Aprendendo a Gostar de Você {...

By jardimsecreto

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O último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte... More

Sinopse e Informações Gerais
Janeiro I
Janeiro II
Janeiro III
Fevereiro I
Fevereiro II
Fevereiro III
Fevereiro IV
Fevereiro V
Fevereiro VI
Fevereiro VII
Fevereiro VIII
Março I
Março II
Março III
Março IV
Março V
Abril I
Abril II
Abril III
Abril IV
Abril V
Maio I
Maio II
Maio III
Maio IV
Junho I
Junho II
Junho III
Junho IV
Junho V
Julho I
Julho II
Julho III
Julho IV
Julho V
Julho VI
Julho VII
Julho VIII
Julho IX
Julho X
Agosto I
Agosto II
Agosto III
Agosto IV
Agosto V
Agosto VI
Agosto VII
Agosto VIII
Setembro II
Setembro III
Setembro IV
Setembro V
Setembro VI
Setembro VII
Outubro I
Outubro II
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Outubro III
Outubro IV
Outubro V
Outubro VI
Novembro I
Novembro II
Novembro III
Novembro IV
Novembro V
Novembro VI
Novembro VII
Novembro VIII
Dezembro I
Dezembro II
Dezembro III
Dezembro IV
Dezembro V
Dezembro VI
Dezembro VII
Dezembro VIII
Dezembro IX
Dezembro X
Agradecimentos
Playlist AGV
Dream Cast - Série "Aprendendo"

Setembro I

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By jardimsecreto

Por termos sido expulsos do time, por estarmos afastados do ciclo de convivência do pessoal, e por estarmos envolvidos em nossos próprios dramas pessoais, Renan e eu não nos atentamos muito para o resto do mundo naquele mês de volta às aulas.

Nem as Sextas-feiras D estávamos participando direito. Deixamos passar o Dia do Mendigo (o pessoal basicamente esfregou carvão na cara) e o Dia do Bebê (chupetas e mamadeiras, só). Na última sexta, porém, foi o Dia do Futebol e todos os do time foram com o "nosso" uniforme oficial. Meiões, caneleiras, chuteiras... Tudo o que tinha direito. Eu não me atrevi a colocar o uniforme, nem o Renan, então só ficamos observando de longe. Não imagino a confusão que teria sido se tivéssemos quebrado essa regra silenciosa...

Mas, quando Agosto acabou, a primeira semana de Setembro nos deu um pequeno vislumbre de como estava o clima entre nosso antigo grupo de "amigos", já que recebemos uma notícia que abalou quase que literalmente as estruturas do colégio.

Era dia primeiro, uma quarta-feira, quando notei ao subir as escadas o falatório vindo da secretaria no primeiro andar. Sim, dava para escutar em todas as partes do colégio provavelmente. Reconheci a voz na hora e, ao ver Felipe e Caíque de braços cruzados e cara de poucos amigos no corredor do nosso andar, sabíamos que alguma coisa tinha acontecido.

Não precisei chegar na minha classe, porém, para entender o que era: o time de futebol havia sido oficialmente expulso do campeonato intercolegial. Pelo visto, Carlos ainda estava tentando, mas a notícia chegou tarde e as inscrições que eles fizeram foram devolvidas — pelos meus cálculos, o campeonato já estava rolando, aliás, e eles só nos avisaram que não tinham nos incluído bem depois.

É claro que meu primo entrou colapso mental e saiu chutando tudo, até as pilastras da escola.

Ele gritava e xingava no primeiro andar e a inspetora gritava de volta. Os professores tiveram que interferir, atrasaram todas as aulas e, no fim, o Carlos ficou na secretaria o dia todo. Não era da minha conta, então não procurei saber o que houve com ele, mas acredito que uma advertência tenha sido o mínimo.

Manter o Carlos fora da minha vida e da mente, porém, era um trabalho árduo. Na hora do almoço, no meu encontro com a psicóloga, ela comentou sobre ele depois de ter se atrasado no atendimento.

— Desculpe a demora, Daniel. Estava atendendo um outro aluno... Carlos, Carlos Chagas. Ele é seu primo, correto? — Helena cruzava os dedos sobre a mesa.

— Infelizmente... — murmurei meio sem querer querendo.

Ela pediu que eu repetisse, mas só suspirei em resposta. É claro que tinha escutado, já que emendou o assunto:

— Vocês não são próximos? A informação que tive estava errada então? — continuei suspirando, ela também suspirou. — Quer conversar sobre isso?

Eu nunca quis conversar sobre nada com ela, essa é a verdade, né. Em todos os nossos encontros obrigatórios, posso contar nos dedos o número de frases completas que saíram da minha boca.

A psicóloga Helena permaneceu como sempre: me fitando incisivamente pra ver se me convencia com o olhar. O fracasso dela veio pela hora, já que seu celular vibrou indicando que nosso tempo se esgotara. Eu ainda precisava almoçar e ela tinha outros assuntos para cuidar além de mim.

— Bem, continuamos semana que vem, sim? — ela me encaminhou para a saída da sua salinha e colocou uma das mãos sobre meu ombro antes que eu a deixasse sozinha, porém, e pediu: — Tenho uma tarefa para você dessa vez, Daniel. Quero que pense um pouco sobre seu primo Carlos. Pense no que pode me contar sobre ele da próxima vez, está bem?

Ela não poderia ter pedido "tarefa" pior. Só de pensar no Carlos meu corpo inteiro se embrulhava como se pedisse para ser jogado no lixo... Até perdi a fome.

Renan estava sentado na mureta que separava o corredor do pátio principal, me esperando, como sempre. Usava um fone de ouvido enorme sobre as orelhas, os olhos atentos ao celular. Ele não me viu chegar e levou um susto engraçado quando o cutuquei.

— Chegou ontem, esqueci de te falar... — ele abriu um sorriso e tirou os fones da cabeça, me entregando o trambolho sem fio para examinar.

— Sander? — Renan assentiu. Levantei as sobrancelhas. — Parece muito bom.

— E é! Coloca aí pra ouvir!

Ele estava empolgado e não precisava fazer praticamente coisa alguma para me contagiar também. Só de sentar ao lado dele, de vê-lo rolar a playlist e comentar cada música e cada som reproduzido no meu ouvido... isso me injetava uma esperança esquisita, de que tudo ia ficar bem, sabe? Uma esperança de que se ele estivesse presente, eu conseguiria passar por cima de tudo. Conseguiria até tirar o Carlos da minha cabeça.

Esses pensamentos me deixavam meio envergonhado, não vou negar, então não colocava pra fora, mas fazia um esforço para acompanhar a empolgação que o Renan tinha com as coisas todas.

Tipo quando falou do feriado do dia sete de Setembro. Ele queria viajar. Parece que o Rogério ia para o interior com os amigos e havia nos chamado... nos chamado. Nós dois, incluído meu nome na conversa e tudo.

— Acho que é pro mesmo lugar que passamos o Ano Novo. É tipo no meio do nada, mas tem piscina e churrasco à vontade, então... — Renan subiu os ombros enquanto almoçávamos um hambúrguer da cantina no dia seguinte.

— Você... hm, disse alguma coisa sobre mim... pro seu irmão? — uma pulguinha atrás da orelha me incomodava um pouco.

Apesar da conversa toda esclarecedora que havíamos tido na semana anterior, Renan e eu não tocamos mais no assunto. Não nomeamos nem definimos nada, não contamos pra ninguém, então era como se nada tivesse realmente mudado, apesar de que no meu interior tudo era novidade.

Ele me olhou de soslaio e respirou fundo antes de responder.

— Não, Daniel, não falei nada, relaxa. — na verdade eu não estava preocupado com o fato do Rogério saber sobre mim, mas sim sobre nós... Se é que já existia um nós. — Enfim. Ele chamou nós dois, só temos que pagar uma parte da gasolina. E não fica caro, antes que você arrume uma desculpa. Minha mesada dá e sobra pra nós dois, certeza.

Suspirei.

— Você sabe que meus pais jamais me deixariam fazer uma viagem dessas, né? Ainda mais agora, em Setembro, nas vésperas dos vestibulares e do ENEM...

Renan fez uma careta derrotada, sabendo que meu rápido argumento era mais que convincente.

— Não dá pra você fugir? — ele subiu uma sobrancelha, irônico. Deixei escapar uma risada e senti suas mãos tocarem de leve uma parte exposta da minha barriga. Meu estômago congelou por um minuto quando Renan se aproximou.

Não sei se ele estava pensando em fazer alguma coisa, mas acabou só me observando de perto enquanto eu implorava em silêncio para que meu coração parasse de querer sair pela garganta.

— O que vai fazer no feriado então? Estudar não é uma resposta válida.

— Não sei. Fingir que estou estudando então.

— Posso fingir com você? — ele perguntou, ainda me olhando de perto.

Ponderei. A parte do meu cérebro que me dizia que seria a primeira vez que poderíamos realmente ficar a sós depois da "conversa esclarecedora" venceu muito facilmente.

— Sim. Mas você vai deixar de viajar pra-

— Te garanto que aqui vai tá mais interessante. — ele me interrompeu com um sorriso no canto da boca.

Às vezes eu queria ter essa desenvoltura toda pra falar exatamente o que estava pensando, então só mandei:

— Na minha casa ou na sua?

Sua mão veio pro meu cotovelo, depois meu antebraço, os dedos encostando na minha pele com o cuidado que alguém tem para não espantar um passarinho.

— Você decide a hora, o dia, o local... Qualquer coisa tá ótimo pra mim. Contando que você esteja lá, é claro.

Ele sorriu. Eu sorri de volta.

***

Na véspera do feriado, vem um recesso escolar muito bem-vindo. Renan está com a mãe, os tios e primos para "compensar que vai passar o dia seguinte todo fora de casa", ele justifica pra mim e pra eles, e com meus pais entretidos na TV, tenho um tempo livre para ficar de bobeira na internet sem que me pressionem a estudar. Minha mente está desacelerada então é uma segunda-feira tranquila, talvez a única até então naquele ano.

Sander me manda algumas fotos e vídeos da sua viagem para a Califórnia e eu me distraio no Facebook até o aplicativo de mensagens piscar na tela do meu notebook. Percebo que é um convite para um evento e minha curiosidade me faz clicar e abrir a mensagem imediatamente.

Leonardo Teixeira: Olá, está online?

(segunda-feira, 15:22)

Leonardo. O cara que conheci na feira de profissões da escola. Tenho seu contato desde então, mas raramente trocamos algumas palavras. Eu fico observando suas postagens sobre política e memes, mas nunca passamos disso. É a primeira vez que ele puxa assunto de verdade e eu demoro alguns minutos para responder que sim.

Leonardo Teixeira: Que ótimo! Belo timing.

Leonardo Teixeira: aproveitando o feriadão?

(segunda-feira, 15:27)

Daniel Henrique: não mto. Descansando. E vc?

(segunda-feira, 15:28)

Leonardo Teixeira: também. As coisas na escola estão indo bem?

(segunda-feira, 15:29)

Ele me surpreende um pouco com a vontade de conversar, mas talvez esteja só sendo educado, então respondo o de sempre. Achei que não tinha dado muita vazão para continuar o papo, mas Leonardo insiste. Pergunta sobre as matérias do ensino médio, diz que tem "saudades" e que eu devia aproveitar porque na faculdade as coisas ficariam bem menos divertidas...

Daniel Henrique: ué, pensei que gostasse do seu curso.

(segunda-feira, 15:40)

Leonardo Teixeira: haha não me leve a mal, eu amo o curso, mas ñ é moleza. Todo mundo acha que estudar "humanas" é fácil, mas nossa se eu soubesse...

(segunda-feira, 15:40)

Leonardo Teixeira: digo, ñ escolheria outra coisa, mas talvez ficaria um tempo fora, sei lá. Não iria direto pra faculdade como fiz.

(segunda-feira, 15:41)

Não entendo bem, então ele explica que passou no vestibular aos dezessete anos — dezessete! — e que, na época, quatro anos atrás, achou que era o maior feito da sua vida e que não poderia desperdiçar a oportunidade. É claro que eu pensei o mesmo, mas então Leonardo me cortou dizendo que experiência de vida conta muito mais lá dentro, principalmente no curso que ele escolheu fazer e que era o que eu estava escolhendo também.

Leonardo Teixeira: qdo eu resolvi fazer intercâmbio, nossa! Minha cabeça mudou completamente. A gente aprende mais fora da sala de aula q dentro, acredite

(segunda-feira, 15:53)

É claro que eu sabia disso, ainda mais tendo convivido com o Sander. Porém...

Daniel Henrique: ah deve ser mesmo, mas ñ penso mto nisso pq intercâmbio tá bem fora da minha realidade

(segunda-feira, 15:54)

Leonardo Teixeira: e vc acha que tava na minha?? Hahaha eu tb pensava igual vc, mas descobri UM MONTE de alternativas na faculdade.

Então ele me contou algumas dessas alternativas, que eu tive que anotar pra depois pesquisar por conta própria, é claro, porque o assunto me interessou muito, ainda mais quando ele soltou o seguinte:

Leonardo Teixeira: e passei seis meses em Portugal de graça, com tudo pago, sem ter que me preocupar com nada.

(segunda-feira, 16:03)

A conversa foi fluindo muito rapidamente depois disso. Ele me contava sobre esse intercâmbio e sua rotina, e eu acabei falando um pouco da experiência que tive com o Sander e em como eu sabia que aquilo poderia nos mudar pra sempre.

Como não nos encontrávamos pessoalmente, sei lá, isso me deu confiança (segurança?) pra conversar sem me policiar muito. Falamos sobre tudo da sua faculdade e isso me deixou bastante empolgado para encarar o segundo semestre do ano com a dedicação que eu precisava para estudar o que eu queria.

O cartão do ENEM chegaria no fim daquele mês e as inscrições para os vestibulares também tendiam a começar desde já. Como ele mesmo disse, o timing daquela conversa com o Leonardo não poderia ter sido melhor. Ele esclareceu o resto das minhas dúvidas e ainda me incentivou a seguir em frente com os planos.

O convite que mandara no início era para uma outra simulação da ONU que aconteceria no fim daquela semana na sua faculdade.

Leonardo Teixeira: aparece por lá, vai ser aberto ao público. É parecido com aquela que fizemos na sua escola, só que bem mais longa e mais emocionante, digamos

(segunda-feira, 17:16)

Daniel Henrique: precisa apresentar algo pra entrar ou...?

(segunda-feira, 17:16)

Leonardo Teixeira: não, não! Nada! E se me procurar ainda posso fazer vc ficar de camarote assistindo hehe

(segunda-feira, 17:17)

Ri pra tela do computador.

Um pensamento me ocorreu: ele não estava dando em cima de mim, estava?!

A imagem do Renan se projetou automaticamente na minha cabeça e eu engoli seco antes de responde-lo.

Daniel Henrique: posso levar mais alguém? Digo, um acompanhante pra assistir.

(segunda-feira, 17:18)

Leonardo Teixeira: claro! Quem vc quiser. Vai levar a namorada?

(segunda-feira, 17:18)

Todo mundo tinha que fazer aquela pergunta? Que coisa chata.

Leonardo Teixeira: ou namorado, não sei hehe

(segunda-feira, 17:20)

A mensagem seguinte me fez ficar piscando para a tela, meio atônito. Deixei a conversa aberta sem saber muito o que replicar até ele perder a paciência, eu acho.

Leonardo Teixeira: desculpa se fui invasivo, ñ vou fazer mais perguntas do tipo. Pode levar quem quiser, Daniel. À vontade, é aberto ao público como disse. E se quiser me procurar eu realmente faço vc e quem vc quiser levar assistirem mais de perto, blz?

Leonardo Teixeira: vou sair aqui pra encontrar uns amigos. Foi legal conversar contigo, ate depois! Aparece lá!

(segunda-feira, 17:33)

Ele ficou off-line sem que eu tivesse qualquer reação a não ser de surpresa. Não era só pelo conteúdo da pergunta, mas sim porque não fora uma brincadeira; ele não estava nem me julgando, dava pra ler isso nas entrelinhas!

Era a primeira vez que alguém perguntava aquilo pra mim de forma tão... natural e não soando enojado.

E também era a primeira vez que eu não sabia a resposta.

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