— Vem comigo. — ele não deixa tempo nem pra que eu responda.

Não sei o que está acontecendo, mas eu o sigo corredor afora, escada abaixo, contornamos o prédio principal da escola e vamos parar na parte de trás, ao lado da porta do almoxarifado. As pilastras são maiores ali e o movimento é quase inexistente. Ele para abruptamente e, hesitante, checa a porta do almoxarifado para constatar que está trancada. Acho o gesto confuso e estou prestes a perguntar o que ele está fazendo quando Renan me ataca.

É quase isso mesmo. As mãos no meu pescoço me puxando contra ele e ao mesmo tempo me empurrando para a pilastra. A boca pressionada na minha, me dando vários beijos espaçados, a respiração meio falha, exaltada...

Tento retribuir, mas me perco no meio dos movimentos e acabo rindo sem querer, e Renan ri também, mas não se desvencilha de mim nem para de me beijar. Na boca, na bochecha, no pescoço, na orelha!

— Quer me falar... — ele me interrompe com um beijo e eu solto uma risada. — o que está acontecendo?!

— Nada. — ele beija meu nariz. Renan é um tico mais alto que eu e não faz esforço algum pra beijar minha testa em seguida. Na verdade, acho que o esforço é justamente se abaixar um pouco pra encontrar minha boca mais embaixo. — Só estou agradecendo.

Levanto as sobrancelhas.

— Espera, por causa da prova? — eu tento afastá-lo, mas está meio impossível. Ele parece bastante contente e determinado.

— Uhum. — beijo na bochecha, testa encostada na minha.

— E a recuperação? Você passou na recuperação?

Ele sorri.

— Sim. Em todas as matérias.

Só então ele me beija de verdade, com vontade... Com muita vontade. É outro beijo diferente dos anteriores. Não é desesperado, está mais para tentador. Envolvente. Sua boca tem gosto de chocolate com menta, eu acho. Minha cabeça fica completamente fora do ar por alguns minutos, mas um barulho qualquer me desperta e me coloca em alerta máximo.

Sem querer, eu o empurro um pouco e me afasto. Não sei se o magoei com o gesto porque Renan só suspira e, alguns minutos depois, se encosta na pilastra ao meu lado, os olhos fechados, recuperando o fôlego. Percebo que também preciso de um minuto para retomar os batimentos cardíacos ao estado natural.

Nós não dizemos nada por um longo momento. Seu braço esquerdo está próximo o suficiente para encostar em mim... Me viro, o ombro direito na pilastra, e sem pensar muito entrelaço meus dedos da mão esquerda na sua, encostando minha cabeça em seu ombro, suspirando. O contato íntimo me parece esquisito de início. Me lembro que já tivemos momentos mais íntimos que esses, que até já dormimos na mesma cama (mesmo isso não tendo significado nada na época, creio eu), então insisto para que a sensação me deixe respirar direito.

Eu insisto para que aquilo, que ele seja.. se torne natural pra mim.

Sinto o polegar do Renan acariciar as costas da minha mão gelada. Ele está quente, quase suando, apesar de não estar exatamente fazendo calor. É a primeira vez que percebo que suas mãos são bem maiores que as minhas.

— Ninguém vem aqui. — ele diz, de repente. — Relaxa.

Não sei com que propriedade ele afirma algo tão fortemente assim, mas permaneço na mesma posição: cabeça abaixada sobre seu ombro, mãos dadas.

— Estamos dentro do colégio, na hora do almoço... Não acha meio, hm, arriscado? — murmuro.

Ele respira fundo.

— Se não arriscarmos de vez em quando, nunca conseguiremos nada.

Silêncio. Não sei bem como responder porque acho que ele tem razão. Até certo ponto.

— Sei que você tem medo de se arriscar... — ele continua. — Por isso, se eu não fizer, não vamos sair do lugar.

Levanto a cabeça e o encaro com a testa franzida.

— O que quer dizer com isso?

Ele revira os olhos e balança as pernas de modo impaciente, escorregando o torso na pilastra de modo que fica um pouquinho mais baixo que eu. Ele se ajeita por um momento antes de responder.

— Quero dizer que, se eu não tivesse te beijado, você não teria feito isso de novo depois de sábado. — ele me olha e eu não sei o que dizer. — Aliás, meses de insistência me provam que você não teria feito isso nunca.

Mas teria retribuído, eu penso. Assim como retribuí em todas essas vezes. Só não sei se teria tido a iniciativa...

E então percebo que ele tem absoluta razão, mas não digo isso em voz alta porque Renan ainda não terminou de falar.

— Você tem muito medo de arriscar, Dani.

— E você não tem?

— Tenho. Mas não tanto quanto você porque o medo nem sempre me impede de fazer o que eu quero. — ele pisca e respira fundo de novo. — Você devia arriscar um pouquinho mais de vez em quando. Fica mais fácil com o tempo.

Sinto seus dedos apertando os meus de leve e devolvo o gesto.

— Estou fazendo isso. — digo, percebendo que é verdade. Porque eu nunca beijaria ninguém dentro do colégio do jeito que estávamos nos beijando. Aliás, nem daria as mãos, nem ficaria tão próximo, nem...

Renan levanta as sobrancelhas na minha direção num tom de desafio, eu acho. Mesmo se não for, funciona porque me sinto desafiado a arriscar. Desencosto da pilastra e tomo a iniciativa talvez pela primeira vez na vida — acho que os aplicativos de pegação nessa hora não contam, certo?

Em vez de ser ele me puxando, dessa vez sou eu que estou com a mão em seu pescoço, sou eu que começo a beijá-lo, sou eu que nos aproximo mais... Mas é ele quem leva minha mão até sua cintura, que me puxa pelos meus quadris.

Não sei como acontece, mas parece que vamos nos fundir um ao outro de tão grudados que estamos. E fica meio impossível beijar porque quero chegar mais perto, então ele se afasta, beija minha bochecha e praticamente enterra o rosto no meu pescoço, na curva até a minha orelha.

Renan está quente mesmo que o clima permaneça ameno. O abraço é tão apertado que acho que o calor da pele dele está passando pra mim. Me sinto emotivo de novo, mas engulo o nó na garganta porque não quero estragar o momento.

É o melhor abraço que já ganhei na vida.

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Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Where stories live. Discover now