LXXI. A Legião Desaparecida

90 19 159
                                    

Escoltada pela pequena tropa de Midggellers, Dalária cruzou a abertura do Vale de Parsos até entrarem novamente no território de seu reino.

A fronteira em si era marcada por nada mais que uma pequena sinalização na estrada que ligava o Vale aos reinos ao sul. Havia um forte numa colina ao norte, mas este permanecia sem guarnição há alguns anos, apenas sua contraparte oriental era guardada por soldados que protegiam o reino de orcs e intrusos de outros reinos.

— Onde fica o tal acampamento? — Limenn perguntou, após várias horas daquela caminhada exaustiva. Segundo os cálculos da Rainha, chegariam ao acampamento no final da tarde.

— Basta seguirmos para leste. — Ela respondeu. — Chegaremos lá, eventualmente.

Ninguém, exceto ela e o feérico, falavam durante a viagem e mesmo estes só o faziam quando era necessário. Era claro que aquele acordo não agradava a todos, mas Dalária agradecia silenciosamente aos deuses por ter conseguido escapar com vida daquela situação. O preço era alto, recursos caros que provavelmente a fariam perder certo prestígio na corte.

"Cuidarei disso quando chegar a hora", refletiu.

Um pouco antes da hora prevista pela Rainha, o grupo atravessou um pequeno e plácido riacho, cujas águas provavelmente afluíam para o Parsos, alguns quilômetros ao norte. Além do veio d'água, haviam sinais da passagem de um grande grupo de indivíduos. Para Dalária, isso confirmava que o acampamento ficava do outro lado da próxima colina.

Ela olhou para o lado e viu que Limenn encarava os rastros de carroças e os arbustos esmagados no caminho.

— Devem estar atrás daquela colina. — Ela apontou para o local indicado. — Mais alguns quilômetros, apenas.

— E como pode garantir que suas tropas não nos atacarão? — Perguntou um dos Middgellers que trotava à frente do grupo.

— Nós temos um acordo, não temos? — Perguntou Dalária, um tanto impaciente com a desconfiança dos animais mesmo após a assinatura do tratado mágico. — Um acordo que eu não pretendo, nem posso, violar. Provavelmente pensarão que eu enlouqueci, mas ficarão relativamente felizes de ter sua rainha de volta.

O touro apenas grunhiu em resposta, não disposto a argumentar, e a rainha agradeceu aos deuses por aquilo. Não queria discutir com aquelas criaturas imbecis. Ainda que Limenn fosse agradável, inteligente e com boas reflexões, ela estava ficando cansada da companhia daqueles gigantes semi-irracionais.

— Não aguenta mais, não é mesmo? — Perguntou o feérico, após alguns minutos. — Ficar entre nós, selvagens?

Dalária não conseguiu evitar o riso.

— Parece que os anos de política me desacostumaram à vida de legionária. — Respondeu.

— Lutou muitas batalhas? — Limenn parecia subitamente interessado no passado da rainha, algo pelo qual ela não esperava.

— Não contra o seu povo. — Não era mentira. — Os reis têm a desagradável mania de enviar seus filhos para fazer o serviço sujo. Uma forma de criar líderes duros e eficazes, eu acho. — Dalária encarava o horizonte enquanto falava, sentindo-se desconfortável em falar aquelas coisas para aqueles que ela vira como inimigos mortais até poucos dias antes. — Durante o reinado de meu pai, lutei várias batalhas contra os reinos anões.

O feérico assentiu, pensativo.

— Lutou em Nívellir? — Ele indagou após alguns segundos de silêncio.

— Encontre um elfo que estava vivo naquela época que não tenha lutado. — Mais uma vez, as memórias daquela noite inundaram sua mente, os gritos ainda assombrando seu subconsciente.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora