XXIII. Entre Fadas e Bruxas

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- Que fique claro, sob a vista da deusa, que eu não concordei com isso. - Alick falou enquanto conduzia as duas fadas pelo corredor rumo à sala do trono de Ode Ferro-Brasil. Não tinha gostado da presença de Estella ali, o que dizer então sobre o fato de que ela pretendia ficar entre as bruxas por tempo indeterminado até que ensinasse tudo que tinha de ensinar a Lyssa?

Sim, a jovem fada necessitava de treinamento, mas isso deveria ser arranjado depois que completasse seu treinamento com as bruxas. Por enquanto, bastava que aprendesse a controlar suas explosões bizarras de poder. Não lhe agradava a atitude de Fedra em enviar uma fada para a Gruta, atropelando a autoridade de Ode sobre todos os territórios da Aliança. Alick sentia-se irritada, prestes a ordenar que Estella calasse a boca - a maldita não parava de confabular com Lyssa a respeito dos irmãos que a pequenina tinha deixado para trás -, mas não queria iniciar um conflito naquele momento. Não tão perto da Matriarca, pelo menos.

Quando as três entraram no salão, Ode Ferro-Brasil e Malthus, seu fiel cão de guarda, já estavam escutando as histórias de duas outras bruxas que Alick não reconhecia. Não eram dali, percebeu ela, notando as vestes esfarrapadas e os rostos cansados. Sabia que tinham lutado, pois havia sangue nas cimitarras que pendiam às suas costas, e pareciam ter sido mais de uma batalha, uma vez que a aparência física delas fazia com que a bruxa quisesse chegar seu pulso para ter certeza de que ainda estavam vivas.

Com o canto dos olhos, ela percebeu que alguém as encarava e, olhando diretamente para a bruxa de cabelos amarelo-palha na entrada da Gruta, entendeu do que tudo aquilo se tratava.

Azar Fura-Coração, a infame Fura-Coração que causara a queda de Ima, estava de volta. Aparentemente, trouxera companhia de sua ronda. Duas bruxas e um orelha-redonda, ao que parecia. Alick tinha que admitir que aquela bruxa era uma caixinha de surpresas, sempre trazendo alguma coisa nova para chocar a todos na Floresta. Um rápido estudo da situação a permitiu entender que a loira já terminara seu relatório para a Matriarca e, agora, as duas forasteiras tinham sido chamadas para contar suas histórias.

Alick conduziu as duas fadas até um dos cantos da sala, interrompendo o contato visual com Azar e deixando que a outra seguisse seu caminho até o lado de fora da Gruta. Estella tinha parado de falar, o que era bom, mas Lyssa encarava as bruxas e o orelha-redonda com sua curiosidade infinita estampada nos olhos amendoados. Não demorou muito até que, numa voz baixa quase inaudível, a fadinha perguntasse:

- Aquele ali, o que é?

- Chamamos a raça dele de orelhas-redondas. - Alick explicou, falando ainda mais baixo que a fada. - São a mão de obra dos elfos, os que constroem tudo que os malditos usam para nos matar.

- E fazem isso por vontade própria? - A voz de Lyssa soou um pouco mais alto agora, o que chamou a atenção do olhar irritado de Malthus. A bruxa negou com a cabeça, ignorando o feérico.

- São escravos. Trabalham contra sua vontade pois são obrigados a fazê-lo.

- Não possuem uma gota de magia. - Estella complementou, sabendo que isso explicaria a passividade daquelas estranhas criaturas.

Lyssa encarou o escravo por alguns minutos, pensativa. Alick imaginou que ela estaria estudando a magia do ambiente, tentando entender como alguma criatura poderia viver desconectada da natureza daquela forma. A fada parecia maravilhada com a criatura à sua frente, estudando o escravo como se fosse uma peça de mobília interessantíssima. A bruxa Ferro-Brasil tentou ignorar aquilo e focar sua atenção na reunião que acontecia à sua frente.

- Está me dizendo que Tara, das Tormentadoras, conseguiu reunir um exército de bruxas e atacou sem autorização da Aliança? - Ode falou de repente, irritada. O esbravejar da Matriarca atraiu até mesmo o olhar da distraída Lyssa.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora