CXII. Desesperança

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À noite, as bruxas eram teoricamente melhores que os elfos, pois seus olhos podiam ver melhor na ausência de luz. Mas, supôs Asmin, o fogo vindo dos canhões dracônicos e as luzes providas pelos ataques mágicos eram suficientes para que o inimigo se sentisse à vontade para continuar pressionando.

De fato, ter olhos melhores não ajudou as bruxas, e elas continuaram sendo pressionadas e pressionadas por horas, até que a Matriarca começou a ouvir um som estranho à distância. No início, se parecia com o som de uma ventania, mas conforme foram caminhando, ela percebeu que se tratava do som das ondas do mar quebrando contra as praias. Tinham chegado ao mar. Não havia mais para onde fugir.

- Vamos tentar virar para o norte. - Ela disse a Nualla, que lutava ao seu lado. A bruxa não pareceu entender. Foi então que Asmin decidiu sair da formação e seguir até Tília, que observava tudo um pouco atrás da formação. - Ordene que o flanco sul recue mais rápido e que o norte mantenha a posição. Vamos girar o campo.

A bruxa hesitou, percebendo o risco presente naquela estratégia. A manobra, em si, era simples: fazer com que o flanco sul recuasse mais rápido, girando a linha de combate em torno de si mesma e virando os dois exércitos no eixo leste-oeste, ao invés do eixo norte-sul. Mas, caso houvesse qualquer falha em um dos flancos - se o sul recuasse rápido demais, ou se o norte não conseguisse segurar o avanço inimigo -, a linha defensiva ficaria ainda mais frágil e havia sério risco das tropas da Aliança serem cercadas pelos elfos.

Mas não havia outra maneira, entendia Asmin. Se deixassem que a batalha chegasse até o mar, não haveria mais espaço para manobra. E não havia a opção de se renderem, por motivos óbvios.

- Faça logo, antes que seja tarde demais. - A Matriarca deu a ordem final, decidindo ficar para trás da linha de combate para melhor coordenar a manobra.

A mensagem se espalhou rapidamente e, pela graça da Deusa, os primeiros passos foram dados com sucesso. O flanco sul cedeu território rapidamente, enquanto era acompanhado de maneira relativamente eficaz pelo centro. Enquanto isso, o norte segurou com força o exército élfico, fazendo com que o inimigo até recuasse alguns passos.

Tudo ia bem e Asmin sentia-se relativamente contente consigo mesma ao ver que sua ideia talvez não fosse completamente imbecil. No entanto, no momento em que o sul parecia alcançar uma posição favorável, colocando-se no eixo correto, com a ponta mais extrema lutando com os pés na água mais rasa, trombetas de guerra soaram, lançando um calafrio pela coluna da Matriarca.

Mais elfos se aproximava, do nordeste, justamente da área desprotegida que se tornara mais frágil devido à manobra. Agora, o flanco esquerdo da tropa da Aliança estava completamente exposto, e os elfos tinham a oportunidade perfeita para quebrarem aquela resistência fútil ao meio.

Asmin sinalizou para que aquele lado também recuasse, criando assim uma espécie de meio círculo, enquanto tentava impedir que fossem completamente cercados pelo inimigo. Outra trombeta soou, decretando o que seria, provavelmente, o fim daquela batalha.

Vendo a situação desesperadora, os dragões da Cavalaria abandonaram seu combate aéreo e se puseram a bombardear aquele lado do exército élfico, ignorando os dragões inimigos enquanto tentavam frear o avanço esmagador. Mas a Matriarca podia ver com clareza que aquilo só ganharia alguns minutos para que suas bruxas sofressem por mais tempo.

— Os feridos devem continuar fugindo! — Ela gritou para Tília, que imediatamente seguiu para transmitir a ordem. Sacando novamente sua espada, Asmin se lançou ao combate, tentando acreditar que podia fazer a diferença para segurar o flanco enfraquecido.

A ajuda dos dragões definitivamente era bem-vinda, já que eles pareciam estar sendo suficientes para ao menos segurar o avanço do inimigo. Conforme o centro e a direita da Aliança começaram a recuar para tentar alinhar novamente a batalha, os elfos começaram a pressionar com mais força, impulsionados pela possibilidade de acabar com aquele conflito ali, naquela praia.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Where stories live. Discover now