LVIII. Velhos Amigos

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Eralyn perdeu a noção de quanto tempo passou naquela maldita caverna. Caminhara por horas e horas, seguindo aquele aroma tão peculiar, até que suas pernas não aguentaram mais e seu corpo implorou por descanso.

Então ele dormira, tentando controlar o tempo de acordo com seu relógio biológico, mas este já não era de muita utilidade, visto que seu sono fora desajustado desde que deixara o acampamento tandos dias antes. Mas ele seguiu da forma como pôde até chegar numa parte que parecia uma grande intersecção de vias daquela cidade subterrânea.

Teve que testar quatro das sete ruas até ter certeza de que seguia no caminho certo, para certificar-se de que ainda seguia o rastro da fada.

Por vezes, pensava ter visto figuras caminhando nas sombras, algumas delas o lembravam da Dama, daqueles olhos prateados e cabelos dourados que ainda o perseguiam durante o sono. Mas Eralyn convenceu a si mesmo de que eram apenas ilusões, peças pregadas por sua mente exaurida e solitária. No entanto, nada impedia seu cérebro de imaginar aquelas coisas.

Ele achava que tinham se passado quatro dias quando acordou de um pesado sono com um alerta de seus poderes. As defesas que colocara no caminho percorrido para avisá-lo da aproximação de inimigos estavam agitadas, como uma teia de aranha que avisa sua criadora da presença de insetos. Só que ele não era uma aranha predadora, não com seu corpo naquele estado.

Tão rápido quanto conseguiu, Eralyn correu pelas pedras, ainda sentindo aquele cheiro de fada, mas tentando usar seu vento para tirar seus perseguidores de seu rastro. Agora sua teia não era para alertá-lo, mas sim para confundir seus inimigos num labirinto de odores que ao menos serviria para atrasar quem quer que fosse.

O guerreiro correu até adentrar uma parte da cidade que mais se parecia com um gigantesco labirinto, cheio de corredores que se cruzavam e levavam a becos sem saída. Alcovas e portas levavam a quartos que se pareciam com habitações primitivas cavadas na terra. Não fosse o constante odor que perseguia, ele provavelmente estaria fadado a morrer ali naquela confusão de pedra velha.

— Dividam-se em grupos. — Uma voz soou em algum lugar não muito distante.

"Então são vários", pensou o fugitivo. E estavam mais perto do que ele esperava. Provavelmente tinham um rastreador muito bom na equipe, pois escapavam com facilidade das armadilhas mágicas de Eralyn. Vendo que estas não adiantariam de muita coisa, o elfo parou de gastar energias com isso e focou em manter a corrida veloz e constante. Talvez conseguisse vencê-los na corrida, ainda que não soubesse exatamente o que fazer depois que saísse daquela caverna.

Eralyn escutou quando um deles corria pelo corredor à sua direita e se preparou para o confronto. Puxando a espada da cintura, ele virou a esquina brandindo a arma contra o peito do oponente, desarmando-o e encostando a lâmina em seu pescoço antes que este pudesse reagir. Era um soldado de Linea, percebeu ao colocar os olhos sobre a armadura.

— Por favor, diga a eles que parem de me seguir. — Ele pediu antes de tirar o ar do adversário por tempo o suficiente para que ele ficasse desacordado. Com o ex-companheiro caído no chão, Eralyn pôs-se a correr novamente.

Quando finalmente saiu daquele labirinto, o desertor se encontrava sobre uma ponte estreita de pedra que cruzava uma ravina gigantesca cujo fundo ele não conseguia enxergar. Por toda a estrutura da passagem, desenhos de runas anãs adornavam a pedra, dando ao lugar uma aparência mística. Olhando ao redor, ele percebeu que seus inimigos teriam que passar por ali para continuar a perseguição. Não parecia haver outra passagem óbvia pela ravina e o cheiro da fada continuava naquela direção.

Concentrando-se, Eralyn focou toda sua magia nas rochas acima, que formavam o teto da caverna, procurando por alguma que estivesse fraca o suficiente para que sua magia a derrubasse, destruindo a ponte. Usando de uma quantia quase fatal de seu poder, o elfo conseguiu desprender uma grande rocha de seu lugar. Uma pequena abertura no material foi suficiente para que seu ar entrasse e se expandisse, causando um desmoronamento que desfez a ponte em questão de segundos.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora