LXXXVI. Coroa de Sangue

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O primeiro golpe da espada foi defendido não pelo elfo em que Dalária mirara, mas sim pelo companheiro ao lado, que viu sua tentativa e se adiantou.

O cavalo da rainha relinchou e eu alguns passos para trás quando um dos traidores o atacou um ponto fraco na armadura e cortou o couro, fazendo com que sangrasse. Apesar de ter mantido o equilíbrio na sela, ela tomou aquilo como uma lição para ser mais cuidadosa.

O que deveria ter sido uma elegante batalha ordenada e disciplinada, travada entre dois exércitos extremamente bem treinados, transformou-se rapidamente numa confusão amorfa que desafiava a capacidade cognitiva dos mais habilidosos líderes. Os elfos lutavam com mais ódio que inteligência, provavelmente motivados pelo medo que sentiam de enfrentar seus iguais.

De cima do cavalo, Dalária viu que o covarde Vélis recuara para a retaguarda de sua tropa e observava a batalha à distância. Não tinha capacidade de lutar ao lado de seus homens, tampouco teria a confiança dos mesmos, refletiu a Rainha rapidamente. Ela buscou atrás de si pela montaria de Glem, mas não o encontrou em meio àquela desordem em que se transformara o campo.

Um grupo de seus Guardas Reais agora estava entre ela e o inimigo, ao mesmo tempo protegendo-a e tentando abrir espaço na direção do estandarte roubado. Antes que se arrependesse, Dalária ordenou sua montaria relutante à frente para juntar-se novamente à batalha.

O primeiro que sua espada cortou era um elfo que aparentava estar amedrontado e confuso. Quando este viu de quem era o cavalo que caía sobre si, já era tarde demais. O ferro branco da Rainha lhe cortou o pescoço e ele foi ao chão. Imediatamente, mais dois vinham na direção dela e a Guarda Real reagiu.

Um golpe pela direita, outro pela esquerda, ela bloqueou ambos. Um de seus guardas, cujo nome era um mistério, conseguiu atrair um dos atacantes enquanto os demais acabaram por serem distraídos pelo combate que rugia ao redor. Numa fração de segundo, Dalária se viu sozinha, frente-à-frente com um elfo que, semanas antes, seguiria suas ordens sem pensar duas vezes.

O que Vélis fizera com aquele reino?

A Rainha atacou com magia, fazendo com que a terra aos pés do inimigo se transformasse numa pasta grudenta, distraindo-o. Em um piscar de olhos, ela atacou e perfurou seu peito com a espada. O cavalo relinchou e saltou e mais um elfo jazia morto no chão.

Ela não sabia quanto tempo se passara desde que a batalha tinha começado, mas ao encarar os arredores, percebeu que tinham caminhado vários metros à frente, cortando e dilacerando as linhas inimigas com certa facilidade. Não havia disciplina, não havia ordem. Os números superiores de Parsos pesavam em demasia contra os traidores.

— Minha Rainha! — A voz de Glem soou atrás de si. Dalária deixou que sua Guarda formasse novamente ao seu redor e virou para encará-lo. — O centro avança rápido demais. As tropas parecem impulsionadas por sua presença.

Ela não precisava que ele explicasse. Se o centro se lançasse contra o inimigo muito mais rápido que os flancos, havia sério risco de que o inimigo conseguisse cerca-los mesmo com números menores. Ainda que Vélis não parecesse capaz de pôr ordem em seus soldados, Dalária não estava disposta a correr riscos.

— Recomponha a linha. Ordene que os flancos pressionem. — Ela falou. — Não podemos perder espaço e deixar que eles escapem. Manteremos a pressão aqui, mas não avançaremos. — Esta última parte foi dita em voz alta e ela percebeu que os centuriões imediatamente transmitiam suas ordens.

— Sim, Majestade. — Respondeu Glem.

— Glem! — Gritou Dalária antes que este fosse embora. — Onde estão os sacerdotes?

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora