XLVI. De Volta a Til Onag

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Elas caminharam por muito tempo sob a montanha. Azar não sabia para onde iam ou quanto tempo levariam para encontrar outra saída de Ag'loth. Desde que saíssem daquele lugar escuro e frio, e desde que o fizessem longe daquele Primordial, ela não se importava com o local exato.

Alick calculara que faziam dois dias. De alguma forma, a magia da Ferro-Brasil alternava junto às rotas da lua e do sol no céu, o que a dava uma boa noção do dia e da noite. Elas tentavam, então, dormir quando era noite e seguir viagem quando era dia. Ao menos assim manteriam a normalidade de seus organismos, preparadas para quando retornassem à superfície.

O fogo de Lyssa iluminava o caminho com clareza, mas a atmosfera fria não afastava a sensação de que tudo ali era escuro e assim estivera por milhares de anos. As estruturas escavadas e construídas pelos antigos anões agora estavam em ruínas, várias sessões dos túneis tinham desabado e impediam a passagem.

Azar não podia afastar a sensação de que seguiam cada vez mais para baixo, na direção do coração da Terra, ainda que a fada garantia que estavam se aproximando do mundo externo. A Fura-Coração afastou aqueles pensamentos, deixou que o caminho se estendesse mais e mais, decidiu ser paciente. Não havia outra alternativa, afinal.

— Não pode aquecer mais um pouco? — Reclamou Alick, após horas em que nenhuma das três disse uma palavra. Azar murmurou, concordando. — Eu gosto do frio, mas este lugar me dá arrepios.

— Um pouco de calor seria bom. — A Fura-Coração completou. Lyssa estalou a língua em resposta.

— Minha magia é fraca aqui embaixo. — Respondeu a fada. — Não há vida, não há magia. Faço o máximo que posso.

Azar grunhiu, insatisfeita, mas considerou aquela resposta suficiente. Sua própria magia, aquela que permitia que permanecesse escondida dos olhares e dos olfatos de seus inimigos, parecia distante, dormente. A imensidão de rocha sem vida que as separava da superfície impedia também o poder mágico que circulava o mundo e alimentava todas elas.

— Como, exatamente, sabe para onde estamos indo? — Ela decidiu perguntar, após algum tempo, apesar de já imaginar qual seria a resposta.

— Há pouca magia aqui, sim. — Lyssa falou. — Mas ela ainda existe. Estamos seguindo um fluxo desde que entramos. Assim como um rio, a magia flui de um lugar para o outro. Suspeito que este veio esteja fluindo para fora daqui.

— Estamos fazendo isso baseados em sua suspeita? — Foi tudo que Azar conseguiu dizer. A fada não pareceu interessada em responder. Sob a luz fraca do fogo que serpenteava por seu braço, o rosto de Lyssa parecia apreensivo.

— Melhor que ficarmos aqui rodando como ratos eternamente. — Alick a defendeu. Contra este argumento, a Fura-Coração pôde apenas sorrir. — Antes uma esperança vã que esperança nenhuma.

Nenhuma delas parecia disposta a continuar aquele assunto. Novamente, silêncio recaiu sobre o trio e as horas se alongaram, somente o ecoar dos passos e o crepitar das chamas da fada podiam ser ouvidos. Azar se perguntava se aquela cidade poderia contar algum segredo útil, mas duvidava que elas sobreviveriam a uma exploração aprofundada das cavernas.

— Só a Deusa sabe o que vive aqui embaixo. — A Fura-Coração comentou para si mesma, sem perceber que falara alto.

— Que? — Alick perguntou.

— Só estou pensando em voz alta. — Respondeu ela. — Acha que há algo que mora aqui embaixo?

Lyssa torceu o nariz, olhando em volta.

— Além de pequenos animais que nunca viram a luz do dia? — Falou a fada. — Acho que não.

— O que quer que tenha acontecido aqui, deve ter afastado qualquer criatura senciente. — Alick completou. Ela também sentia, então, a total falta de energia daquele lugar. Azar passara um bom tempo se perguntando se ela seria a única.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora