XVIII. Santuário

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- Um Santuário. - Dissera Asmin. - Um lugar de adoração e proteção, construído pelos deuses em tempos antigos para abrigar os seus filhos em tempos de necessidade.

- Presumo que estes filhos dos quais fala a lenda sejam elfos? - Dreika perguntou, interessada, porém receosa.

- A lenda é anã. - Explicou a bruxa de cabelos loiros. - Provavelmente esta escrita estranha é alguma linguagem anã perdida.

- Acha que devemos descer? - Perguntou Dreika. Azar esperava, calmamente, que as duas terminassem de confabular. Já tomara sua decisão.

- Não deve ser perigoso. - Comentou Asmin. - Talvez haja algo valioso ali.

- Desceremos. - Anunciou Azar, finalmente. - Asmin, ajude os orelhas-redondas. Eles precisarão de apoio para descer essas escadas.

A Flor-Invernal revirou os olhos, mas fez o que a colega pedia. Dando apoio ao escravo machucado, ela indicou ao outro que devia segui-la escada abaixo. Os olhos castanho-escuros do orelha-redonda pareciam assustados e preocupados, como se soubesse que aquele era um lugar estranho e desconhecido. Podiam ser fracos, mas não eram estúpidos.

O grupo desceu pelos degraus lentamente, guiado pela luz mágica acolhedora que iluminava o caminho. As bruxas prestavam atenção em cada canto, em cada ranhura na parede de pedra branca, buscando por ameaças, armadilhas que pudessem ameaçar suas vidas. A superfície, no entanto, era lisa e sem qualquer rachadura, não haviam marcas nas divisões entre as pedras, nada que mostrasse que aquilo tudo havia sido cavado da pedra ou que os blocos brancos haviam sido colocados ali. Aquela estrutura, pensou Azar, parecia ter crescido ali, como uma única pedra que se moldara para tomar aquele formato desejado. Parecia, de fato, algo construído por deuses, não por elfos ou outra criatura conhecida.

Os degraus se encerravam num portal largo que dava entrada para uma ampla galeria em formato circular. Uma linha de colunas, tão brancas quanto todo o resto, acompanhava o formato da parede, destacando-se desta em dois metros, criando uma borda por onde se podia caminhar sem adentrar a área mais baixa no centro. Além das colunas, dois degraus levavam a um chão de pedra negra que, em seu ponto central, ostentava a estátua de um centauro dourado cuja lança apontava inquisidoramente para quem estava entrando ou saindo do santuário.

Tão repentinamente quanto tinha desaparecido, aquela estranha sensação, que a assombrara desde que deixara Til Onag, retornou com força total, atormentando sua mente e fazendo com que a bruxa se curvasse para frente, atordoada e confusa. Era como se a visão do centauro tivesse despertado aquela coisa estranha que a perseguia. Pensara que tudo acabara após o ataque dos orcs, mas agora percebia que estava enganada. Asmin e Dreika a encaravam, a última, após colocar a mão sobre seu ombro, provavelmente perguntava o que estava acontecendo.

A Fura-Coração respirou fundo, tentando recobrar os sentidos, os cabelos amarelo-palha caindo sobre o rosto repentinamente molhado com suor gelado. Aos poucos, seu coração voltou a bater numa velocidade normal, ainda que aquela sensação ainda esmurrasse sua cabeça com toda a força. Azar sentia sua magia e seus sentidos lutando contra aquilo, tentando protegê-la, mas não conseguia fazer nada para cessar o tormento.

Ignorando o martelo sobrenatural que golpeava sua cabeça a cada segundo, ela endireitou-se e encarou as companheiras, que tinham preocupação nos olhos. Dreika parecia pronta para começar uma briga com o centauro naquele mesmo momento, o ar ao seu redor pungindo com energia mágica. Azar fez um rápido sinal para que ela se acalmasse. O que quer que fosse, não seria derrotado por uma simples explosão descontrolada de poder.

A Fura-Coração fechou os olhos e, quando os abriu novamente, viu aquele lugar como um dia fora, num passado distante. Dezenas de pequenas criaturas com barbas avantajadas e cabelos crespos tentavam enfiar-se no cômodo lotado, espremendo umas às outras para conseguir enxergar o que quer que estivesse acontecendo perto do centauro. Definitivamente, anões, concluiu Azar. Eram menores do que ela imaginava e, se podia confiar em sua Segunda Visão - ela sempre pôde - extremamente sujos e, provavelmente, malcheirosos.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora