.

Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Where stories live. Discover now