LIII. Textos Antigos

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Lyssa encarou a porta. Não a magia que circundava o que deveria ser uma porta, mas a porta em si, a grande estrutura de madeira que levava ao lugar secreto que Azar tanto queria acessar.

Estava cansada. Não era exaustão, não da maneira como Alick lhe explicara — quando as reservas de magia de um indivíduo acabam e ele desmaia, sem forças. Ela estava simplesmente cansada, suas pernas doíam como se tivesse corrido por muitos quilômetros e até mesmo suas asas tremiam a cada movimento.

Não ousara mergulhar naquele seu lago de poder, não ousara tentar descobrir quanto ainda lhe restava, não quando a última vez quase a fizera perder o controle. Quase matara Azar e a bruxa mal percebera.

Azar!

Olhando para o lado, impedindo que o cansaço a afetasse, a fada percebeu que a bruxa estava deitada no chão, desacordada. O que acontecera? Ela se aproximou, erguendo os ombros da Fura-Coração e colocando sua cabeça sobre seu colo. Poucos segundos depois, escutou o som dos passos de Alick.

A Ferro-Brasil, com olhos brilhando em intensa preocupação, checou o pulso de Azar e, então, sua respiração. Quieta, passando as mãos pelos cabelos da bruxa em seu colo, Lyssa verificou e viu que a magia da amiga estava fraca, quase inexistente. Um pouco mais e ela podia ter morrido.

— Exaustão. — Murmurou Alick. — Agora, temos que esperar até que ela se recupere.

Lyssa suspirou, sem saber se era por alívio ou ansiedade. Queria saber o que estava do outro lado da porta tanto quanto queria que Azar se recuperasse. Com as mãos trêmulas, ela não protestou quando a Ferro-Brasil carregou a outra bruxa para uma área mais elevada do salão, provavelmente um palco onde a orquestra tocava nos dias de glória daquele lugar. Cambaleante, a fada seguiu a amiga.

— Você também quase exauriu! — Notou Alick, aproximando-se de Lyssa para apoiá-la.

— Não. — A fada respondeu. — Ainda está aqui. — disse, apontando para seu peito, referindo-se ao reservatório de magia. — A dor é muscular. É como se eu tivesse passado o dia correndo, ou treinando. Essa coisa é pesada.

— A energia? — A fada respondeu que sim. — Não vou fingir que entendo dessas coisas, mas sei que foi o suficiente para derrubar uma bruxa relativamente forte.

— Azar é poderosa. Eu posso ver. — Lyssa comentou. — Mesmo gastando energia para nos manter camufladas no caminho até aqui, ela conseguiu derrotar aquela coisa.

Alick grunhiu em concordância, encarando Azar com o que parecia ser um misto de preocupação e aprovação. Parecia compreender o esforço que a companheira fizera para alcançar o que quer estivesse do outro lado daquela porta. Sentada sobre uma coluna de pedra caída, Lyssa perguntou:

— Acha que devíamos abri-la? — Perguntou a fada, encarando a madeira antiga. Alick fez um gesto negativo com a cabeça.

— Vamos esperar Azar. Essa missão é dela, afinal.

Tiveram que esperar mais de duas horas até que a Fura-Coração acordasse, no entanto. Este tempo, elas usaram para se alimentar das frutas e da carne seca que ainda restavam em suas bolsas, deixando um pouco para Azar quando esta acordasse.

Lyssa já começava a ficar preocupada quando, finalmente, a bruxa abriu os olhos e esfregou o rosto, uma faísca de magia finalmente brilhante em seu peito.

— Eu odeio essa merda. — Disse ela, encarando fada e bruxa, que a olhava com curiosidade e preocupação. — Como que você não está no chão também? — Perguntou a Lyssa, que deu de ombros.

— Meus parabéns, Azar Fura-Coração. — Congratulou Alick, indicando a porta com o queixo. A bruxa olhou, assustada naquela direção. Pareceu aliviada quando notou que seus esforços não foram em vão.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora