Aprendendo a Gostar de Você {...

By jardimsecreto

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O último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte... More

Sinopse e Informações Gerais
Janeiro I
Janeiro II
Janeiro III
Fevereiro I
Fevereiro II
Fevereiro III
Fevereiro IV
Fevereiro V
Fevereiro VI
Fevereiro VII
Fevereiro VIII
Março I
Março II
Março III
Março IV
Março V
Abril I
Abril II
Abril III
Abril IV
Abril V
Maio I
Maio II
Maio III
Maio IV
Junho I
Junho II
Junho III
Junho IV
Junho V
Julho I
Julho II
Julho III
Julho IV
Julho V
Julho VI
Julho VII
Julho VIII
Julho IX
Julho X
Agosto I
Agosto II
Agosto III
Agosto IV
Agosto V
Agosto VI
Agosto VII
Agosto VIII
Setembro I
Setembro II
Setembro III
Setembro IV
Setembro V
Setembro VI
Setembro VII
Outubro I
Outubro II
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Outubro III
Outubro IV
Outubro V
Outubro VI
Novembro I
Novembro II
Novembro III
Novembro IV
Novembro V
Novembro VI
Novembro VII
Novembro VIII
Dezembro I
Dezembro II
Dezembro IV
Dezembro V
Dezembro VI
Dezembro VII
Dezembro VIII
Dezembro IX
Dezembro X
Agradecimentos
Playlist AGV
Dream Cast - Série "Aprendendo"

Dezembro III

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By jardimsecreto

Então é assim que meu ensino médio acaba. Um dia eu estou montando um robô, no outro eu já desliguei o alarme do celular. Não preciso mais acordar de madrugada, enfrentar um café da manhã silencioso ou pegar ônibus no ponto final e descer duas horas depois. Não preciso arrumar material escolar, colocar o uniforme pra lavar, ou sequer ligar o computador pra fazer uma pesquisa de última hora para a aula do dia seguinte.

No terceiro dia de férias (permanentes, até então), eu começo a entrar em pânico.

Não sei o que fazer dentro de casa. Toda hora fico esbarrando na minha mãe, que claramente também não faz ideia de como se comportar na minha presença. Ela não me dirige a palavra nem quando deixo seus rodos caírem, ou piso onde não devo enquanto ela limpa o chão. Ela sequer me chama para almoçar, porque faz basicamente três anos que não faz isso além dos fins de semana...

Me sinto mais que um intruso na minha própria casa.

Aliás, é num momento assim que me pego pensando sobre onde, afinal, é minha casa. Digo, meu lar, sabe? Onde eu realmente me pertenço, um lugar que me queira e que me sirva.

Definitivamente chego à conclusão de que não é ali mais, naquele condomínio, na casa de dois andares de frente à do Humberto, com um jardim, uma varanda e uma piscina no fundo.

Talvez nunca tenha sido.

Renan Souza: Vem ficar aqui comigo. Tb to morrendo de tédio.

(quarta-feira, 10:03)

Renan Souza: vou chamar um carro pra te pegar, tá? E se quiser dormir aqui...

(quarta-feira, 10:03)

Vou sem pensar duas vezes e o Renan me espera na portaria do prédio, de shorts e camiseta cavada, o cabelo despenteado e um bocejo atrás do outro.

— Não me olhe assim... Tava com sono atrasado há meses.

— Você praticamente hibernou nos últimos três dias!

— Eu disse meses. Não dá pra colocar o sono em dia tão rápido assim, sabia? — ele me cumprimenta com um beijo rápido, mas que faz o porteiro tirar o olho do jornal da TV pra nos observar. — Vem, a mãe da Bárbara tá fazendo uma lasanha pra gente.

Subimos, mas, no elevador, hesito um pouco porque ele não tinha mencionado que tinha visitas. Me sinto esquisito porque sei que a família inteira do Renan agora sabe sobre a gente, mas como essa moça — Vanessa, Vanessa — não é bem da família, não sei qual reação ela vai ter quando nos ver de mãos dadas.

É claro que nada disso preocupa o dono da casa, porque ele não desgruda de mim e continua falando em como os priminhos estão empolgados com as férias, e que a mãe teve que sair pra comprar sorvete pra eles, e que a Vanessa faz a melhor lasanha e blábláblá.

Renan é a tranquilidade em pessoa quando me apresenta (oficialmente) à Vanessa, e ele usa a nomenclatura "namorado" sem o menor esforço. Ela fica contente em "finalmente" me conhecer e ele cochicha dizendo que a mãe deve ter comentado, porque aquele obviamente é o assunto do ano na família deles.

— Calou a boca do meu tio, inclusive. Aquele que enchia a boca pra falar que sabia sobre eu e o Sander ano passado... — Renan dá de ombros. — Bem, olha só: agora todo mundo sabe. E foda-se.

Os primos dele realmente estão empolgados. Encontro os dois no quarto do Renan, jogando alguma coisa no notebook dele. Um garotinho e uma menina, que eu já vi antes e que o Renan obviamente já me falou sobre, mas não me lembro exatamente do nome de nenhum deles. Então sou apresentado de novo como "o namorado" para a Bárbara e o Miguel, que fica meio confuso por um momento sem que eu saiba exatamente o porquê. Mas essa confusão se desfaz rapidamente, porque a menina chama a atenção dele pra jogar e eles mergulham de novo na tela do notebook, esparramados no chão.

A vida é tão simples e fácil ali, dentro das quatro paredes do quarto do Renan, que eu fico muito mal acostumado, querendo que seja assim pra sempre!

Ficamos deitados na companhia dos meninos, conversando, brincando e rindo com eles, como se não houvesse amanhã. O almoço é um dos melhores, e a mãe do Renan volta com sorvete, fazendo a criançada ficar entretida com a comida por mais um bom tempo, dando espaço pra gente. Ela nem liga quando Renan tranca a porta do quarto comigo dentro, e eu não fico nervoso com o ato, ou com o fato de que ela me trata como se fosse parte da família também.

— Mas você já faz parte mesmo — entre um beijo e outro, Renan sorri pra mim, como se o simples comentário não fosse me derreter e me fazer transbordar. Ele tem que segurar meu rosto pra cima, as mãos nas minhas bochechas, pra impedir que algumas lágrimas escorram sem querer.

***

Passo os próximos dias indo pra casa do Renan de manhãzinha e voltando à noite. Chego em casa depois do jantar e depois da hora do jornal, então nem encontro meu pai sentado em frente à TV mais. Só nos dias de jogo é que eu entro e dou de cara com ele, que me ignora completamente, compenetrado no futebol e na latinha de cerveja na mão.

Nenhum deles pede qualquer explicação para as minhas saídas.

Então resolvo aceitar a segunda parte do convite e dormir na casa do Renan da sexta-feira em diante.

Arrumo uma muda de roupa e coloco na mochila antes de sair, bem cedinho. Quando desço para a cozinha, minha mãe está fazendo pães de queijo. O cheiro me preenche com uma sensação de nostalgia boa, de um tempo que ela acordava uma hora mais cedo só para prepara-los e eu levar pra escola.

Parece que foi há séculos, mas até dois meses atrás ela ainda fazia isso.

Quanta coisa mudou...

Paro no batente da porta e a observo, de costas pra mim. O cabelo sujo amarrado bem apertado num coque no alto da cabeça. Um avental na cintura, por cima de uma saia enorme que vai até o calcanhar. Não preciso ver seu rosto pra dizer que parece cansada, que tem rugas demais pra idade, que lhe falta aquele brilho nos olhos, sabe?

Me sinto inútil. Sei que minha mãe escolheu aquilo, mas vê-la se destruir dia após dia às vezes me faz questionar se sou forte o suficiente para assistir isso por mais tempo, sem fazer nada, calado, como fiz nos últimos dezenove anos.

Dona Neide se assusta ao me ver parado na porta e é assim que ganho seus olhos e atenção, pelo menos. Ela observa a mochila no meu ombro, os tênis calçados, a jaqueta pendurada no outro ombro...

— Eu vou... sair. — ela faz que sim com a cabeça sem se preocupar muito até eu emendar: — E não vou voltar. — aí ela se vira com a testa franzida, noto um fio de pânico perpassando pelo seu semblante e acrescento, sabendo que estou um pouco mais dramático que o habitual: — Não hoje, talvez no domingo, não sei. Vou dormir na casa do Renan.

Dona Neide pondera em silêncio, mas parece ignorar o que digo quando se vira para o forno e tira o tabuleiro de pão de queijo lá dentro, ajeitando-os sobre a mesinha da cozinha. Ela empurra um pratinho com fatias de presunto na minha direção.

— Toma café primeiro. Você tem saído sem tomar café todos esses dias. Faz mal.

Fico tão feliz com o convite que até perco a fala. Só sento e como tudo o que ela quiser. Aproveito a companhia e o silêncio, que hoje não parece muito desagradável, sabendo que meu pai já foi trabalhar.

Como se ouvisse meus pensamentos, minha mãe solta, bem baixinho:

— Seu pai não vai gostar de saber disso.

Penso por um segundo, minha mente vagando por anos de sufoco e apreenssão, e pergunto:

— Mãe, ele bate na senhora?

O olhar da dona Neide é três vezes maior e finca direto no fundo do meu. Chocada, ela parece desnorteada também. Gagueja. Deixa um pão de queijo cair. Eu suspiro, mantendo o sangue frio, e continuo:

— Porque eu nunca vi, mas não duvido de nada mais. E não me interessa se ele vai gostar ou não, mesmo porque, de acordo com ele, não sou filho dele mais, né? Então isso não deveria fazer diferença. Mas se ele fizer alguma coisa com a senhora por minha causa, se ele estiver descontando em você, eu juro qu-

— Não diga besteiras, Daniel. — ela me interrompe, a voz rouca. — Seu pai pode ser tudo, mas ele ainda é um homem honrado, que preza pela sua família acima de tudo. E... e ele não fez nada de errado! Ele só está pensando no seu futuro, na sua felicidade...

A última frase sai como um lamento e, mesmo contrariando sua linguagem corporal, eu decido que aquela será minha última tentativa.

Não posso salvar alguém que não quer ser salvo.

Termino o café da manhã e, antes de sair, eu digo pra ela me ligar caso precise de alguma coisa.

Eu sei que ela não vai, porém.

— E se ele e a senhora só querem a minha felicidade, não precisam se preocupar. Eu acho que estou no caminho certo, apesar de vocês acreditarem que não.

Ela balança a cabeça pensando em dizer alguma coisa, mas, seja lá o que for, prefere deixar pra lá e guardar de volta no pensamento.

Não sei se é nesse momento que a certeza batecom toda força dentro de mim, mas ela está lá: nós jamais vamos voltar a ser o que éramos antes.E, apesar dos pesares, vou ter que aprender a conviver com isso também.

Porquenão é o fim do mundo, é só o começo pra mim.

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Quem é vivo sempre aparece, né?

Desculpem a demora! Prometo que vou trazer mais capítulos em breve e com mais frequência! Aproveitem pra reler a história do Daniel e do Renan, porque infelizmente ela tá chegando ao fim :(

Vocês vão sentir falta? Eu com certeza vou </3

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