XXIX. A Visitante

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O dia já estava quase amanhecendo quando Valatr abriu os olhos, sonolento. Tysha dormia serenamente com a cabeça apoiada sobre seu braço, o corpo nu quase totalmente descoberto, exposto ao frio da noite. Ele observou a escultura perfeita que era seu corpo, sentindo-se novamente excitado pela proximidade, por aquela intimidade que os dois tinham compartilhado a noite toda.

Desde que estivera naquele povoado pela primeira vez, aqueles dois mantinham uma relação confusa de aproximação e distanciamento. Como elfo, Valatr a desejava com todas as forças, uma necessidade que o fazia querer abandonar tudo em nome do matrimônio. Como mestre de dragão, no entanto, precisava da liberdade e da solidão da mesma forma como precisava respirar. Ela, apesar de compartilhar seus desejos, nunca aceitara deixar a vida urbana em nome das aventuras e perigos que lhe ofereceria a vida livre sobre a sela de Delétrion. O próprio dragão, como uma terceira força naquela relação, não conseguia aceitar aquela relação.

Sempre que podia, Valatr encontrava uma desculpa para pousar ali e passar uma noite ao lado dela, mesmo que todas as leis e todas as forças lutassem contra isso. Ao menos ela nunca o tratara mal, pensou. Sempre o recebera de braços abertos, com uma boa refeição e algumas boas noites antes que ele precisasse ir embora novamente. Agora, ele hesitava em contar a ela para onde estava indo, a jornada na qual estava prestes a embarcar.

Tysha e os demais aldeões o tinham recebido como sempre o faziam, com comida, presentes e abraços calorosos. Nenhum deles sabia dos horrores que tinham se passado em Alis, percebeu ele com pesar. Levariam dias, talvez semanas, até que tal notícia chegasse a um lugar tão remoto através de algum mercador ou viajante que por ali passasse. Às vezes queria ser como aquelas criaturas, totalmente alheias aos horrores do mundo, em paz e tranquilos na realização de suas atividades diárias. Mas com a magia dos dragões, vinha o peso do conhecimento, o fardo da responsabilidade.

Olhando para o teto de madeira, ele não conseguiu mais dormir. Sua mente vagava pelos acontecimentos recentes e pelas memórias antigas, de Alis ao seu primeiro encontro com Delétrion. A respiração lenta da elfa ao seu lado fazia cócegas em seu braço, o que o fazia sentir uma necessidade cada vez maior de mover o membro, à qual ele resistiu para não acordá-la.

Passada quase uma hora, o céu já começava a clarear com os primeiros raios de sol que surgiam no horizonte verdejante, Tysha finalmente se moveu, virando-se de costas para Valatr e deixando seu braço livre para se movimentar. Silenciosamente, ele se sentou na cama dura e encarou o lugar no chão onde suas roupas estavam jogadas. O mestre de dragão suspirou, preguiçoso, antes de levantar e vestir as peças, amarrando a bainha vazia na cintura e lembrando-se que deixara a arma no andar de baixo da casa durante o frenesi sexual da noite anterior.

Quando se virou para encarar a bela elfa que dormia, parcialmente coberta por um lençol marrom, um brilho branco que passava por debaixo da porta do quarto chamou sua atenção. Não parecia ser a luz de uma vela, pensou. Talvez fosse alguma luz mágica acesa por algum dos criados, mas parecia-lhe que a casa ainda estava vazia. Além de não ter escutado qualquer sinal de movimento no prédio, ainda era cedo para que os criados iniciassem suas atividades.

Evitando ao máximo fazer qualquer barulho ao abrir a porta, ele buscou a fonte daquela luminosidade que, como verificou, vinha de uma outra sala no final do corredor. A madeira rangeu sob seus pés conforme caminhou e ele rezou para que Tysha não acordasse. Se a fonte da luz fosse quem ele imaginava, deveria estar sozinho para recebê-la.

- Finalmente despertou. - A Dama falou quando ele entrou no quarto vazio, exceto pela poltrona onde a elfa estava sentada. Seus cabelos dourados derramavam-se sobre os ombros e o vestido azul-claro brilhava naquela luz estranha que ele vira do quarto. Valatr fez uma reverência em sua direção à qual ela respondeu com um aceno preguiçoso da mão. - Soube que está indo para Alis. - Ela disse. O elfo a encarou, pensando por um segundo.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora