LXXXI. Em Marcha

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Exausta, irritada e preocupada, Dalária encarou o vale tumultuado à sua frente. O rio Liceio, que dividia os territórios de Terralarga e Mira, serpenteava pela grama verde, sua margem pontilhada por pequenas concentrações de árvores que formavam bosques que atraíam caçadores e aventureiros.

Por todo o vale, barracas e carroças formavam sete acampamentos diferentes, todos sob a bandeira de Parsos. Todos tinham respondido ao chamado de sua Rainha. Pelas suas contas, mais de dez mil soldados agora descansavam à beira do rio enquanto aguardavam mais ordens. Atrás de si, Dalária trazia mais oitocentos — os trezentos fazendeiros que a tinham ajudado a recuperar o Palácio, quase quinhentos soldados da Guarda Real e a companhia de quarenta e três Middgellers e um feérico que a tinham sequestrado semanas antes.

Estes últimos atraíam muita atenção indesejada, mas no momento em que ela dissera a Limenn que pretendia marchar contra os elfos, este fizera questão de convencer os touros a unirem seus esforços à ofensiva. Era mais do que tinham combinado em seu acordo, mas os selvagens o faziam de forma voluntária, então não haveria nenhum problema.

Sozinha, ela apartara mais de quinze brigas que tinham começado por causa da presença dos selvagens ali. Sabia que seria uma tarefa quase impossível fazer com que elfos e Middgellers trabalhassem juntos, mas se conseguisse, estes seriam um reforço e tanto para a batalha vindoura.

— Devo dizer, rainha, estou impressionado. — Limenn comentou, aproximando-se com seu cavalo. Imediatamente, alguns dos tenentes de Dalária o encararam com desprezo.

— Meu pai era um grande entusiasta de grandes e poderosos exércitos. — Ela respondeu, não escondendo o orgulho que tinha daquela força. — Eu mantive a tradição.

— Posso ver. — O feérico assobiou para dar ênfase em sua admiração.

— E devo admitir que tivemos sorte. — A Rainha continuou. — Vélis levou apenas uma parcela de minhas forças. Foi esperto o suficiente para não deixar o reino desprotegido.

— E agora? — Quem perguntou foi um dos tenentes que estava à direita dela. — Agora está desprotegido?

— O templo e o Palácio estão seguros. — Respondeu. — Mas fui obrigada a sacrificar a segurança do território para trazer essas tropas até aqui.

— Minha Rainha, com todo o respeito, esse não é o tipo de informação que se deve compartilhar com um selvagem. — Outro dos elfos, Ergwen, falou.

— Sinto muito, tenente, mas ultimamente os ouvidos élficos me preocupam mais que os feéricos. — Algumas sobrancelhas se ergueram frente àquela declaração. — Os eventos recentes me fizeram repensar nossa suposta superioridade em relação a essas criaturas.

Uma parte de si temia que aquelas atitudes inusitadas acabassem causando outra conspiração, mas estava, de fato, cansada de tramar e medir as palavras. Tudo que passara desde a traição de Vélis a fizera ver o mundo de maneira diferente e Dalária ainda não sabia se isso era bom ou ruim. Decidiu, então, deixar que seu coração a guiasse e rezar que seus soldados mantivessem sua lealdade até o final.

Sem paciência para mais conversas inúteis, a Rainha acelerou sua montaria para que esta descesse a colina na direção do acampamento mais próximo. Os soldados ali já se preparavam para recebê-la com saudações e gritos de guerra, aos quais ela respondia com acenos e gritos similares. Era importante que eles se sentissem queridos, próximos à monarca.

Quando entrou na barraca de comando, percebeu que vários de seus generais já se encontravam a postos, aguardando.

— Estão todos aqui? — Ela perguntou, recebendo um sinal afirmativo. — Muito bem. Quantos somos?

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora