CXII. Desesperança

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Quando Asmin pensou que estavam ganhando, que poderiam finalmente começar a empurrar os elfos de volta para o buraco de onde vieram, ela percebeu que estava redondamente enganada.

O que ela pensara ser os últimos remanescentes do exército invasor eram, na verdade, uma legião que se separara da força principal no momento da quebra da linha defensiva das bruxas.

Não tinham durado mais que trinta minutos. Assim que as primeiras espadas se chocaram, as tropas da Aliança começaram a recuar, perdendo a Gruta antes que o sol pudesse começar a esquentar o interior da Floresta. O fogo dos canhões dracônicos destruía tudo por onde o inimigo passava e, a essa altura, a Matriarca já tinha certeza de que os danos à vida ali seriam irreversíveis.

Com a quebra, veio a desordem. Não havia mais comunicação entre Asmin e suas tenentes, as diferentes sessões da linha de defesa foram empurradas em direções distintas da Floresta, sendo perseguidas cada uma por uma parte do exército élfico.

Junto às Águia-Noturna e à última legião restante de feéricos - além do pequeno grupo de humanos que ainda tentava lutar -, ela recuou na direção do mar, rezando para que a ajuda prometida por Valatr chegasse logo. Mas, como informara o Mestre da Cavalaria, a Rainha de Parsos encontrara os próprios desafios em seu caminho até ali.

Asmin ainda não conseguia acreditar que estavam esperando por uma elfa para resgatá-los, mas ela supunha que o mundo tinha, sim, se tornado louco daquela forma nas últimas semanas. Se ela, Asmin Flor-Invernal, era Matriarca da Aliança, era possível que elfos estivessem agora lutando ao lado das bruxas.

Nem mesmo com o apoio de Valatr e seus dragões eles tinham conseguido segurar o avanço dos elfos. A legião que perseguia as Águia-Noturna ficara mais fraca e começava até a ceder espaço para as bruxas quando, de algum lugar ao sul, surgiu uma nova tropa que começou a despedaçar o exército defensor.

Se aqueles elfo os tinham encontrado, pensou Asmin, significava que alguma outra parte do exército da Aliança tinha sido completamente exterminado. Ela não queria nem começar a fazer as contas de quantas vítimas aquela batalha já tinha feito.

Caminhando para trás, defendendo e tentando contra-atacar, tentando tirar vidas élficas sempre que possível, Asmin tropeçou num cadáver. Um olhar para baixo a permitiu ver que era um feérico, provavelmente carregado pelo comboio médico que recuava protegido por aqueles que ainda lutavam.

Era quase impossível para os curandeiros realizarem seus procedimentos em movimento, enquanto tentavam fugir do exército inimigo, mas uma vez que tinham perdido o controle da Gruta, só lhes restava fugir até que não houvesse mais terra sobre a qual lutar. Vez ou outra, algum ferido morria e era largado para trás, o corpo se misturando aos milhares de outros que já tinham caído.

Ela olhou para trás rapidamente, para ver que o comboio estava perto demais da linha de frente, correndo o risco de atrapalhar no recuo controlado das tropas. As carroças eram difíceis de movimentar, mas tinham que ser mais rápidas que o restante do exército, se não quisessem se tornar vítimas dos elfos.

- Diga a eles que se movam mais rápido. - A Matriarca ordenou a Tília, a última de suas tenentes que ainda lutava ao seu lado. A bruxa assentiu e correu na direção dos humanos que transportavam o tal Lothar para fazer com que se movessem mais depressa.

Por puro reflexo, Asmin bloqueou um golpe contra sua cabeça e chutou a perna do elfo à sua frente, tentando desequilibrá-lo, mas ele apenas esquivou e tornou a pressioná-la. Frustrada, a Matriarca apenas continuou lutando e tentando, ao mesmo tempo, manter um olho atento em tudo que acontecia à sua volta.

A batalha prosseguiu ao longo de todo o dia e noite adentro. Quando chegou a hora em que os elfos normalmente tocavam suas trombetas e recuavam para seu acampamento, Asmin quase deixou que o desespero tomasse conta, ao ver que eles não davam qualquer sinal de intenção de recuar naquela noite. O combate, então, seguiria noite adentro.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora