Eu entendi imediatamente o motivo, ele não precisava dizer. Como eu imaginava, essa devia ser exatamente a razão dele ter pedido para nos falarmos, os três, pelo Skype.

– Nossa, Texas?! Aí não é calor? Tipo, faroeste, palha rodando no vento, terra vermelha... Essas coisas? – engoli seco quando o Renan fez o comentário, surpreso.

Sander revirou os olhos.

– Não é palha, é... – ele franziu a testa por um instante e me buscou com o olhar. – Como se diz isso em português, hay?

– Feno. – respondi. Sander assentiu.

– É feno, Renan. Feno.... – o gringo soltou outra risada e Renan fez uma careta engraçada. – Que palavra estranha.

– Ninguém fala feno aqui. Nunca nem ouvi isso.

– Você não mora na fazenda, não passa nem perto de uma, não vai ouvir isso tão cedo aqui no meio dos prédios mesmo... – comentei, soando um tanto quanto rude sem querer.

Renan me encarou e suspirou um "que seja" sem graça e se ajeitou de novo, encostando-se na cama e cruzando as pernas mais confortavelmente.

Pelo computador, o olhar do Sander recaiu sobre mim, um pouco sério, um pouco preocupado.

– Você está bem? – ele me questionou. Eu balancei a cabeça, sem mais detalhes. Sander encarou Renan em seguida: – Acho que você não está fazendo seu papel muito bem...

Renan suspirou.

– Estou tentando, mas ele não me deixa...

Enruguei a testa, entendendo pouco do que eles estavam falando, mas Sander nem me permitiu perguntar, emendando o comentário do Renan à um sermão direcionado a mim:

– Daniel, se você não estivesse bem, você diria? Aqui, agora? – não respondi. Sander revirou os olhos. – Vamos parar de esconder as coisas, por favor? Um e-mail a cada quinze dias não vai fazer o trabalho completo...

Então Renan me encarou, os olhos tristes, aquela pontada de preocupação aparecendo de novo...  Só que vinda dele era, hm, novo. Não que o Renan não se preocupasse comigo, pelo contrário, mas... Eu tendia a afastá-lo quando isso acontecia. Ele não precisava se preocupar; não havia nada que pudesse fazer por mim mais do que já estava fazendo.

Certo?

No quarto naquele dia, porém, me senti incapaz de fazer isso, de afastá-lo. Seus olhos pareciam me dizer que, mesmo que o Sander não estivesse por perto, ele ainda estaria de braços abertos pra mim, bastava eu mesmo querer. E aquilo servia pra qualquer coisa...

A constatação não precisou nem de palavras, pelo menos não da minha parte.

Sander ainda disse um "viu só?" e algumas outras coisas, mas eu abstraí, um pouco sem fôlego. Será que esse também era o motivo da chamada urgente? Me abrir os olhos e mostrar que sempre tinha alguém do meu lado...? Tipo, pra qualquer coisa?

– Sempre... – ouvi a voz do Renan responder algo ao americano, mas não sei do que estavam falando. Minhas mãos suavam, meu coração estava acelerado.

Ele certamente não ouvira meus pensamentos, mas a palavra se encaixou como uma luva.

– Enfim, – a voz do Sander me puxou de volta. Ele me fitou por um tempo, fez um movimento estranho com a cabeça, e abaixou o olhar. – quero ver vocês bem, e saber que estão bem, mas não foi só por isso que eu chamei...

Respirei fundo. Renan se ajeitou do meu lado, ficando um pouco mais perto para a câmera do notebook nos pegar por completo. Espantei a nuvem de ansiedade de cima de mim e me concentrei de novo. A imagem do Sander se virou para o lado e, em inglês, chamou alguém para aparecer no vídeo.

Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora