LXIII. O Elfo e as Bruxas

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Eralyn pôde apenas encarar enquanto a bruxa louca testava seus poderes no soldado que tinham capturado após a breve batalha na planície. Não podia arriscar que ela usasse seu poder nele, tinha que arrumar outra forma de se livrar daquilo.

A fada desaparecera no momento em que Azar das Fura-Coração anunciou que daria início a uma sessão de estudos antes que elas partissem novamente para onde quer que estivessem indo. Quando compreendera a que ela se referia, o guerreiro congelara, fora incapaz de tentar argumentar contra aquela magia negra. Não achava que as bruxas o escutariam, de qualquer forma.

Agora, sentado sobre uma pedra ao lado da bruxa de cabelos negros a quem a fada se referira como Alick, ele observava enquanto a outra matava pequenos animais e performava aqueles rituais estranhos, usando a energia dos mortos para torturar o soldado à sua frente que, preso em seu lugar pela magia de suas captoras, nada podia fazer senão gritar de dor e medo.

Gehr, deitado no chão ao lado de Eralyn, observava tudo com uma expressão tão assustada que seus olhos pareciam prestes a saltar para fora do rosto. O amigo estava em choque, tremia e provavelmente já tinha sujado as calças enquanto assistia àquele show de horrores. O desertor tampouco escondia o quanto estava desconfortável com aquela situação.

Se ousasse desafiar a bruxa, no entanto, corria o risco de terminar ao lado de seus ex-companheiros, como cobaias.

— Por favor, pare! — O guerreiro torturado gritou no momento em que Azar fazia anotações num caderno vazio que encontrara entre os pertences de Gehr. Eralyn não fazia ideia do motivo pelo qual o amigo carregava um caderno consigo, mas aquilo era de menor importância no momento. — E-eu não... AAAAAAAARRRRGGHH!

Ao ser atingido por mais uma leva daquela fumaça negra, o corpo enfraquecido do guerreiro sucumbiu. Ele caiu no chão, desacordado, pequenas garras de fumaça espalhando-se por seu corpo como se ele exalasse aquela coisa negra. Estava morto, percebeu Eralyn.

— V-você o m-matou! — Gehr gritou de seu lugar no chão. Em sua voz, o desespero era palpável. Azar simplesmente deu de ombros.

— Pergunto-me quantas bruxas ele já matou. — Ela comentou, casualmente. Olhando em volta, pareceu perceber o olhar preocupado de Alick e a ausência da fada. — Onde está Lyssa?

— Sabe muito bem que ela não vai ficar aqui assistindo você fazer... — Alick fez uma pausa, como se procurasse a palavra certa para descrever aquilo. — isso.

— Ela não aprova agora, mas aposto que mudará de opinião quando vencermos a guerra com isso. — A Fura-Coração parecia tão certa daquilo que Eralyn sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

Quando vira a marca no braço da bruxa Ferro-Brasil, tivera certeza de que ela era a bruxa que procurava. No entanto, a bruxa, ainda que tivesse em seus olhos o olhar de uma guerreira, não parecia carregar nenhuma arma que pudesse alterar o destino do mundo. Tudo mudou quando Azar Fura-Coração começou a performar seus rituais bizarros à frente de todos. Tudo mudou quando a fada saiu do acampamento alegando que não participaria daquela loucura.

Aquele poder com certeza seria capaz de mudar o rumo do mundo, de dar força demais àqueles que não o mereciam. Se era comparável à magia das Canções Divinas, ele não tinha como saber, mas o assustava que seu inimigo podia extrair a energia dos mortos e usar a seu favor. Assustava mais ainda o fato de que aquela coisa podia moldar-se livremente, dando à Fura-Coração a capacidade de fazer praticamente qualquer coisa.

— Vão matá-lo também? — Eralyn ousou perguntar sobre o destino de Gehr, dirigindo-se a Alick.

— Não há outra opção. — A bruxa respondeu e o guerreiro se esforçou para esconder seu desespero. — Ele é um criminoso, assim como todos esses soldados. Além do mais, se o deixarmos partir, não tardará para que retorne com mais tropas para nos caçar.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora