LXXX. Inimigos às Portas

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Lyssa só percebeu a figura que estava parada na entrada da Gruta quando todas as bruxas se viraram para encará-la. Estivera tão focada no relatório que Alick fazia à nova Matriarca que todo o cenário ao redor pareceu desaparecer.

Asmin Flor-Invernal parecia cada vez mais chocada conforme a Ferro-Brasil narrava cada um dos acontecimentos das últimas semanas. Quando soube da morte de Azar, pediu que a bruxa parasse de falar por um minuto para que pudesse recompor os próprios pensamentos.

Como fora aconselhada a fazer todas as vezes em que estivera naquele salão, Lyssa ficou quieta, esperando que alguém lhe dirigisse a palavra, o que não ocorreu. Alguma das bruxas Fura-Coração ainda a encaravam com raiva, mas por algum motivo aquilo já não parecia ter tanta importância. A cabeça élfica que jazia aos pés da Matriarca, no entanto, causava arrepios na fada.

Tinham chego até ali ainda acompanhadas por Meera, que lhes informara sobre a troca de Matriarcas. Alick parecera não acreditar naquela reviravolta até entrar na caverna e encontrar Asmin Flor-Invernal sentada no trono que dias antes pertencera a Ode. A Ferro-Brasil parecera perturbada, mas não deixou que aquilo atrapalhasse seu dever ali.

Agora, todos encaravam Fedra que, parada à entrada, encarava de volta. Seu olhar foi da Matriarca até Lyssa e, então, para a cabeça do batedor elfo que tinham encontrado na Floresta. A expressão da Rainha era indecifrável, mas a fada mais jovem podia ver que sua magia se agitava, ofuscando a das bruxas no ambiente.

— Rainha Fedra. — A Matriarca falou, chamando a atenção da fada. — Deseja algo?

— Matriarca, vim para requisitar uma audiência. — Fedra respondeu. Seus olhos vaguearam novamente até a cabeça decepada. — Mas suspeito que há assuntos mais urgentes a serem tratados.

Desta vez, a Rainha olhou diretamente nos olhos de Lyssa, buscando em sua igual uma explicação. O que quer que ela tenha visto no rosto da jovem, pois sua atenção se voltou novamente para a Matriarca.

— Alick, das Ferro-Brasil estava me contando a respeito dos elfos que encontraram em nossas terras. — Asmin explicou. — Lutaram contra ele e trouxeram a cabeça como prova da invasão.

Novamente, Fedra olhou para Lyssa, que começava a ficar desconfortável com aquela atenção. Sua Rainha não lhe dirigiu a palavra uma única vez e a jovem ansiava por conversar com ela. Desta vez, o olhar da fada passou por todo o corpo de sua herdeira, como se procurando por ferimentos. Pareceu aliviada ao não encontrar nenhum.

— Como entraram sem disparar os alarmes? — Perguntou, finalmente. Asmin deu de ombros.

— Devem ter encontrado uma maneira de camuflar sua magia. — A Matriarca respondeu. — Ou talvez sejam demasiado poucos para disparar os alarmes.

Fedra suspirou, aproximando-se lentamente. Ela parou ao lado de Lyssa, ainda encarando a cabeça do elfo.

— Quantos eram? — Ela perguntou, para ninguém específico.

— Dois. — Era a primeira vez que Lyssa falava, consciente de quão hesitante sua voz soara.

— Suponho que as barreiras realmente foram feitas para detectar tropas maiores que uma dupla de batedores. — A Rainha parecia pensativa, não necessariamente convencida das próprias palavras. — Contra tropas pequenas, os feitiços de dispersão deveriam ser suficientes.

— A não ser que já saibam onde estão indo. — Alick comentou.

— Exato. — Confirmou a Rainha. Asmin parecia prestar atenção em tudo que elas falavam, mas não falava nada.

Quando todas pareciam não ter mais o que dizer, Asmin chamou uma das bruxas que aguardava pacientemente num dos cantos da sala. Nualla Águia-Noturna, Lyssa ouvira alguém dizer no início da audiência. A bruxa conversou baixo com a Matriarca, até que ambas pareceram chegar a alguma conclusão.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora