XXXVIII. O Vale de Parsos

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De cima do lombo do belíssimo corcel branco, Dalária encarou o pátio de alabastro na entrada norte do Palácio de Parsos, onde a comitiva real se preparava para partir rumo ao templo de Nivellir. Eram vinte e três elfos, vinte e oito cavalos - todos negros, exceto pelo branco da rainha. Soldados, encarregados de proteger os viajantes, membros da corte ansiosos por conselhos e preces dos sacerdotes, além de aristocratas curiosos que aguardavam por uma chance de visitar o templo, construídos sobre a antiga cidade anã.

O animal montado pela rainha estava inquieto, bufava e batia as patas contra o calçamento, tentando livrar-se do peso que carregava nas costas. Dalária tentou acalmá-lo, acariciando os longos pelos de seu pescoço. O animal bufou, insatisfeito, mas ao menos parou com a agitação dos pés ao sentir o toque.

Não era infundada a ansiedade do corcel. Estavam ali há quase trinta minutos, esperando que as provisões fossem carregadas nos cavalos e que os inúteis da corte se sentissem confortáveis o suficiente para seguir viagem. Todos os guardas já tinham se postado ao redor da comitiva, posicionando-se de forma a manter a rainha segura, no centro de tudo. Os estandartes que carregavam estampavam o sol dourado sobre o fundo verde-oliva, cores de viajantes, não de soldados ou comitivas reais.

Vélis aproximou sua montaria da rainha, fazendo uma reverência discreta com a cabeça e encarando o horizonte com os olhos fundos.

- Permite-me uma pergunta, minha rainha? - Ele perguntou, ignorando a presença dos elfos ao redor.

- Faça-a. - Respondeu a soberana, simplesmente.

- Por que a necessidade repentina de aconselhar-se com os sacerdotes de Nivellir? - Vélis não a olhava diretamente, mantinha o rosto magro voltado para o vale ao norte. - Há mestres da fé aqui, cuja função é exatamente atender a ti.

- Sabe muito bem a razão pela qual busco conselho dos deuses, Vélis. - Passando a mão pelo lombo do animal agitado, ela o encarou, os olhos azuis enérgicos impondo sua força sobre o conselheiro. - os sacerdotes daqui são políticos, não mestres da fé. Importam-se mais com a manutenção de seu poder e influência que em ouvir as vozes dos deuses. Em Nivellir, vivem isolados e alheios às intrigas dos reinos, sequer têm uma posição a ser garantida através do jogo político.

Vélis assentiu, abaixando o rosto como se estivesse decepcionado. Ele voltou sua atenção para o cavalo que montava. Parecia ter compreendido as palavras da rainha, ainda que não concordasse com elas, então Dalária decidiu deixá-lo de lado com seus próprios pensamentos.

O sol começava a aquecer a armadura cerimonial prateada que ela usava, incomodando sua pele e o cavalo, que relinchou ansiosamente. Irritada, Dalária se aproximou de um dos capitães da gurda, chamado sua atenção com um aceno da mão direita. O elfo conversava animadamente com um dos soldados ao seu lado sobre algo que a rainha não conseguiu identificar, mas parou assim que notou sua presença ali.

- Coloque-nos em movimento. - Ela falou quando obteve sua total atenção. - Basta de ficarmos parados debaixo do sol.

- Mas, minha rainha, os nobres ainda não estão prontos para viajar. - Respondeu, hesitante, o macho.

- Que compensem o atraso com um ritmo acelerado. Basta de esperarmos que movam seus traseiros almofadados. - Alguns dos soldados ao redor ousaram rir daquelas palavras, e Dalária esboçou um sorriso junto a eles.

O capitão finalmente assentiu com a cabeça e virou-se para gritar na direção dos demais viajantes:

- Hora de se mover, rapazes! - Em resposta, alguém fez soar uma corneta, dando a ordem para a marcha.

Aos poucos, o grupo começou a traçar o longo trajeto rumo ao norte, à antiga fortaleza dos anões.


Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora