LXXIX. Guerra Conclamada

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— Quantos? — Drava, rainha das Pedra-Negra, perguntou novamente, ainda incrédula com as notícias que Fedra trazia. A bruxa era jovem e bela, algo incomum para uma rainha, os cabelos azuis brilhavam na mesma cor que as luzes mágicas espalhadas por seu salão cavado na rocha escura.

— Minhas meninas contaram mais de quarenta mil. — A Rainha das fadas explicou. — E creio que não seja o contingente total. Algumas das bandeiras orientais não foram vistas.

— Era de se esperar que a retaliação a Alis fosse violenta. — Comentou a bruxa novamente. — Rezemos para que as defesas mágicas da Floresta se sustentem.

— Devemos estar prontas, de qualquer forma. — Ainda que confiasse nos feitiços milenares, a fada não estava disposta a colocar todas as suas esperanças neles. — Peço que envie uma mensagem a Ode, ela deve deixar as tropas de prontidão.

Drava sorriu repentinamente, como se algo naquela frase a tivesse divertido. Fedra encarou, confusa, sem compreender.

— Não soube das notícias ainda, fada? — A bruxa perguntou. — Bem, acho que não tinham como fazê-las chegar até você.

— Diga logo, Pedra-Negra. Não tenho todo o tempo do mundo.

— Ode Ferro-Brasil não é mais Matriarca da Aliança. Asmin das Flor-Invernal agora senta-se na Gruta, renascida Águia-Noturna.

Como que para verbalizar a surpresa de Fedra, algum dos humanos que assistiam à conferência derrubou seu escudo no chão, o único som que ecoou por todo o salão naquele momento. A fada olhou para trás e viu Lothar encarando Drava, estupefato. Alguns dos outros humanos riram daquela reação e uma fêmea ao seu lado o cutucou com o cotovelo, em reprimenda.

— O que houve? — Fedra sentiu-se obrigada a perguntar.

— Terá que pedir os detalhes a quem estava presente. — Drava explicou. — Infelizmente, nenhuma das minhas meninas estava lá e ninguém foi bondoso o suficiente para explicar na carta que recebi. Basta dizer que Malthus Desven e as Fura-Coração convocaram uma Convenção e as Águia-Noturnas aproveitaram para lançar o próprio desafio. De alguma forma, a Flor-Invernal foi parar no trono.

Fedra engoliu em seco. Essa era uma reviravolta inesperada. Sabia que Ima Fura-Coração provavelmente tentaria retomar o posto de Matriarca, mas não esperava que Ode perdesse o desafio, principalmente com uma interferência repentina de um terceiro clã. Tudo aquilo poderia complicar ainda mais a situação delicada em que se encontrava a Aliança.

"Ou pode ser uma oportunidade para que tudo melhore", pensou ela, refletindo que ter uma bruxa jovem e desconhecida no comando talvez não fosse uma má ideia.

— De qualquer forma, — decidiu finalizar aquela audiência — mantenha um olho aberto às coisas por aqui. Se os elfos encontrarem as passagens, os feitiços de dispersão podem não ser suficientes para impedi-los.

— Será feito, fada. — A rainha bruxa respondeu. Ela parecia pensativa, talvez até amedrontada, não sem razão. Fedra virava as costas para partir dali quando foi freada por um pensamento repentino.

— Mais uma coisa, Drava. — A Pedra-Negra, que já conversava com uma de suas irmãs, parou para encarar a fada novamente. — Se tiver contato com as Flor-Invernal, talvez agora seja o momento certo de trazê-las para a Floresta.

— Verei o que posso fazer.

Não era muito, mas era o bastante para Fedra, que finalmente deixou a caverna escura para encarar o ar gelado do lado de fora. Foi seguida por Belthor, Eisa e alguns outros humanos. A Rainha inspirou profundamente antes de voltar sua atenção ao chefe que parecia incomodado.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora