LXXVII. A Batalha por Parsos

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— M-minha rainha! — O elfo de cabelos brancos e olhos violeta exclamou, fazendo uma reverência acentuada. — Que surpresa agradável!

— Poupe-me da ladainha, Caminne. — A soberana falou, calmamente. — Guardas, levem este aí ao calabouço. Se não fez parte da conspiração de Vélis para tomar-me o trono, terá sua chance de provar diante uma tribuna popular.

Imediatamente, a Guarda Real respondeu ao chamado, dois dos elfos agarrando os braços do lorde e começando a arrastá-lo para uma cela. No entanto, uma voz saída da multidão de aristocratas à frente do trono contestou as palavras de Dalária:

— Esperem! E se ela não for Dalária?

— Está cego, Talion? — Outra voz surgiu, seguida de risos. O tal Talion caminhou alguns passos à frente, destacando-se da multidão.

— Vélis disse que ela foi morta por selvagens! — O elfo gritou. — Só os deuses sabem que tipo de truques eles seriam capazes de armar para tomar nosso reino.

A Rainha levou uma mão à têmpora, irritada. Seu estoque de paciência se esgotava rapidamente e uma parte mais impulsiva de si clamava para que acabasse com aquilo da maneira violenta.

— Se é a Rainha, prove! — Uma voz desconhecida gritou. Aquele era, definitivamente, um empecilho com o qual Dalária não imaginara lutar.

— Que quer que eu faça? — Ela retrucou. — Cite os favores obscenos que cada um de vocês já teve a audácia de pedir a mim? Que os recorde de cada pedido de casamento, cada carta ridícula com nomes de pretendentes? Escolham uma prova e eu lhes darei.

— Proponho que a confinemos a seus aposentos até que o Conselho decida o que será feito. — Talion falou novamente, recebendo vários gestos de concordância dos membros da corte.

— O que é isso? — Dalária perguntou. — Um golpe de estado?

— É apenas uma precaução, senhora. — Disse um dos guardas, pegando delicadamente em seu cotovelo, como que tentando levá-la aos aposentos.

— Até minha própria guarda se volta contra minhas ordens? — Ela puxou o braço, encarando o elfo nos olhos. Ao seu lado, a criada parecia pronta para esganar cada um daqueles malditos.

— É apenas uma precaução, minhas senhora. — O guarda argumentou.

— É Vossa Majestade, seu imbecil. — O murro que Dalária deu no rosto do elfo pareceu o estopim de uma confusão que ela definitivamente não previra. — Foda-se a via diplomática. — Falou, sinalizando para que a criada a protegesse. Imediatamente, a elfa pegou a espada do guarda nocauteado e virou-se para os que vinham do fundo do salão em sua direção.

Por um segundo, a Rainha parou para encarar a cena absurda que se desvencilhava ao seu redor — os soldados traidores agindo contra sua própria monarca e os bobalhões da corte assistindo com olhares espantados — e quase não notou que Caminne tomara a espada de um dos guardas e partia para cima de si.

A estocada passou a centímetros de sua barriga, mas a esquiva de Dalária desequilibrou o macho o suficiente para que ela batesse na parte chata da lâmina, fazendo com que esta caísse no chão com um estrondo, sacasse a própria adaga da cintura e enfiasse no pescoço do traidor.

— Devia tê-lo mandado para a cova junto a seu pai. — Foram as palavras finais da Rainha ao elfo que convulsionava no chão com a mão no pescoço.

Após derrubar mais um dos traidores que vinha em sua direção para matá-la, Dalária encarou o salão apenas para ver que a criada — cujo nome ela tinha o dever moral de aprender após aquela confusão — estava a centímetros de ser degolada pela espada de um dos guardas. Ela enfrentava a força do elfo com sua adaga e a simples força de seus braços finos. Não tinha um arranhão no corpo, no entanto, percebeu a Rainha. E havia pelo menos quatro cadáveres ao redor de onde ela agora lutava.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora