LXXVIII. Os Invasores

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Lyssa caminhava alguns passos atrás de Alick, que ainda parecia nervosa e tensa, a mão livre fechada com força enquanto a outra agarrava o livro de Azar.

Tinham discutido naquela manhã sobre o que fazer com aquela coisa. A fada defendia a destruição imediata da obra nefasta, enquanto a bruxa argumentava que não poderiam simplesmente destruir o pouco que restava de Azar Fura-Coração. Num impasse, elas decidiram simplesmente retornar à Floresta em silêncio e entregarem aquilo nas mãos da Matriarca.

Lyssa rezava para que Fedra soubesse o que fazer com aquilo. Rezava para que a Rainha soubesse o que era aquela magia negra.

Tinham cruzado a fronteira da Floresta há duas horas e caminhavam à sombra das gigantescas árvores com certa pressa, ansiosas pelo retorno ao lar. Numa parte profunda e esperançosa de seu ser, a fada esperava que lhe fosse permitida uma visita à Árvore após uma missão tão exaustiva.

Ainda não tivera a oportunidade de contar a Alick sobre seu sequestro na outra noite e, ao que parecia, não conseguiria falar sobre aquilo tão cedo. Quando tentava, as palavras simplesmente não saíam de sua boca, como se não quisesse verbalizar aquela experiência tão estranha que resultara na morte da amiga.

Quem quer que fosse aquela elfa, tinha drogado ou lançado algum feitiço sobre Lyssa para que esta sequer percebesse que tudo se tratava de um sonho. A tinha tirado do acampamento sem que as outras notassem e acabado com suas chances de ajudar a enfrentar o elfo.

O som de um galho se partindo fez com que ela se virasse repentinamente para trás, assustada. Estivera assim o dia todo: nervosa, arisca e amedrontada. Não conseguia pensar em nada que não fosse inimigos nas sombras, prontos para atacar na primeira oportunidade.

- É provavelmente algum animal. - Alick tentou tranquilizar. - Não precisa se preocupar. Não aqui.

- Certo. - Foi tudo que Lyssa conseguiu dizer.

Antes que se pusesse a andar novamente, no entanto, outro som ecoou pela mata, desta vez mais perto. Dessa vez, até mesmo Alick pareceu assustada, talvez reconhecendo que aqueles não eram sons de animais selvagens, mas sim de passos.

Por precaução, Lyssa sacou sua cimitarra e esperou, pronta para se defender. Não que fosse capaz de lutar contra um inimigo treinado, mas talvez conseguisse ao menos se manter viva por tempo suficiente para que Alick cuidasse de tudo.

A fada sentiu sua magia se agitando, a antecipação crescendo cada vez mais na expectativa do ataque que parecia não vir. Alick, agora, tinha sua espada desembainhada também.

As duas ficaram quase um minuto esperando, encarando a vegetação ao redor, em vão. Vez ou outra, podiam ouvir os sons de passos ao redor, mas não conseguiam ver quem os emitia.

Quando a Ferro-Brasil parecia Prestes a baixar a guarda, uma bruxa saiu correndo de entre as árvores e quase trombou com a lâmina de Lyssa, que se encontrava virada em sua direção. A fada reagiu rapidamente, tirando a arma do caminho enquanto Alick segurava os ombros da bruxa e a encarava nos olhos.

- O que está acontecendo? - Perguntou. A estranha demorou alguns segundos para entender onde estava.

- B-batedores. - Ela falou entre um fôlego e outro. - Batedores élficos na Floresta.

Lyssa engoliu em seco, rezando para ter ouvido errado aquelas palavras.

— Como eles entraram? — Perguntou, buscando na expressão de Alick algo que acalmasse sua mente confusa e amedrontada. Encontrou ali apenas mais confusão.

A Ferro-Brasil suspirou profundamente, erguendo uma das mãos, pedindo que Lyssa permanecesse calada. Parecia que tentava organizar os próprios pensamentos, tentava descobrir como reagir àquela notícia.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora