XXVIII. Azar, das Fura-Coração

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- Quero voltar a Til Onag. - Azar anunciou, falando para ninguém especificamente. As três sentinelas que a ouviam pareciam não prestar muita atenção no que a bruxa dizia. - A fortaleza ainda guarda segredos que nos podem ser úteis.

Passara horas em sua cabana, refletindo sobre sua última ronda e tentando entender onde aquelas peças se encaixavam. Chegara à conclusão de que elas não o faziam. Se quisesse saber mais, deveria descobrir o que havia por trás da porta misteriosa na antiga fortaleza excomungada e, para tal, precisava de autorização da Gruta.

Não havia maneira fácil de fazer aquilo, ela pensara enquanto encarava as árvores antigas ao redor de sua cabana, os pequenos animais se agitavam entre as folhas, dando ao lugar um ar de naturalidade e paz que não existia na caverna da Matriarca. Se fosse até Malthus, era provável que sequer conseguisse uma audiência e, das sentinelas que poderiam levar seu requerimento à Gruta, provavelmente deveria falar àquelas que não pertenciam a seu clã, uma vez que as Fura-Coração definitivamente não a levariam a sério.

Decidira então caminhar pelos arredores da Gruta em busca de alguém que pudesse importunar até conseguir a autorização para a nova viagem. Encontrara aquelas três, duas Águia-Noturna e uma Ferro-Brasil, descansando sob uma formação rochosa que se erguia na forma de um arco entre as árvores. Conversara com elas sobre assuntos triviais, contara-lhes sobre o encontro com os orcs nas planícies quando elas se mostraram interessadas no assunto e, quando julgou que tinha liberdade para tal, trouxe à tona o real motivo de sua aparição.

- E quer que nós a ajudemos a conseguir a permissão? - A bruxa de cabelos brancos falou, ciente agora de que Azar não buscava sua amizade. A Fura-Coração confirmou com um gesto da cabeça. - Por que não vai diretamente à Gruta?

Antes que Azar pudesse responder, no entanto, uma das outras se antecipou.

- Está falando com Azar, das Fura-Coração. Acha que Desven a levaria a sério? - A de cabelos brancos encarou a amiga, como se não entendesse. Azar revirou os olhos. Rezara à deusa para que conseguisse escapar daquele assunto, mas aparentemente fora em vão. - A bruxa da provação. - Explicou. - O motivo de Ode sentar-se hoje no trono da Gruta.

- Oh. - Respondeu a Ferro-Brasil, encarando Azar como se ela fosse algum animal estranho encontrado em meio à mata.

- Isso não importa. - A Fura-Coração se apressou em dizer, interrompendo as outras antes que o assunto se alongasse.

- As Ferro-Brasil deveriam agradecê-las pela oportunidade. - Lazz, a terceira bruxa, e única cujo nome Azar sabia.

Um silêncio recaiu sobre o quarteto por alguns minutos. As bruxas encararam uma das suas que passava acompanhada de um feérico, a luxúria brilhava nos olhos dos dois. Seu objetivo era óbvio: encontrar algum canto escuro e vazio da floresta para fornicar. Não seria difícil, pensou Azar. Há somente alguns quilômetros além do perímetro do território das bruxas seria raro encontrar uma viva alma que não fossem roedores e insetos.

- Vai levar meu pedido à Matriarca? - A Fura-Coração perguntou, enfim. - Pode parecer loucura...

- Loucura é esperar que Malthus a deixará partir para Til Onag. - A interrupção deixou Azar levemente irritada.

- Há outras que podem fazer a ronda enquanto eu estiver fora. - Ela replicou. - Deixe-me ir, droga. Não há motivos para que eu não vá.

- O certo seria enviar uma sentinela. - Foi a de cabelos brancos que falou agora. - Há uma razão para os protocolos.

- Aponte-me uma sentinela que consiga enxergar a porta, que tenha a Segunda Visão, e eu não insistirei. - Azar estava resoluta, não recuaria sem uma boa razão para tal. Sabia que a autorização para a missão seria mais difícil de conseguir do que a tarefa em si.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora