LX. Os Mestres

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Valatr olhou para o gigantesco dragão que se aproximava do bastião - o mesmo sobre o qual ele pousara dias antes. O animal negro era bem maior que Delétrion, bem mais velho, e os sons de suas asas faziam com que todos os camponeses e soldados nos arredores parassem para observar.

Drotart pousou com um estrondo, fazendo tremer a pedra sob os pés de Valatr. Montado na cela, apequenado pela imensidão da besta, Lisseu acenou para o velho amigo. Ele desamarrou os pés e a cintura e saltou os quase cinco metros rumo ao chão abaixo, pousando a poucos metros de onde vários membros da corte de Picellius aguardavam.

- Devo acreditar que há um bom motivo para por a mão no fogo, Valatr? - O elfo de cabelos brancos parecia descontraído e despreocupado, mas ao mesmo tempo mantinha uma postura astuta e preparada para qualquer problema.

- É melhor que falemos sobre isso privadamente. - Valatr respondeu, apertando a mão do amigo e então pondo a outra sobre o espaço entre os olhos de Drotart, um cumprimento comum de um Mestre para com o dragão de outro. Com o canto dos olhos, ele percebeu que Lisseu procurava ao redor por algo. - Delétrion está caçando. Aquele dragão preguiçoso só se preocupa em comer e dormir.

Através do Elo, ele sentiu que seu amigo reprovava aquele comentário. Com um sorriso, Valatr ignorou a reprimenda e voltou-se para o outro Mestre.

- Lisseu, este é Lorde Picellius, senhor desta hospitaleira fortaleza. - Falou, apontando para o elfo em questão.

- Já nos conhecemos, Valatr. - O colega respondeu, já apertando a mão do senhor. - Muito tempo atrás, mas alguns rostos não são tão facilmente esquecidos. - Eles pareciam amigáveis um com o outro, mas nenhum parecia confortável para compartilhar aquela história.

- Essa é uma história que terei que ouvir em outro momento. - Comentou, simplesmente. - Agora, se nos permite - falou, olhando para Picellius -, eu e Lisseu precisamos conversar num lugar longe de ouvidos curiosos.

- Mas é claro. - O jovem lorde respondeu, direcionando os dois para longe do bastião e para dentro de uma das torres e, então, para dentro do castelo. - Pedi aos criados que deixassem preparado um dos salões para receber os convidados. Acha que todos chegarão hoje?

- Não. - Lisseu antecipou-se à resposta de Valatr. - Alguns de nós terão que atravessar o mar. A maioria, no entanto, deve chegar entre hoje e o dia depois de amanhã.

- É tempo suficiente para que aproveitem as belas paisagens de Terralarga, então, cavaleiros. - Picellius comentou, cordialmente. - E dizem os criados que as aldeias ao redor da fortaleza possuem excelentes adegas. - Valatr não sabia se era um convite velado ou simplesmente uma tentativa de fazê-los gastar algumas moedas na economia local. - Não que eu tenha experimentado alguma delas.

Os três riram e os Mestres prometeram visitar as tais adegas em algum momento dos próximos dias. Ao se aproximarem de uma grande porta de madeira por onde até mesmo Delétrion passaria, dois guardas a abriram com um estrondo. Picellius, que sabia não ser bem-vindo naquela reunião, inventou algum tipo de desculpa à qual Valatr não prestou atenção e caminhou na direção oposta.

Em segundos, estavam os dois Mestres de Dragão parados no centro de um grande salão enfeitado com tapeçarias e esculturas de pedra e madeira que circundavam a mesa com mais de quarenta lugares no centro. Com uma das mãos sobre o encosto de uma bela cadeira esculpida com formas de dragões e guerreiros, Lisseu olhou profundamente nos olhos de Valatr.

- Quer começar a explicar por que chamou todos nós até aqui? - Perguntou, sério.

- Nossa amiga em comum veio até mim. - Valatr respondeu. Algo nos olhos de Lisseu mudou, como se uma sombra passasse por eles. - Disse que é hora de tentar assinar o tratado.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora