V. Magia, Luz e Coisas Gosmentas

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— Aonde estamos indo? — Lyssa perguntou a Alick enquanto esta a conduzia por entre os grossos troncos que constituíam aquela parte mais densa da floresta. Tinham passado as últimas horas caminhando pela Floresta sem rumo definido, conforme a bruxa explicava os diversos aspectos da sociedade que se formara ao redor da Gruta.

Alguns minutos atrás, Alick mudara seu caminho repentinamente, seguindo decidida por entre os arbustos sem explicar nada à fada.

Onde estavam agora era um lugar diferente das coloridas árvores onde moravam as fadas, e também diferente da área rochosa e pantanosa onde as bruxas tinham constituído sua morada. Ali, tudo parecia mais antigo, mais endurecido pelo tempo. As árvores eram mais baixas e mais grossas, as cascas marcadas pela passagem de animais e intempéries. Lyssa podia sentir a magia fluir por todos os seres que ali habitavam, fluindo de um para o outro, pelas árvores e na direção das duas que caminhavam. O chão era molhado e cheio de musgo, alguns animais caminhavam por entre as pedras e o mato, por sobre seus pés e entre seus dedos. A fada desejou que suas asas fossem fortes o suficiente para que pudesse voar para longe daquela sensação esquisita causada pelos animais

— Essa é a área mais antiga da floresta, onde trazemos os recrutas para serem testados. — Alick explicou, finalmente. — Como fada, você deve sentir a grande concentração de magia aqui. É uma atmosfera propícia para que vocês aprendam e desenvolvam habilidades, mas, principalmente, sejam testados para que a Matriarca decida como e onde vão se juntar às nossas fileiras.

— Você foi testada aqui? — A bruxa riu baixo da pergunta. Lyssa não sabia qual era o problema.

— Bruxas não são testadas. — Alick respondeu. — Os feéricos, que geralmente são nossos progenitores masculinos, costumam dizer que nossa espécie já sai da barriga da mãe proclamando gritos de guerra e salivando por sangue. Somos imediatamente colocadas para treinar tudo que se possa imaginar. De magia a combate corpo-a-corpo. Não é à toa que constituímos grande parte do contingente da Aliança.

— Fadas são reprovadas com frequência? — A curiosidade da jovem criatura era insaciável.

— Ao contrário do que gostariam algumas de nós, não. — A resposta levantou um pouco o ânimo de Lyssa. — Raramente as Sentinelas trazem fadas para cá, mas as que vêm são, normalmente, muito eficientes no que fazem. — Alick pareceu refletir antes de continuar falando. — Nunca trouxeram uma tão jovem, no entanto.

— Realmente, animador. — A fada comentou, perguntando para si mesma por que as Sentinelas teriam tomado aquela decisão maluca. — Acho que é a melhor notícia que recebi desde que saí daquela casca.

As duas riram daquilo. Lyssa sentiu-se um pouco mais descontraída, o riso retirando um pouco do peso que ela sentia sobre os próprios ombros. Até mesmo Alick pareceu ligeiramente contente com aquela pequena descontração.

Bruxa e fada caminharam pela floresta, entre as árvores e sobre um pequeno morro além do qual encontraram uma pequena concentração de bruxas e etérials que treinavam e discutiam uns com os outros de maneira amigável, mas barulhenta.

— Algo errado? — Lyssa perguntou, quando percebeu que Alick parara de caminhar.

— Esses etérials. — Ela disse. — São parecidos demais com elfos. Nunca irei me acostumar com sua presença aqui.

Lyssa nunca vira um elfo, mas sabia que as características físicas das duas raças irmãs eram realmente parecidas. Altos, belos e de orelhas pontudas, as duas raças eram consideradas pelos sábios como originários do mesmo galho da árvore da vida. Magicamente, não podiam ser mais distintos, mas suas aparências físicas poderiam, sim, ser facilmente confundidas.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora