LXXXV. Guerra em Terralarga

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Enquanto aguardava pelo retorno dos batedores, Dalária tentava fazer sentido dos eventos do último mês que ainda martelavam em sua mente em todos os momentos que ficava sozinha com os próprios pensamentos.

A traição de Vélis e sua aliança inesperada com Limenn e os Middgellers já não a incomodavam tanto. Ao menos não tanto quanto aquela criada misteriosa que salvara sua vida e desaparecera sem deixar qualquer rastro. Em momentos, a Rainha queria que tudo tivesse sido uma alucinação sua, em outros apenas rezava para que aquela fosse apenas uma elfa poderosa que decidira ajuda-la. Mas nenhuma das respostas parecia correta.

Ela mexia nervosamente em seus cabelos agora soltos, fios que agora estavam mais longos do que ela gostaria — tão longos que tivera que prendê-los num coque para a marcha —, quando um movimento na entrada da tenda de guerra a fez voltar sua atenção para o tempo presente.

Era Leon, um de seus guardas pessoais, alto e moreno de constituição forte. Ele fez uma reverência e, então, anunciou:

— Um dos batedores retornou, minha Rainha.

— Mande entrar. — Ela rapidamente tirou os objetos que estavam sobre o mapa no centro da tenda para que o elfo oferecesse seu relatório.

O macho que entrou era extremamente magro um tanto mais baixo que a própria Dalária. Provavelmente fora escolhido para ser batedor por sua velocidade, não pelos atributos físicos, pensou ela. Ele fez uma reverência e, imediatamente, puxou uma tabuleta de sua bolsa onde tinha anotado informações importantes.

Antes que ele pudesse começar a falar, Glem adentrou também a tenda e fez uma reverência. O batedor parecia sem graça, mas empertigou-se para falar.

— Majestade, parece que as distrações que enviou surtiram efeito. — Ele disse. — Encontrei indícios de que a tropa do Conselheiro Vélis passou por um vale a noroeste ontem ou no dia anterior. — Enquanto falava, o elfo apontava no mapa as posições que indicava. — Não parecem ter dividido a tropa.

— Isso é bom. — Dalária comentou. — Encontrou terreno que nos seja favorável para a batalha?

— Não fui tão longe. — O batedor explicou. — Quando encontrei traços da passagem da tropa tão perto de nós, decidi que era melhor retornar imediatamente.

— Fez bem. — Foi Glem quem assegurou. — Conheço essas terras. Acho que há um lugar ou dois onde teremos vantagem.

— Então temos que encontrar uma maneira de guia-los até lá. — A Rainha estava preocupada. Se o exército de Vélis os emboscasse, sua vantagem numérica poderia ser facilmente destruída.

— Escolherei o melhor lugar, Majestade. — Garantiu Glem. — Então enviaremos uma mensagem aos selvagens para que façam o possível para leva-los até o escolhido.

A Rainha apenas assentiu e os dois elfos deixaram a tenda com reverências profundas. Novamente sozinha, Dalária mergulhou nos próprios pensamentos à espera de mais notícias a respeito das movimentações de Vélis.

***

Fora de Dalária a ideia de viajar durante a noite para cobrir os últimos quilômetros que separavam o exército real da tropa de traidores de Vélis. Ainda que aquela atitude tivesse um custo para a disposição dos soldados, não podiam correr o risco de deixar o inimigo escapar do terreno escolhido por Glem.

Era, de fato, uma boa localização. A Rainha analisava o campo enquanto as cornetas de guerra soavam pelo campo. Estavam no topo de uma colina, com o acampamento liderado pelo traidor exposto no vale abaixo. Não era uma localização protegida e Vélis tampouco estivera atento aos seus arredores na tentativa de descobrir possíveis inimigos em aproximação. O excesso de segurança o fizera cair numa armadilha letal.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora