LXIX. Do Sangue ao Inferno

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Lothar gritou enquanto enfiava a espada nas costas do elfo que atacara Biattra.

Era tão gratificante poder gritar todo o seu ódio nos ouvidos daquelas criaturas, a adrenalina que percorria seu corpo parecia ser suficiente para abastecer suas energias por anos. Não precisava se alimentar, não precisava descansar, precisava apenas continuar com a espada na mão, matando. Precisava vingar Rolf, os outros humanos com quem compartilhara os alojamentos, com quem trabalhara por toda a sua vida.

E aqueles ao seu redor pareciam sentir o mesmo. Ainda que Lothar mal conseguisse ver o que se passava ao seu redor — sua mente era um borrão confuso e sanguinário que não distinguia bem o que eram seus amigos do ambiente em chamas ao redor —, ele sabia que os seus lutavam com ódio e fúria inigualável, o que lhes garantia alguma vantagem contra os assustados e surpreendidos elfos.

Qualquer vantagem ali era de suma importância, visto que os elfos eram, de forma geral, mais rápidos e bem treinados que os invasores. Então Belthor tratara de se assegurar que cada detalhe do ataque estava em seu devido lugar antes que Fedra explodisse os portões com aquele fogo infernal. Ainda assim, o progresso era lento e cada encontro uma experiência de quase morte.

Lothar perdera as contas de quantas vezes estivera a ponto de ser fatalmente ferido por uma daquelas espadas de ferro branco, de quantas vezes seus novos amigos o tinham salvo. Não imaginara que sua falta de treinamento poria tantas vezes sua vida em perigo. Agora que estava ali, não se importava com os riscos, queria apenas enfiar seu ferro no próximo inimigo.

Biattra e Solar tentavam abrir a porta de uma das casas enquanto ele olhava em volta, em busca de inimigos que pudessem estar à espreita. A forma como a porta resistia ao arrombamento indicava, para eles, que havia alguém do outro lado tentando impedir a entrada. A mulher, então, pegou um de seus frascos explosivos e arremessou para dentro no momento em que o amigo conseguiu uma brecha grande o suficiente.

O som de gritos foi acompanhado de uma explosão e do barulho de fogo crepitante que surgiu do lado de dentro da casa. Os três sorriram entre si, voltando-se para a rua novamente, em busca de mais alvos.

— Quem precisa de magia? — Biattra comentou enquanto ajeitava sua mochila e agarrava novamente o escudo que deixara no chão.

No momento em que Lothar se preparava para responder a amiga, no entanto, uma fada pousou ao seu lado, os cabelos negros esvoaçando junto ao bater das asas.

— Onde está Belthor? — Ela perguntou, recebendo somente um olhar confuso dos humanos. Frustrada, a criatura alada disparou novamente pela rua, em busca do Chefe.

— O que foi isso? — Solar perguntou.

— Ótima pergunta. — Foi tudo que Lothar conseguiu responder.

Um instante mais tarde, o som de uma trombeta de guerra pôde ser ouvido por toda a cidade, gelando estômago de todos os combatentes.

— Acho que temos uma resposta para a sua pergunta. — Biattra falou, olhando para Solar.

— E agora? — Lothar perguntou.

— Se for um exército élfico, Belthor nos fará recuar. Não temos como defender a cidade.

— Conheço esse som. — Confirmou o ex-escravo. — Definitivamente, são elfos. Acho melhor voltarmos para a muralha.

A fada passou novamente por eles, voando tão rápido que uma rajada de vento atingiu os três e fez com que eles dessem um passo para trás. Eles se entreolharam e encararam a rua vazia, esperando que Belthor talvez aparecesse por ali gritando ordens, mas nada aconteceu.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora