XLII. Velas Estranhas

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Asmin encarava o orelha-redonda ferido, deitado na cama do curandeiro, quando um estrondo soou pela Floresta Negra.

Todas as criaturas pareceram se agitar, correndo todas na mesma direção, na direção da Gruta.

— Vá. — Ordenou o curandeiro, entrando na cabana. — Eu cuido deste aqui. Você será necessária.

A bruxa Flor-Invernal não poupou sua velocidade ao correr na direção daquela caverna onde a Matriarca construíra a morada de seu exército. As árvores passavam por ela como meros vultos e as outras criaturas ficavam para trás conforme ela se aproximava do tumulto que já começava a se formar do lado de fora da Gruta.

Bruxas de todos os clãs traziam armas para o lado de fora, bem como armaduras e outros equipamentos, entregando-os a outras bruxas, feéricos e, até mesmo, Drakares. Um grupo de doze daqueles touros se aproximou e seu líder anunciou que a legião dos Midgellers estava se aprontando. Estavam se preparando para uma batalha, percebeu ela.

— O que está acontecendo? — Perguntou a um feérico que passava ao seu lado.

— Não ouviu o alarme? — Ele replicou. — A Floresta foi invadida pelo mar ocidental.

— Quê? Achei que os elfos não navegassem por aquelas águas!

O feérico deu de ombros e seguiu na direção dos demais de sua raça, em busca de armas para equipar-se.

De fato, o mar ocidental, lar de criaturas estranhas e elfos exilados, adoradores das águas, eram caminho estranho para os guerreiros inimigos, visto que não havia nada ali que os interessasse. Se estavam ali, era porque sabiam da existência da Gruta, que as defesas dali tinham falhado miseravelmente em proteger aquele povo.

Sem deixar-se desesperar pela situação e acostumada ao clima de batalha, Asmin se aproximou de uma bruxa de cabelos brancos que distribuía armaduras de couro para que as irmãs vestisse e pediu uma para si. A bruxa então escaneou os grupos que se formavam, os diferentes clãs já se dividiam em pelotões menores, cada qual com sua líder, prontos para a batalha. Ela encontrou uma bruxa conhecida. A de cabelos azuis que ostentava o broche do clã Águia-Noturna, que a tinha recebido quando ela e Dreika chegaram à Floresta acompanhadas de Azar Fura-Coração e dos ex-escravos.

Quando a viram se aproximar, uma tenente se colocou entre Asmin e a outra, colocando uma das mãos contra seu peito, impedindo-a de prosseguir.

— Que quer, Flor-Invernal? — Perguntou a estranha de cabelos castanhos.

— Lutar. — Respondeu ela. — Tem lugar para mais uma na companhia?

A tenente encarou a bruxa de cabelos azuis atrás de si, uma pergunta silenciosa. A outra olhou, parecendo reconhecer Asmin quase que imediatamente. Um sinal positivo com a cabeça indicava que a Flor-Invernal agora tinha um lugar para lutar.

— Junte-se às outras. — Ordenou a tenente. — Espero que saiba lutar.

Asmin ignorou a provocação e aproximou-se das demais bruxas da companhia, que checavam seus equipamentos e conversavam umas com as outras. Ninguém prestou atenção nela, ninguém sequer dirigiu-lhe uma única palavra. Todas ali eram Águia-Noturna, ela sabia. Não dariam atenção a uma que não era de seu clã, a não ser que fosse necessário em batalha.

Todas pararam de conversar quando Ode Ferro-Brasil saiu da Gruta acompanhada daquele feérico que sempre caminhava ao seu lado e parou no ponto central do círculo formado por todas as bruxas que ali se reuniam. Ela ficou silenciosa, apenas encarando suas bruxas e analisando enquanto elas se preparavam para a batalha.

Um novo estrondo soou pela Floresta, chamando a atenção de todas as bruxas. Poucos segundos depois, um Midgeller aproximou-se de Ode e falou algo em seu ouvido, ao que ela respondeu apenas com um aceno positivo da cabeça. O burburinho pela floresta recomeçou quando uma fada se aproximou da Matriarca, voando por cima das companhias de bruxas e pousando suavemente ao lado dela. Asmin encarou aquela cena, a conversa tensa de volume baixo que ali era travada.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora