-Estás a assustar-me.-Ele admitiu e eu respirei fundo, sentando-me ao seu lado no sofá.
-Lembras-te do dia em que eu fui ao memorial nas férias da Páscoa?-Eu perguntei enquanto ganhava coragem para lhe contar.
E se ele ficasse zangado por eu não lhe ter contado mais cedo?
-Sim.-Ele respondeu.
Tentei falar mas as palavras não me saiam da boca. Os acontecimentos desse dia começaram a chegar à minha cabeça e senti-me tão tonta como quando me aproximava do memorial.
-Euconheciaminhatia.-Eu disse demasiado rápido para o ouvido humano entender.
-Como?-Ele perguntou confuso.
-Eu conheci a minha tia.-Eu repeti mais calmamente.
-Tens uma tia e não me contaste?-Ele perguntou com um sorriso enorme.
-Só descobri nesse dia.-Eu expliquei ainda que confusa pela sua súbita felicidade.
-Tens a certeza que não era uma pessoa a fazer passar-se por uma tia tua?-Ele questionou.
-Eu estava a chorar no memorial e ela chegou à minha beira e acalmou-me. Quando lhe perguntei que é que ela tinha perdido ela disse que foi a sua irmã, Beatrice Ross White. Eu vi nos olhos dela que ela não estava a mentir.-Eu expliquei olhando para as minhas mãos, sentindo as minhas emoções à flor da pele.
-Maya isso é um máximo!-Ele comentou rindo.
-Não, não é.-Eu discordei.
-Encontraste a tua família, como é que isso não é um máximo?-Ele questionou confuso.
-Porque ela foi estúpida com minha mãe.
-Conta a história do início, Maya.-Ele pediu e eu respirei fundo.
-Tess Ross Moore é o nome da minha tia. Ela e a minha mãe zangaram-se, depois dos meus avós morrerem, por causa da herança. A minha mãe saiu de casa mas ela mandava sempre mensagens no natal e assim porque apesar de tudo a minha tia era importante para ela. A Tess nunca respondeu. A partir do natal de 2001 ela deixou de mandar mensagens e a minha tia apenas ignorou. Só há poucos anos, quando decidiu procurar a minha mãe, é que ela descobriu que ela tinha morrido e desde então vai ao memorial. Ela nunca viu o meu pai porque primeiro não o conhece e além disso os dias em que o meu pai costuma ir não coicidem com os dela.-Eu esclareci.
-Pelo menos ela tentou encontrar a tua mãe.-Ele reparou depois de ter passado uns momentos a pensar no que responder.
-Ela só a procurou porque a filha dela pediu que ela o fizesse.-Eu revelei, com os olhos humedecidos.-Ela não sentiu a falta da sua irmã, não tentou contactá-la estes anos todos depois dela deixar de mandar mensagens e ainda vai ao memorial chorar? Vai lá chorar a morte dela? Da irmã que sempre sentiu falta? Da irmã que abandonou? Não. Ela vai lá chorar porque parece bem. Ela vai lá porque se não fosse era mal vista. E ela pode se ter arrependido, mas teve muito tempo para o fazer e não disse nada.-Eu conclui engolindo em seco, mesmo já sendo tarde demais pois as lágrimas já caiam no meu rosto.
-Ela pode sentir a falta dela.-Ele disse e eu olhei-o incrédula.
-Sim, claro, porque ela tentou falar com ela e tudo.-Eu ironizei.
-Ela pode ter um orgulho muito grande.-Ele insistiu, pondo um braço no meu ombro e puxando-me para si numa tentativa de me acalmar.
-Mas quando a falta que uma pessoa faz na tua vida é grande, o orgulho não importa.-Eu disse.
-Eu sei, Maya, mas ela pode estar arrependida de ter sido tão orgulhosa. Dá-lhe uma segunda oportunidade.-Ele sugeriu.
-Não, não, não.-Neguei.
-Esta é a tua oportunidade de estares mais próxima da tua mãe, não a deixes escapar.-Ele encostou a sua cabeça à minha.
-Eu não sei se consigo encará-la depois de saber o que ela fez.-Admiti, limpando as lágrimas.
-Imagina-te no lugar dela: fizeste merda da grande com a tua irmã e quando percebeste isso foi tarde demais; anos mais tarde descobres que existe uma pessoa que é a coisa mais próxima que tens à tua irmã mas essa pessoa não te perdoa pela merda que fizeste; não há maneira de voltar atrás e aquilo que fizeste vai assombrar-te para o resto dos teus dias. A Tess não pode fazer nada para emendar o que fez, mas tu podes fazer uma coisa para emendar toda a zanga que aconteceu entre a tua família: perdoar. E pelas mensagens que a tua mãe mandava, acho que era isso que ela queria.-Ele concluiu.
-Eu sei.-Concordei.-É só que...acho que preciso de me habituar à ideia de a perdoar. E também ainda não sei se devo contar ao meu pai ou não. Ele não sabia que a minha mãe tinha uma irmã.
-Eu acho que devias, ele tem o direito de saber, não?-Ele questionou e eu encolhi os ombros.
-Acho melhor só lhe contar mais para o final do ano. Quando a escola e os testes já tiverem acabado.-Eu disse e ele assentiu.
-Porque é que não me contaste mais cedo?-Ele perguntou e eu olhei-o nos olhos.
-Duas razões. Primeira: quando descobri tu contaste-me do teu pai e eu não queria ser uma estúpida a falar do meu mínimo problema, depois não te queria preocupar com isto antes do concurso. Segunda: já viste o estado em que fico quando te conto algo deste género?-Eu perguntei e ele olhou para mim, limpando a minha cara com uma das suas mãos.-Eu sinto-me estúpida. Estúpida por chorar por coisas mínimas como estas. Choro muitas mais vezes do que aquelas que sabes mas é mau. Porque há pessoas a passar por coisas muito piores e eu estou aqui a lamentar-me da minha vida que é incrível apesar de às vezes doer.
-Ross, não é estúpido.-Ele negou com os seus lindos olhos a fitar-me atentamente.-Podem haver pessoas a passar pior, e isso é verdade, mas isto é mau. Tem o seu grau de gravidade. Além disso, mesmo que não fosse tão mau assim, toda a gente consegue aguentar uma situação desconfortável durante algum tempo, mas passado muito tempo as pessoas vão-se a baixo.
-Ainda assim, pareço ingrata pelo que tenho.-Eu insisti, chorando mais.
-Só o facto de dizeres isso, faz de ti não ingrata.-Ele sorriu mas eu não mudei a minha expressão.-Disseste que chorava muitas mais vezes do que as que eu sei... Podes contar comigo para desabafar.
-Eu sei, é só que... Não é só para não te preocupar. É que eu tenho medo. Medo de confiar. Eu quero que me entendas e que me ajudes mas...e se eu te contar e depois...eu não quero sair desapontada nem quero magoar-me ao confiar em alguém.-Eu expliquei.
-Eu compreendo-te. Sentes-te vazia, precisas de alguém em quem possas confiar mas não queres que essa pessoa traia a tua confiança. Mas ainda assim queres abrir-te com alguém, mas o medo impede-te.-Ele concluiu.-Se algum dia, eu traisse a tua confiança, Maya, eu não me perdoaria.
-Obrigada, roomie.-Eu agradeci.-Por seres quem és e por estares aqui para me aturar quando eu tenho estas crises estúpidas de choro.-Eu ri um pouco, limpando as lágrimas.
-Faz como eu, culpa a vida por isto tudo.-Ele riu.-Vamos dar uma volta.
-Ashton, é meia noite.-Eu disse.
-Tens razão, daqui a uma hora saímos.-Ele corrigiu enquanto sorria para mim.
-E então as "Cinquenta sombras de Grey"?
-Agora ver filmes sobre sexo comigo parece-te interessante?-Ele questionou erguendo uma sobrancelha.
-Não mas eu queria fazer uma maratona de filmes e séries.-Insisti e ele riu.
-Eu vou animar-te vá. Além disso tu sabes que sempre que eu disse "Vamos dar uma volta" o resultado foi uma coisa fixe.-Ele reparou e eu sorri.
-Está bem, daqui uma hora saímos.-Eu cedi.
-Ótimo! Até lá, vemos a primeira hora do filme.-Ele pegou numa manta e colocou a por cima de nós.
-Diz-me que na primeira hora não há sexo.-Eu pedi e ele riu um pouco.
-Claro que não.-Ele disse num tom irónico.
Bonito. Pensei enquanto o filme começava.
-------
Hey!
Maratona de capítulos
Capítulo 1/5
Capítulo dedicado a SofiaMorais609 ❤❤❤ Obrigada por acompanhares esta fic, por comentares e por votares. Espero que gostes destes updates ❤❤❤
Ela contou-lhe da Tess e ele reagiu bem!!!
Os meus Mayshton feels estão à flor da pele!!!
Eles são a minha otp. Alguém está comigo? Kkk
O que é que acham que eles vão fazer à uma da manhã?
Próximo capítulo daqui a um bocado ehehe comentem já tudo o que tenham a dizer xD
O próximo capítulo é um dos meus preferidos mas eu só o vou publicar quando tiver a certeza que vocês estão a ler isto por isso votem e comentem meus amores u.u
Estou muito entusiasmada por esta maratona kkk espero que gostem
A propósito...e este é um aparte mais triste...parti o ecrã do meu telemóvel...está aos pedacinhos. *emoji a chorar*
Bjs e até daqui a nada xx