Aprendendo a Gostar de Você {...

By jardimsecreto

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O último ano do ensino médio foi premeditado como sendo uma verdadeira catástrofe e, eventualmente, com sorte... More

Sinopse e Informações Gerais
Janeiro I
Janeiro II
Janeiro III
Fevereiro I
Fevereiro II
Fevereiro III
Fevereiro IV
Fevereiro V
Fevereiro VI
Fevereiro VII
Fevereiro VIII
Março I
Março II
Março III
Março IV
Março V
Abril I
Abril II
Abril III
Abril IV
Abril V
Maio I
Maio II
Maio III
Maio IV
Junho I
Junho II
Junho III
Junho IV
Junho V
Julho I
Julho II
Julho IV
Julho V
Julho VI
Julho VII
Julho VIII
Julho IX
Julho X
Agosto I
Agosto II
Agosto III
Agosto IV
Agosto V
Agosto VI
Agosto VII
Agosto VIII
Setembro I
Setembro II
Setembro III
Setembro IV
Setembro V
Setembro VI
Setembro VII
Outubro I
Outubro II
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Outubro III
Outubro IV
Outubro V
Outubro VI
Novembro I
Novembro II
Novembro III
Novembro IV
Novembro V
Novembro VI
Novembro VII
Novembro VIII
Dezembro I
Dezembro II
Dezembro III
Dezembro IV
Dezembro V
Dezembro VI
Dezembro VII
Dezembro VIII
Dezembro IX
Dezembro X
Agradecimentos
Playlist AGV
Dream Cast - Série "Aprendendo"

Julho III

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By jardimsecreto

O sábado da Festa Junina parecia interminável.

Depois do ocorrido com o Joel, Renan o levou até a mesa dos pais para descansar. Ele estava abalado, mas disse que se sentia mil vezes melhor por ter colocado pra fora tudo o que pensava. Nós não sabíamos dos detalhes da sua saúde, física e mental, mas deu pra ter uma ideia de como as coisas haviam ficado depois que ele entrara em coma no ano anterior. Deixamos que ele tentasse relevar a situação naquela hora, porém, com a certeza de que poderíamos conversar sobre esses pontos importantes mais tarde.

— Valeu, velho. — ele agradeceu o Renan e se virou pra nós dois, já sentado na mesa com os pais e batendo o punho no lado esquerdo do peito. — Cês dois tão aqui.

Renan sorriu.

— A gente sabe. Relaxa, gordinho.

Joel subiu o dedo do meio pra ele, também sorrindo, e era nossa deixa para sair de perto.

— Vou procurar meu pai — Renan me disse enquanto andávamos entre as mesas na quadra descoberta. Levantei as sobrancelhas e ele revirou os olhos. — É, ele veio. Disse que quer que eu passe o fim de semana com ele, sei lá pra quê. E é bom que não tenha trago aquele embuste da "namorada" para a minha escola de novo.

— E você vai? Passar o resto do fim de semana com seu pai? — questionei, curioso. Renan subiu os ombros.

— Não sei. Não tô a fim, mas minha mãe também insistiu. Parece que ele vai viajar o resto do mês e tal, e daí não vai estar aqui no meu aniversário, então sei lá, acho que quer compensar agora. — ele bufou, cínico. — Compensar por ter ficado os seis meses passados só trocando mensagens no whatsapp perguntando como estava indo no colégio ou se a mesada era o suficiente.

— Pelo menos agora ele quer fazer isso pessoalmente... — também levantei os ombros e o Renan forçou a expressão de impaciência na minha direção.

— Eu me jogo do carro se a primeira pergunta que ele me fizer for sobre a escola. — ele fez uma pausa desnecessária e abaixou a voz um pouco. — Mesmo porque a resposta não vai ser lá muito satisfatória...

— Renan! — paramos entre duas mesas vazias. Ele se escorou numa das cadeiras e revirou os olhos na minha direção. — Não me diga que você pegou recuperação no meio do ano? De novo?!

— Tá, então não digo.

Arqueei as sobrancelhas, me sentindo ultrajado. Eu tinha me esforçado ao máximo nas últimas semanas para me safar da recuperação, e o boletim do Renan não estava tão ruim que não pudesse ser consertado. Mas ele não tinha pedido ajuda alguma, ou sequer comentado o fato, então eu... Egoisticamente me preocupei só comigo, é claro.

Um primor de amigo esse que você é, Daniel Henrique.

Fiquei realmente sem palavras, porque isso significava que ele não teria férias direito, e no ano anterior ele já tinha pego recuperação, e não viajara, e não aproveitara nada...

— Bem, saberemos semana que vem. — ele concluiu a questão, desviando nosso pensamento para outra coisa em seguida: — E aí? Seus pais estão aqui, né? Onde?

Balancei a cabeça, ignorando a mudança brusca de assunto.

— Não sei, vou procurar também...

Ele assentiu, apertou meu braço de leve e disse que nos encontraríamos depois, me deixando sozinho na quadra. Não demorei muito para achar a mesa dos meus parentes — principalmente porque eles tinham juntado três delas. Havia uma dezena de cadeiras e outra infinidade de latinhas de cerveja ao redor. Meus tios e meu pai estavam rindo de algo, gargalhando, a voz no último volume, ultrapassando a mixagem de som que o DJ fazia alguns metros dali.

No canto oposto na mesa gigante, meu primo Carlos estava sentado conversando com dois caras quase idênticos. Gêmeos, na verdade: Gabriel e Rafael.

Também fazia muito tempo que eu não os encontrava, desde a vez que apareceram no treino de futebol de supetão. Quando me aproximei da mesa, porém, minha mãe me passou um potinho com arroz doce... e os gêmeos me chamaram. Pensei ter ouvido errado, mas não: eles gritaram meu nome e gesticularam para que eu chegasse perto, então eu fui, pé ante pé. Carlos não levantou o olhar enquanto eu os cumprimentava, nem quando eles deliberadamente me incluíram na conversa que estavam tendo.

Os dois não haviam mudado um fio de cabelo sequer — aliás, minto. Os cortes estavam mais retos e menos joviais, eu acho. Mas fora isso pareciam os mesmos moleques de sempre: jeans, camiseta de marca, tênis de corrida e gelzinho nos cabelos castanho-claros, iguais aos do Luiz Eduardo, com quem compartilhavam a genética.

— E aí, nerd? — Rafael apertou minha mão livre.

— Bom demais? — Gabriel fez o mesmo no meu ombro esquerdo, passando o braço sobre ele, soando muito amigável.

Eles conversavam sobre o que era a vida depois do ensino médio. Como já era de conhecimento nosso, os gêmeos tinham ambos entrado na faculdade de administração, acredito que mais por pressão familiar que qualquer coisa, e diziam estar finalmente empolgados com a ideia de serem universitários por causa das festas. Ambos estavam trabalhando também, quatro horas por dia, na agência bancária na qual o pai era gerente.

Enquanto ouvia os dois falando, aquele sentimento que eu normalmente tinha ao escutar basicamente qualquer um dos meus colegas ricos foi se apossando de mim. Eles tinham oportunidades que eu jamais tive e sequer imaginava que teria. Quando que eu conseguiria um estágio num banco no primeiro período de faculdade?! Aliás, não só eu, mas qualquer pessoa "normal", sem os contatos que eles tinham...

Os gêmeos não eram estudiosos, nunca foram. Fiquei imaginando quantas pessoas mais esforçadas e dedicadas estavam sendo privadas de um emprego só porque o pai dos dois mandava no negócio. E imaginei quantas vezes mais eu teria que me esforçar só para conseguir parar de cogitar aquelas hipóteses e visualizar um futuro meramente possível pra mim...

— Cês viram o Joel aí? Ele tá fortão! Nem parece que ficou aquele tempo todo no hospital... — Gabriel comentou, me tirando do devaneio.

Carlos subiu uma sobrancelha, completamente desinteressado. O irmão continuou a conversa, como sempre faziam, sem depender de ninguém "de fora" pra manterem o diálogo:

— Pois é! Ele se recuperou de boa né... — Rafa concordou.

Respirei fundo e resolvi abrir a boca.

— Nem tão "de boa" assim. — os dois se viraram pra mim. — Ele passou por maus bocados, ainda passa, aliás. Mas ninguém parece ligar muito.

— Que isso, velho! Claro que liga! Ele mudou de colégio, né? Se tivesse aqui, seria outra coisa. — Gabriel disse.

— Aposto que todo mundo ia tratar ele feito rei. — Rafael complementou. — Tipo, não que ele não tenha passado os maus bocados, claro, e todo mundo ficou preocupado. Não iam deixar ele passar necessidade nem nada. Cês iam super apoiar ele em tudo...

Encolhi os ombros e olhei de soslaio pro meu primo, que em algum momento havia cruzado os braços e desviado o atenção da conversa.

— Nunca saberemos. — concluí, apesar de saber, sim, que não seria bem daquele jeito.

Não sei se os dois iam continuar o assunto, porque alguém apareceu nos interrompendo e me dando um susto enorme. Vindo de alguma posição às minhas costas, Luiz afastou uma das cadeiras da nossa mesa para poder passar por mim e chegar aos primos, com os quais trocou algumas palavras sem se preocupar com a minha presença (ou a do Carlos).

— Toma. Seu pai pediu pra vocês não irem embora tarde. — pelo que vi, Luiz havia entregado as chaves de um carro pros dois.

— Eles vão com sua mãe? — Rafa perguntou, Luiz fez que sim com a cabeça. — Vão levar a Milena?

— Sim, vai todo mundo num carro só. — eles pareceram questionar algo que não escutei, e o Luiz concluiu. — Eu vou ficar, então vai caber todo mundo no nosso carro.

— Vai voltar com o William? — Gabriel perguntou, tirando as chaves da mão do irmão. Da cadeira à nossa frente, Carlos voltara a observar a conversa com certa impaciência no olhar.

Notei quando o Luiz revirou os olhos e imediatamente reprimi um riso.

Era impressionante o quanto os gestos dele me eram familiares.

— Por quê? Vocês vão me levar em casa?

Os gêmeos se entreolharam e deram de ombros.

— Se não formos fazer nada depois daqui, pode ser, ué.

O primo deles suspirou audivelmente.

— Tá, sei. A gente se fala depois, beleza? — e saiu sem dizer muito mais, ou sequer olhar pra mim ou pro Carlos.

Os gêmeos discutiam algo sobre as chaves que lhes foram entregues quando meu primo reclamou atenção com um suspiro forçado, um "ai,ai" rabugento. Nós o fitamos, os gêmeos com as sobrancelhas arqueadas.

— Agora cês viraram todos amiguinhos? — percebi quando Carlos me lançou um olhar rapidamente antes de concluir a fala. — Ou toleram porque são parentes, né, é isso?

Os gêmeos se entreolharam; acho que estavam conscientes de que a cutucada do Carlos se referia a mim. Eu estava muito consciente disso, o que deve ter feito minhas feições me denunciarem, porque enfiei o potinho de arroz doce quase todo na boca pra não ter que interagir.

— Nunca fui inimigo do Luiz — o Rafa afirmou. — E sei lá, ele não é uma pessoa diferente.

— Pra falar a verdade, ele melhorou pra caramba depois que começou a namorar. — o Carlos abriu a boca em incredulidade e o Gabriel continuou: — É sério! Tipo, ele meio que deixou de ser crianção, saca? Porque o Luiz sempre foi mais paradão e tal. E o William meio que empurra ele pra frente, sei lá. Não sei explicar.

— Epa, calma lá que não quero saber da vida sexual do seu priminho não, valeu. — Carlos descruzou os braços e fez sinal pra eles parassem. Os gêmeos riram de lado.

— Tipo, sei que tu não gosta "dessas coisas", mas deixa eles serem felizes, ué. Não tá te afetando em nada... — Rafael subiu os ombros, me lançando um olhar rápido, mas certeiro. — Na verdade, se for reparar bem, fica até bem melhor pra nós.

Os gêmeos se entreolharam e se cutucaram, rindo.

— Quanto mais cara gay, mais sobra menina pros héteros, né não?

Aquele pensamento era ridículo, mas confesso que as palavras me deixaram um pouco menos incomodado com os dois. Não me lembro de já ter ouvido os gêmeos falando algo do tipo, ou sequer comentado sobre o primo daquela maneira, mas o posicionamento levemente contrário ao Carlos me agradou. Eles não o contradisseram explicitamente, mas as entrelinhas eram muito visíveis, pelo menos pra mim.

E o Carlos não gostou muito do opinião deles, tanto que se esforçou pra mudar de assunto logo em seguida, então só pelo desconforto do meu primo dei um crédito a mais ao Rafa e o Gabriel.

Sair do ensino médio tinha realmente feito bem pros dois. Será que faria milagre com outras pessoas também? Instintivamente torci que sim, porque infelizmente minha convivência com algumas não se resumiria aos tempos de escola.

Afinal, família a gente não escolhe, né.

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Né?

Vou postando mais vezes porque Julho é um mês atribulado na vida dos meus meninos, então pega a cadeira e senta aí porque temos MUITA coisa pra rolar ainda.


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