XXII. Finalmente, Lar

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A Floresta Negra pulsava com uma energia calorosa. A energia da vida, da magia e das criaturas que a habitavam. Azar e seus companheiros tinham atravessado a fronteira da floresta quando o sol já começava a descer sobre o horizonte após passar toda a manhã caminhando sem interrupções para alcançar o santuário. Os dois orelhas-redondas estavam fracos, famintos, e aquele que fora ferido mancava pesadamente apoiado nos ombros de Dreika.

A Fura-Coração acordara naquela manhã antes mesmo do nascer do sol ao perceber os sons estranhos e os xingamentos baixos de Asmin, que fuçava em sua bolsa de suprimentos em busca de algo.

- Algum problema? - Perguntar Azar, esfregando os olhos para conseguir enxergar direito na escuridão que precedia o nascer do sol.

- A comida acabou. - A bruxa respondeu, mostrando à companheira o saco vazio onde guardava o pão velho. - Como não notei isso antes? - Frustrada, ela jogou a sacola no mato próximo e olhou para dentro da sacola, desolada.

- Não se preocupe. Ainda hoje chegaremos à Floresta, e mesmo que não consigamos alcançar a Gruta, teremos acesso fácil a frutas e pequenos animais.

- Tem certeza de que, nesta velocidade, chegaremos hoje? - A Flor-Invernal estava desconfiada e tinha razão. Os escravos libertados se moviam cada vez mais devagar, fosse por causa dos ferimentos, da exaustão ou por conta da alimentação precária durante a última semana, ela não sabia.

Mas, por fim, não demorou muito para que as bruxas avistassem a linha de árvores e comemorassem com gritos e risadas animadas. Mais duas horas e elas finalmente adentraram os limites enlameados da Floresta Negra, as copas fechadas das árvores trazendo consigo o clima fresco que era tão familiar para a bruxa Fura-Coração.

Azar não conseguiu evitar o sorriso que lhe veio ao rosto ao sentir que penetrava a barreira mágica que protegia aquele lugar contra os invasores élficos. Um calafrio percorreu seu corpo e ela pôde sentir sua magia interior se agitando em resposta àquela barreira artificial construída pelos membros da Aliança. Dreika e Asmin deram um salto, assustadas, ao sentirem a barreira, mas assim que entenderam de que se tratava, relaxaram um pouco mais. Estavam em um lugar seguro agora.

- É um feitiço de confusão. - A Fura-Coração explicou. - Qualquer elfo que passar por esta barreira sentirá a necessidade de dar meia volta e procurar em outro lugar. Para eles, a Floresta é vazia e abandonada.

- Engenhoso. - Foi tudo que Asmin disse enquanto olhava para as árvores, analisando e julgando.

- E isso é suficiente para manter a floresta segura? - Dreika perguntou, entre um fôlego e outro. Estava cansada de carregar o orelha-redonda o dia todo.

- Também há armadilhas, tanto das mágicas quanto das mais simples. - Azar parou de andar, olhando para as outras bruxas por um segundo. - Asmin, não quer ajudar ela com o peso? - Como se tivesse percebido o esforço da amiga somente agora, a Flor-Invernal partiu em sua direção para servir de apoio ao escravo ferido. - De qualquer forma, mesmo que um elfo consiga driblar as barreiras mágicas, ainda terá que sobreviver às armadilhas antes de chegar à Gruta e enfrentar nossos guardas. - Finalizou a Fura-Coração.

Asmin ainda não parecia convencida, mas Azar decidiu encerrar o assunto, seguindo novamente em frente sem dizer mais uma única palavra.

A pouca luz que penetrava pelas copas das árvores já começava a desaparecer quando as bruxas, finalmente, chegaram ao primeiro entreposto onde três bruxas em mantos negros patrulhavam a área, certificando-se de que nenhuma ameaça se aproximaria da região central da Floresta, onde a Aliança constituíra sua morada. As três, simultaneamente, ergueram suas lanças na direção do quinteto. Azar ergueu os braços, acostumada àquele processo e Dreika, que não carregava nenhum orelha-redonda, a imitou. Asmin encarou as colegas como se as desafiasse a dizer qualquer coisa, os cabelos loiros caídos sobre o rosto molhado pelo suor.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora