XC. Então Começou

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Asmin encarou as rainhas à sua frente. Bruxas de todos os clãs sobreviventes, exceto pelas Flor-Invernal, cuja localização atual era um mistério para todos. Tão poucas tinham restado, pensou ela. E agora, refletiu, era sua tarefa liderá-las.

Arrependimento por intervir na luta de Nualla Águia-Noturna a paralisou naquele momento, aquela parte de sua consciência que sempre a repreendia por sua impulsividade não queria se calar.

Engolindo em seco, Asmin se forçou a encarar cada uma das bruxas nos olhos antes de começar a explicar o que estava acontecendo.

— Como vocês devem saber, algumas horas atrás as defesas da Floresta dispararam. — Falou, recebendo sinais positivos das bruxas. — Desta vez, infelizmente, não foram humanos curiosos que entraram em nosso território. Algumas batedoras Fura-Coração estavam na fronteira quando avistaram sinais de um exército nas colinas a nordeste.

Asmin fez questão de repassar àquelas bruxas cada detalhe que as batedoras lhe tinham apresentado. Quanto mais soubessem, mais liberdade teriam para tomar decisões por conta própria e, provavelmente, mais confiança depositariam na nova Matriarca.

Era estranho discursar em frente a todas aquelas rainhas. Passara a maior parte de sua vida sozinha nas estepes, sem conviver com muitas bruxas senão aquelas de seu próprio clã. Agora, estava dando ordens a elas, recebendo olhares que variavam desde aceitação e submissão, até raiva e desprezo reprimidos. Estes últimos, em especial, vinham de Ode Ferro-Brasil, cujos olhos profundos e negros não pareciam ter aceitado muito bem o desenrolar da Convenção.

— Nós temos um número? — Curiosamente, foi a própria Ode quem falou, no momento em que percebeu que Asmin terminara seu discurso. — Conseguiram contar quantos elfos são?

— Não. — Respondeu a Matriarca. — Pelo que as fadas nos contaram, são mais de vinte mil, com certeza. O que não sabemos é se outros se uniram aos que resgataram Linea.

— Ou seja, eles têm pelo menos quase o dobro do que nós. — Silka Águia-Noturna comentou. — Teremos que operar um milagre.

— Sabíamos que esse dia chegaria. — Nive Fura-Coração, descendente de Ima, tentava soar motivadora. — Temos nossas estratégias e armadilhas. Vamos logo cortar algumas cabeças!

— Como vamos fazer isso? — Foi a vez de Ode perguntar. Todas olharam em sua direção, sem entender direito a pergunta. — Enfrentaremos o inimigo cara-a-cara? Não creio que tenhamos força para isso.

— Está certa. — Asmin disse. Desde que descobrira o avanço élfico, estudara exaustivamente os estratagemas sugeridos por conselheiras e matriarcas do passado. — Não temos como enfrentá-los diretamente, seria suicídio. Acredito que o melhor seja usar uma força menor para segurar o avanço, enquanto nossas unidades mais rápidas atacam os flancos e a retaguarda. Quem sabe assim os faremos desistir.

— Faz sentido. — Comentou Drava Pedra-Negra. — Usamos Middgellers e bruxas para segurar o avanço enquanto as fadas e os feéricos atacam furtivamente. — Algumas das bruxas a encararam, prontas para discordar, mas ela levantou uma mão. — Em seus corcéis, não há ninguém mais veloz que um feérico. E as fadas podem voar.

— As fadas deveriam ficar na retaguarda, como sempre foi planejado. — Interveio Ode.

— Não sei quem foi que teve essa ideia idiota, mas eu gostaria de estapear essa bruxa. — Drava, um tanto irritadiça, explodiu. — Acho que Fedra concordará que a melhor forma de defender a sua preciosa Árvore é ajudando a proteger a Floresta. Sua tenente, então...

— Dane-se o que Fedra pensa. — A Rainha Fura-Coração entrou na discussão. — Todos os planos que nossas rainhas desenharam ao longo de séculos...

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora