VII. Vislumbre

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— Eralyn, acorde.

O guerreiro élfico abriu os olhos rapidamente, respondendo prontamente à ordem. Não havia ninguém ali, no entanto. Seus companheiros de armas ainda dormiam tranquilamente na terra dura, em seus sacos improvisados. O sol ainda não dava sinais de querer aparecer no céu e até mesmo os cavalos estavam quietos. Talvez tivesse sido um sonho, ele pensou, tentando lembrar qual teria sido a última coisa na qual pensara antes de ouvir a voz. Mas sua mente era uma página em branco, nada havia ali para ler.

Sentindo-se estranhamente incomodado pelo chamado, com a sensação de que alguém o observava à distância, ele se sentou, olhando em volta em busca da voz. Era uma voz feminina, o que não deveria ser surpresa, uma vez que as guerreiras de Lindor ainda marchavam com a legião. Mas era uma voz que ele não se lembrava de ter ouvido antes. Irritado e incomodado, ele decidiu se levantar para dar uma volta pelo acampamento, respirar um pouco do ar fresco da noite e tentar descobrir o que estava acontecendo.

Com espada embainhada na cintura e luz mágica na mão, ele passou com leveza por entre os corpos dos companheiros, certificando-se de que não acordaria ninguém. Os vigias do acampamento o saudaram quando passou, em direção ao exterior do perímetro ali montado. Eralyn não falou nada, apenas acenou com a mão em reconhecimento.

Deixando que seus passos o conduzissem sem dar muita atenção ao caminho que percorria, o guerreiro acabou adentrando uma pequena formação rochosa circular que se erguia em meio à grama alta. As pedras eram grandes e antigas, provavelmente postas ali por seres ancestrais, talvez até mesmo anões por algum motivo ritualístico. Um som vindo da esquerda chamou sua atenção e, instintivamente, Eralyn puxou a espada da bainha e apontou naquela direção.

— Quem está aí? — À distância, as luzes do acampamento continuavam iguais, nenhuma tocha acesa a mais. Ninguém o seguira, ele tinha certeza, mas tampouco havia qualquer sinal de outras criaturas rondando a concentração élfica.

Do lado oposto de onde viera o primeiro som, um galho se quebrou e algumas pedras rolaram. Estavam brincando com ele, provocando-o. Com um pensamento, ele fez com que o ar respondesse ao seu comando, criando um escudo para protegê-lo e tentando detectar a presença inimiga. Parecia, no entanto, que não havia ninguém ali. Uma segunda análise confirmou a primeira. Os arredores do círculo estavam simplesmente desertos. Nem mesmo pequenos animais podiam ser sentidos. Outro manipulador do ar, talvez, ele pensou.

— Apareça, imbecil! — Exclamou para a escuridão.

Quando sua ordem foi obedecida, Eralyn soube que a confusão era perceptível em sua expressão. Das sombras para a luz de seu orbe mágico, uma figura vestida completamente em branco se aproximou, caminhando vagarosamente por entre as pedras tombadas, na direção do guerreiro. Era uma fêmea élfica, percebeu ele, mas não uma das combatentes de Lindor. As guerreiras que lutaram com a legião dois dias antes tinham a pele totalmente negra, típica do Décimo Reino. Não, aquela que se aproximava era branca como a Lua e tinha cabelos dourados como ouro, os olhos prateados pareciam a luz de uma estrela longínqua.

Eralyn não baixou a guarda. Nunca se arriscaria. Como o guerreiro experiente que era, não podia arriscar-se, jamais. A elfa caminhou lenta e serenamente em sua direção, sem parecer importar-se com a espada que mirava diretamente em sua garganta. O guerreiro recuou conforme ela avançava, sem saber exatamente o que deveria fazer.

— Quem é você? — Ele perguntou. A fêmea respondeu com um discreto sorriso. — A que vem?

Ela já estava perto demais. Eralyn atacou, traçando um corte com a espada na direção do peito dela. Devia tê-la cortado ao meio, mas quando ele olhou para trás, a viu ali, intacta, encarando-o com uma mistura de simpatia e desdém. Ela o encarava como se ele fosse uma criança teimosa, uma pedra em seu sapato. Raiva subiu pelo peito do elfo que, com o melhor de sua habilidade, usou sua magia para tirar o ar que a alimentava e atacou novamente, uma estocada na direção de seu coração. A ausência de resistência o fez cambalear e cair no chão, incrédulo. Ele sentiu que seu controle sobre o ar escapou. A dama continuava em pé, encarando-o.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora