LXXXIV. Momentos de Escuridão

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Lyssa já soube o que havia de errado no momento em que Eisa encarou a floresta pela janela da sala de treinamento, olhando alarmada na direção da Gruta.

A jovem fada treinava com Estella, tentando aprender alguns dos truques mais complicados que a irmã ensinava, quando a segunda em comando de Fedra voou para dentro do salão para conversar com a ruiva. Não falavam sobre nada importante, mas Lyssa pôde ver que a Capitã estava preocupada e tensa, provavelmente lutando para suportar o fardo da liderança enquanto a Rainha se encontrava ausente.

Ao lado de onde a mais nova estava sentada, havia outra fada em treinamento, uma que nascera no período em que estivera ausente. A garota de traços delicados e cabelos negros parecia tranquila e despreocupada enquanto aprendia a dar os primeiros passos com a própria magia — os mesmos passos que Estella ensinara a Lyssa de maneira apressada e confusa na floresta semanas antes. A fada do fogo não pôde evitar uma pontada de inveja que a atingiu ao pensar na sorte que aquela ao seu lado tinha.

Mas não teve muito tempo para sentir inveja, visto que Eisa logo parou de falar, congelada no meio de uma frase, para encarar o que parecia ser uma nuvem de energia negra pairando a floresta alguns quilômetros ao sul da Árvore. Imediatamente, ela soube o que era.

Não tivera tempo de discutir aquilo com Fedra da forma como queria e Estella não parecera dar muita atenção às suas preocupações. A fada de cabelos vermelhos estava preocupada com a guerra iminente, preocupada demais para prestar atenção no que as bruxas faziam alguns quilômetros ao sul. Ela, no entanto, pareceu compreender a gravidade da situação ao mesmo tempo que Eisa.

— Lyssa... — ela começou.

— É. — Foi tudo que a jovem conseguiu dizer. "O que as bruxas estavam fazendo ali que causava aquela reverberação toda"? Era a pergunta que lhe passava à mente.

— O quê? — Eisa perguntou, finalmente tirando os olhos da nuvem de energia negra.

— Temos problemas. — Estella comentou, indicando que Lyssa começasse a falar imediatamente. A jovem o fez.

No momento em que a fada terminou sua explicação apressada, a Capitã de Fedra imediatamente partiu em disparada na direção da Gruta, exigindo que Estella e Lyssa a seguissem. Carregada pela irmã, a fada de fogo, mais uma vez, sentiu-se um inútil peso morto. Mas ao menos a queriam por perto para aquilo, pensou, tentando ser positiva.

O que quer que fosse acontecer ali, poderia acabar muito mal.

As três, seguidas de mais duas guardas que surgiram dentre as árvores durante a viagem, pousaram à entrada da caverna e encararam a cena bizarra que se desenvolvia lá dentro. Um grupo de bruxas e homens estavam reunidos ao redor de duas carcaças ressecadas e apodrecidas: uma de um cordeiro e outra do chefe da tropa de humanos. Ao lado deles, um dos homens tinha concentrada ao seu redor toda aquela magia negra, pungente e devastadora.

— Talvez criaturas mágicas deem mais força. — A nova Matriarca falava, sem perceber a presença das fadas. — Seria bom se pudéssemos testar em um elfo.

— Testar o quê? — A pergunta de Eisa fez com que Lyssa se sobressaltasse. O tom de voz da fada era exigente e preocupado de uma forma que a jovem ainda não vira.

Asmin Flor-Invernal suspirou profundamente e se aproximou das fadas a passos lentos e hesitantes. A bruxa carregava o livro que Azar montara durante a viagem. A simples visão daquele volume causou calafrios na fada, que se lembrava com detalhes dos experimentos que a Fura-Coração fizera naqueles elfos.

Com a visão periférica, Lyssa viu que Alick estava ali, encarando-a com pesar no olhar, como se quisesse dizer algo. O que quer que fosse, teria que esperar um pouco para que pudessem conversar.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora