LXX. A Convenção das Águia-Noturna

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— Vejo que decidiu agir, serpente. — Ode cuspiu as palavras. Atenta, como se se preparasse para uma batalha, Asmin observou que Malthus encarava a clareira como se esperasse encontrar alguém ali, mas falhava no mesmo.

— Você não está apta a conduzir esta Aliança, Ode Ferro-Brasil. — A voz de Nualla era doce e calma, falava contra a Matriarca como se estivesse a dar bom dia para suas irmãs de clã. — Estou aqui para desafiar-te pelo posto de Matriarca de todos os Clãs Bruxos.

Ode riu, como se a proposta fosse patética, mas algo em seu olhar denotava uma tristeza que fazia Asmin pensar que a bruxa já esperava por aquilo há algum tempo. Novamente, o olhar da Flor-Invernal foi até o feérico atrás da Matriarca, que sorriu repentinamente, como se tivesse encontrado o que tanto procurava.

Asmin olhou na mesma direção que ele e encontrou ali um grupo de treze bruxas, uma delas tão velha quanto Ode, todas vestidas em mantos parecidos com os da Convenção de Nualla. Ao redor delas, várias damas feéricas e criaturas menores. A Matriarca desafiada pareceu notar, após alguns segundos, aquela nova movimentação.

— Ima Fura-Coração! — Ela chamou pela antiga Matriarca. — Vejo que seu romance com os feéricos finalmente deu certo.

— Ode Ferro-Brasil, pelo direito de liderar a Aliança e tornar-me Matriarca de todos os Clãs Bruxos, posto que eu nunca deveria ter deixado, eu proponho um Desafio! — A Fura-Coração falou alto, para que todos na clareira ouvissem.

Assustada com um repentino movimento à sua esquerda, Ode olhou rapidamente, apenas para ver que seu fiel conselheiro, Malthus Desven, se dirigia para a convenção de Ima. Com o mais puro ódio nos olhos negros, a Matriarca puxou uma faca de sua cintura.

— Que assim seja, traidoras. — Anunciou. — Parece que teremos, pela primeira vez, um desafio triplo.

Asmin olhou para Nualla, ansiosa para perceber sua reação frente à novidade inesperada, mas tudo que viu foi um discreto sorriso. Nada mais mudara em sua expressão. A Águia-Noturna puxo também uma adaga e foi copiada por Ima Fura-Coração. As três bruxas se aproximaram até ficarem a menos de um metro uma da outra. A princesa de cabelos azuis era muito mais alta que as duas mais velhas, mas a Flor-Invernal suspeitava que o poder mágico das rainhas não era algo a se subestimar.

— Sem facas, sem espadas, sem armas forjadas por nossas irmãs ou por qualquer outra criatura. — Ode parecia recitar um poema decorado. Já participara daquilo antes, afinal. — Lutamos apenas com as armas que a Deusa nos deu: magia, unhas e dentes; até que duas de nós desistam, ou fiquem incapacitadas.

Ima Fura-Coração sorria, sua adaga reluzia tanto quanto seus olhos quase tão negros quanto os de Ode. Nualla mantinha a postura tranquila, como se quisesse mostrar àquelas bruxas que elas eram pequenas pedras que ela chutaria para longe de seu caminho.

— Firmamos aqui um pacto de sangue, sagrado sob os olhos da Deusa e traçado com a magia por ela nos dada. — As três falaram em uníssono enquanto abriam com as adagas um corte em suas mãos esquerdas. — Que a melhor vença e as derrotadas ajoelhem-se.

Elas deixaram que seu sangue caísse sobre um pequeno ponto no chão, irrigando a terra com aquela magia. Não havia retorno agora, percebeu Asmin. Só sairiam dali quando tudo estivesse acabado.

As bruxas se distanciaram novamente, andando para trás uns três metros, antes de pararem e encararem umas às outras. Ode fez o primeiro movimento, lançando uma rajada de ar quente na direção de Nualla e Ima. Ela tentaria derrotar ambas ao mesmo tempo, provavelmente para mostrar o quão poderosa era.

A princesa Águia-Noturna não perdeu tempo e se abaixou, recitando um encantamento rápido e se protegendo do ataque inicial com uma barreira que brilhava prateada como a lua. Ela traçou um círculo no chão e desenhou pequenas marcas — runas — à frente e atrás, um círculo protetor, usado em duelos de magos.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora