CXI. A Última Missão

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Lyssa não teve tempo para se recuperar.

Ainda chorava por Alick, sentindo as lágrimas correrem livres por seu rosto, enquanto a curandeira aplicou todos os feitiços possíveis para colocá-la novamente em pé.

A ferida não doía mais, mas o curativo a fazia se lembrar que não podia se esforçar nem um pouco. Qualquer contração mais forte dos músculos de seu abdome poderia fazer com que a ferida se abrisse novamente e todo o trabalho da fada que a ajudara fosse desperdiçado. 

Alguém perguntou a Lyssa se ela tinha condições de lutar, mas a fada não conseguiu responder. Ela apenas ficou parada, olhando para a Floresta em chamas ao redor da Árvore e rezando para que tudo aquilo fosse um pesadelo.

Num momento, ela teve certeza de que desceria até a barricada e encontraria Alick ali, lançando flechas contra os elfos e rindo enquanto fazia isso. Mas sua parte racional sabia que era apenas uma esperança inútil.

Tinha visto tantas bruxas morrerem, era hipocrisia chorar por uma, Lyssa disse a si mesma. Mas não era amiga das outras, não como se tornara amiga de Alick Ferro-Brasil. A amiga sequer teria um funeral, sequer seria lembrada depois que tudo aquilo acabasse.

Em luto, Lyssa mal percebeu quando alguém lhe tocou o ombro, chamando seu nome.

— Ei, acorde Lyssa. — Era Eisa quem falava. — Não temos tempo para luto.

—E-eu... — Ela se sentia novamente como aquela fada recém-nascida, sem qualquer nível de compreensão da realidade. — Desculpe-me.

Eisa a encarou por um momento, parecendo simpatizar com a dor da herdeira de Fedra.

— Está tudo bem. — Disse a capitã, por fim. — Mas a Rainha quer vê-la.

A batalha ainda rugia do lado de fora, Lyssa não sabia muito bem o que tinha acontecido desde que ela fora tirada de lá. Esperava que ao menos uma parte das bruxas tivesse sobrevivido, mas começava a duvidar que as fadas pudessem segurar aquela posição por muito tempo.

Os sons que vinham do lado d fora da Árvore eram assustadores, pareciam tirados dos piores pesadelos, mas estavam de fato acontecendo a não mais que vinte metros de distância. Exausta e ferida, Lyssa sabia que devia encontrar uma forma de ajudar, mas não sabia como ser útil.

— Onde ela está? — Perguntou, finalmente, mancando na direção do corredor que levava até a sala do trono.

— A Rainha descansa em seu quarto, se recuperando.

— Ela não está lutando? — Lyssa estranhou aquele fato.

— Ela... — Eisa mediu as palavras. — Você vai entender. — A forma como a capitã disse aquilo, com pura tristeza nos olhos, fez com que a mais jovem temesse o que estava por vir.

Mancando, Lyssa subiu pelo interior dos galhos até chegar no local em que Fedra habitava, um quarto nem um pouco maior do que aquele que era reservado a todas as outras fadas que moravam ali. Alguns livros descansavam numa estante próxima a uma mesa cheia de papéis com anotações. Uma porta levava ao quarto onde a jovem imaginava que a Rainha descansava.

Lyssa obrigou-se a deixar de lado a própria dor ao ver o estado em que Fedra se encontrava. O que quer que tivesse acontecido, a tinha destruído. Além dos ferimentos óbvios, que tinham sido remediados por curandeiras, ela parecia fraca, tão exausta quanto a própria herdeira se sentia.

— Finalmente. — Ela falou com a voz rouca ao perceber a visitante. — Suponho que Eisa tenha demorado para encontrá-la.

— E-eu vim assim que pude. — Lyssa respondeu, mancando até a cadeira ao lado da cama. Fedra fez uma careta ao ver a forma como a jovem se movimentava.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora