XLIII. Sementes de Guerra

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Um misto de medo e agitação tomou conta de Fedra enquanto voava ao lado de Malthus Desven na direção daquele estranho montado que cavalgava em círculos ao redor do centro daquela arena. Em suas mãos, o estandarte triangular verde-oliva ostentava uma serpente dourada cujo corpo formava um "S" deitado.

O coração da fada batia contra seu peito e, através da magia que a circundava, ela percebeu que o feérico ao lado sentia o mesmo. Era estranho, inédito, inesperado. Nunca viram, em toda sua longa existência, um grupo tão grande daqueles seres de orelhas-redondas. Nunca imaginaram que eles estariam armados e prontos para uma guerra.

O chefe daquele exército parou de cavalgar quando viu a dupla que se aproximava. Ele pegou um pequeno amuleto e o jogou no chão à sua frente. Uma runa, percebeu Fedra, provavelmente para protegê-lo de magias hostis. Eram um grupo muito bem preparado.

Os navios na costa, ao menos vinte e cinco, eram grandes e bem construídos, de madeira escura e velas coloridas triangulares, um formato que a rainha nunca vira naquele tipo de embarcação. Os dragões desenhados no pano tinham as mais diferentes formas e tamanhos, nenhum deles exatas cópias dos verdadeiros animais que voavam por aquelas terras.

A paliçada agora parecia vazia e todos os orelhas-redondas já pareciam ter saído e se preparavam para o possível combate. Fedra esperava que não chegasse a isso. Rezava para tal.

Malthus estacou e ela fez o mesmo, flutuando no ar acima da areia, encarando o orelha redonda que os olhava com curiosidade e suspeita. Ele parecia estudar as características deles, olhando das orelhas para as feições felinas do feérico, para as asas de Fedra, um olhar atento para cada coisa que os tornava diferentes dos orelhas-redondas. Aquela atitude, percebeu a rainha, era típica de alguém que nunca se deparara com tais diferenças, alguém totalmente estranho àquele lugar e às raças que ali habitavam.

Apenas o barulho das ondas quebrando contra a areia e a madeira dos navios podia ser ouvido enquanto aquele pequeno impasse durava vários segundos. Segundos demais. Fedra pousou um pouco à frente de Desven, aproximando-se do estranho com um sorriso acolhedor no rosto. Boas-vindas, ela queria dizer, mas não sabia se ele falava sua língua. As runas em seu escudo, ela percebeu, não eram de nenhum dialeto conhecido.

Enquanto o orelha-redonda os estudava um pouco mais, ambos os exércitos se encarando ansiosos e apreensivos, medindo um ao outro, a fada encarou o amuleto jogado ao chão. Era feito de metal e de alguma gema parecida com aquelas que enfeitavam os escudos daquele exército. A energia mágica que ele emitia era bruta e selvagem, não era trabalhada por uma criatura mágica, apenas colocada ali para servir seu propósito: anular qualquer outra magia que fosse lançada no pequeno círculo onde os três agora se encontravam.

Fedra sentiu seu fogo encolher-se perante aquele pensamento, como se com medo de ficar enjaulado para sempre.

— Falam minha língua? — Perguntou o macho, a voz grossa e exausta, como se tivesse feito uma longa viagem naqueles barcos de velas estranhas. Ele falava na língua comum, pelo menos.

— Sim. — Murmurou Malthus, sempre desconfiado. — O que fazem aqui?

— Não vamos nos apressar, senhores. — A rainha interveio, disposta a tomar o rumo daquela conversa em suas mãos. — Se vamos conversar, o faremos como seres civilizados. Pedirei que seja trazida uma barraca e um pouco de comida.

Fedra sinalizou para que um soldado caminhasse até eles para atuar como mensageiro, sem esperar que seu companheiro feérico se posicionasse frente àquela ideia. O orelha-redonda, no entanto, puxou a espada. Malthus reagiu fazendo o mesmo e a rainha voltou-se para os dois.

— Pode mandar vir dois de seus soldados. — Ela falou, apaziguando os ânimos. — Não temos intenção de lutar hoje.

O comandante estrangeiro pareceu acalmar-se enquanto virava de costas e sinalizava para que dois dos seus marchassem até o ponto de encontro. Em pouco tempo, Fedra transmitiu seu desejo ao soldado que viera como mensageiro e este saiu em disparada para buscar o que fora pedido. Vento começou a bater forte contra seus rostos enquanto a barraca era montada e os confabulantes se sentavam sob a cobertura de pano aberta nas laterais pra permitir a entrada de ar fresco. Talvez chovesse naquela tarde, refletiu a Rainha das Fadas.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora