LXVI. Herança

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Lyssa estava voando.

E que sensação maravilhosa era!

O vento gelado batendo em todas as partes de seu corpo, àquela altura que ela só pudera sonhar em alcançar até então. Atrás de si a lua cheia brilhava alto no céu, iluminando a planície abaixo com um veio prateado maravilhoso.

Ela sabia que deveria retornar ao acampamento, que deveria estar com Azar e Alick, ajudando-as a vigiar aqueles elfos, mas a liberdade daquele voo era inebriante, não podia abandonar aquela sensação. Não podia retornar.

Com velocidade e agilidade, a fada voou por entre as esparsas árvores enquanto observava os pequenos animais que habitavam a mata, que saíam para caçar durante a noite. Observou a magia e seus laços, seus fluxos, magia que existia em todos os lugares, viva e vibrante. Muito diferente daquela coisa com que Azar agora brincava. Lyssa afastou aquele pensamento, não queria pensar na Fura-Coração e sua magia negra.

Tudo parecia fazer mais sentido do alto, a forma como a magia funcionava, como ela fluía de um ser para o outro da mesma forma como um rio flui das regiões mais altas para as mais baixas. Era quase hipnotizante, cada sentido da fada vibrando junto àquela sensação maravilhosa de estar no alto, de estar finalmente livre.

Lyssa vagou pelo céu noturno por mais tempo do que ela se preocupou em contar. Não haviam limites, agora que ela podia ir mais alto e mais rápido que qualquer outra criatura. Talvez uma hora tivesse se passado, talvez duas ou três. Talvez dias tivessem corrido diante de seus olhos, mas o sol não se importunara em sair de sua toca noturna para iluminar a Terra. Mas ela não se importava. Estava extasiada por aquela sensação que parecia não querer recuar em momento algum.

Perdida em seus sentidos, a fada parou somente quando seus olhos captaram algo que era estranho à paisagem. Não era nenhum dos animais que costumavam vagar pela noite, mas sim uma forma élfica que caminhava lentamente por entre as rochas, sua magia poderosa brilhando na paisagem como um farol na escuridão.

Aproximando-se cautelosamente, a jovem alada percebeu que a presença estranha era uma fêmea élfica que agora a encarava com interesse e divertimento no olhar. Os belos cabelos dourados encaracolados, os olhos prateados como a luz da lua, aquela magia inquietantemente poderosa, faziam com que Lyssa hesitasse em se aproximar.

Mas ela o fez, pousando suavemente cerca de três metros distante da fêmea. Não podia se arriscar ficando perto demais. Se a estranha atacasse, tinha que ter tempo para se defender, ainda que sentisse não ser páreo para aquela quantidade de poder.

— Olá, Alteza. — Cumprimentou a elfa, sua voz doce e calma parecia aquecer o ambiente.

— O-olá. — Lyssa respondeu hesitantemente.

— Fique tranquila. — A estranha se aproximava, um passo depois do outro. — Não estou aqui para machucar-lhe.

— Q-quem é v-você? — A fada sentia seu fogo se agitando, pronto para defendê-la contra qualquer ameaça. — E por que me chama de alteza?

— Eu sou... — falo, pausadamente — uma amiga.

— É uma elfa. —  Lyssa retrucou, deixando que suas chamas ganhassem vida. Talvez conseguisse assustá-la o suficiente para que fosse embora, a deixasse em paz. Em resposta, a elfa sorriu e inclinou a cabeça para o lado, como se lhe fosse divertida a atitude da fada.

— Não a trouxe aqui para ameaçar sua vida, Lyssa. — Com um gesto da mão, a fada sentiu sua magia ser reprimida conforme a da elfa apagava a chama que serpenteava em sua mão.

Incrédula, a jovem apenas encarou o local onde antes suas chamas queimavam. Ela então encarou a estranha, perguntas demais passando por sua mente de forma que ela sequer sabia por onde começar.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora